PAGAMENTOS SECRETOS
Para que São Tomé e Príncipe pudesse votar no candidato português a diretor-geral da Organização Internacional das Migrações, o Governo pagou a estadia e as despesas do diplomata são-tomense em Genebra. A despesa foi detetada pela inspeção do MNE.
Governo suportou a estadia do embaixador são-tomense que foi votar em Vitorino para a OIM
Ao longo de mais de seis meses, o Governo português tinha mobilizado a máquina diplomática no apoio a António Vitorino para o cargo de diretor-geral da Organização Internacional das Migrações (OIM). Por isso, quando a 29 de junho de 2018 o antigo comissário europeu foi eleito, por aclamação, após quatro rondas de votações em que foi sempre o candidato mais votado, as reações de satisfação não se fizeram esperar. Do Presidente da República ao primeiro-ministro, do presidente da Assembleia da República ao ministro dos Negócios Estrangeiros, todos felicitaram calorosamente António Vitorino e a ação da diplomacia portuguesa. Nas palavras de Augusto Santos Silva, essa foi “mais uma prova do reconhecimento internacional de que Portugal goza nestes dias”.
No entanto, a eleição não resultou apenas desse reconhecimento. De acordo com as conclusões de um relatório da Inspeção-Geral Diplomática e Consular (IGDC) do MNE ao fun200 cionamento da missão de Portugal junto da ONU, em Genebra, então liderada por Pedro Nuno Bártolo, a que a SÁBADO teve acesso, pelo menos um dos votos terá sido conseguido graças ao pagamento da estadia e de outras despesas do representante de São Tomé e Príncipe na capital suíça.
Na análise às “contas relativa às despesas decorrentes da candidatura ao cargo de diretor-geral da OIM”, os inspetores encontraram gastos que não “eram consentâneos” com o objetivo – como um roupão, produtos de beleza, uma pistola de água, detergentes e lâminas de barbear – e outras sem fundamento legal.
Entre estas últimas estavam duas despesas descritas como “apoio financeiro à estadia do embaixador Luís de S. Tomé e Príncipe”. Uma era o “recibo de um talão de pagamento por cartão de crédito do hotel Ibis Genève Centre Nations”, com data de 27 de junho de 2018, no valor de 690 francos suíços (cerca de 600 euros) e um talão de levantamento de euros, com data de 30 do mesmo mês, acompanhado por um documento manuscrito, sem data, com a menção “recebi” e uma “assinatura de que se desconhece o subscritor”.
A lista de participantes na sessão do conselho da OIM, na qual Vitorino foi eleito, indica que o representante de São Tomé e Príncipe foi o embaixador Luís Vaz de Sousa Bastos, diretor das Comunidades e Assuntos Consulares do Ministério dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades.
Questionado pela SÁBADO sobre o pagamento das despesas do representante de S. Tomé e Príncipe, António Vitorino reagiu com surpresa: “A minha campanha não foi andar a comprar votos. Pedi-os a todos os países, mas não em função de qualquer contrapartida. Não tive nenhum envolvimento nesses assuntos e nem sei se S. Tomé votou em mim, embora espere que sim. O MNE é quem poderá responder melhor.” Questionado também sobre as eventuais implicações que o conhecimento
Mandato
António Vitorino iniciou a 1 de outubro de 2018 um mandato de cinco anos à frente da OIM
“NÃO TIVE NENHUM ENVOLVIMENTO NESSES ASSUNTOS. O MNE PODERÁ RESPONDER”, DIZ ANTÓNIO VITORINO