António Almeida Henriques (1961-2021)
“SE O PAÍS JÁ TIVESSE FEITO A REGIONALIZAÇÃO, PROVAVELMENTE NÃO ERA TÃO ASSIMÉTRICO COMO É”
Regionalista convicto, o presidente da câmara de Viseu queria tornar a sua cidade mais forte. A Covid-19 interrompeu-lhe o segundo mandato. Morreu no domingo, aos 59 anos
Festinhas e paliativos” era como Almeida Henriques, insatisfeito com a desertificação do seu distrito, classificava os incentivos lançados pelo Governo para fixar pessoas no Interior. Em vez de bolsas e benefícios fiscais para quem fosse para lá estudar, o autarca defendia um choque fiscal, uma task force para fomentar o investimento empresarial e uma ampliação da cobertura digital, deficiente na região, para captar os jovens.
A parte da cobertura digital foi sendo cumprida. Era o primeiro passo para transformar Viseu na Smart City – cidade sustentável, com mais eficiência energética, menos poluição e melhor gestão de recursos, apoiando-se nas tecnologias de informação – que ele idealizava. Não por acaso, era também presidente da secção de Smart Cities da Associação Nacional de Municípios Portugueses.
Em paralelo batia-se pela descentralização, a par da regionalização. “Se o País já tivesse feito a regionalização, provavelmente não era tão assimétrico como hoje é. Sou um regionalista convicto”, afirmou ao semanário Sol em 2019.
É claro que havia um travo de oposição política nestas suas convicções: Almeida Henriques, comendador da Ordem do Mérito Industrial, atribuída em 2006 por Jorge Sampaio, sempre foi social-democrata. Mas não só: também sentia que, sistematicamente, o poder central esquecia as suas promessas – o dinheiro para a limpeza das florestas e da prevenção dos fogos, por exemplo, não chegava – e deixava a sua amada região centro entregue à sua sorte.
A sua missão, afirmava, era fazer de Viseu um concelho líder no centro do País e influente ao nível nacional. Lutou, por exemplo, pela modernização da Linha da Beira Alta, investimento de 57 milhões a decorrer atualmente. De resto, a mobilidade era uma das suas grandes apostas: implantou um projeto urbano, com articulação de redes de autocarros e ciclovias, novos parqueamentos e um (futuro) transporte autónomo, sem condutor, movido a energia elétrica e inteligência artificial.
Contudo, nem todos os seus projetos foram igualmente bem recebidos: a cobertura do Mercado 2 de Maio (para o transformar num centro de restauração), iniciada em fevereiro, foi muito criticada por dirigentes culturais, historiadores e arquitetos.
Social-democrata sempre
Natural de Viseu, formado em Direito e com carreira empresarial (ligada à indústria, dirigindo diversas organizações do setor) paralela à política, António Almeida Henriques, casado e pai de três filhos, aderiu ao PSD na juventude e foi deputado da Assembleia da República nos anos 80 e 90, vice-presidente do grupo parlamentar do seu partido, de 2005 a 2007 e de 2010 a 2011, e secretário de Estado Adjunto da Economia de Passos Coelho, cargo que deixou para se candidatar à presidência da câmara.
Muito provavelmente voltaria a ser eleito – como em 2013 e 2017 – nas eleições autárquicas do próximo outono. Pelo menos, o PSD integrou-o na lista de candidatos divulgada a 3 de março. No dia seguinte testou positivo à Covid-19 e, a 7, foi internado no Hospital de São Teotónio, morrendo de complicações decorrentes do vírus na manhã de domingo, 4 de abril. W