SÁBADO

O HOMEM MAIS RICO DO PAÍS E A SUA HERANÇA

Fez o primeiro testamento em 1974, muito antes de pensar numa Fundação. Protegeu as filhas, duas netas e quis evitar guerras de herdeiros.

- Por Ana Taborda e Bruno Faria Lopes

Luís Champalima­ud não teria mais de 7 anos quando o pai marcou uma reunião familiar peculiar. Além dos herdeiros, o milionário convocou um professor de Direito para explicar à família o que era uma holding e como funcionava a Bolsa. A divisão do imenso património que tinha foi sempre uma preocupaçã­o para o homem que era dono de uma das maiores fortunas da Europa. António Champalima­ud fez o primeiro testamento em 1974 e corrigiu-o pelo menos 16 vezes em 20 anos. Ainda assim, a maior surpresa (se descontarm­os a criação de uma Fundação para a qual destinou 500 milhões de euros) não ficou escrita.

Quando se soube que o milionário tinha morrido, a família foi contactada pela advogada de uma oitava filha. Mariana (a SÁBADO revelou o seu nome em 2016) exigia que um teste de ADN comprovass­e se era, ou não, filha de Champalima­ud. Seria Manuel a aceder ao seu pedido e a abrir a porta a um acordo que lhe deu o direito a 60 milhões de euros. A doação, suportada pelos filhos e netos do milionário (com exceção de Manuel, o mesmo que aceitou fazer o teste de ADN) foi negociada com o advogado Daniel Proença de Carvalho e foi subindo de valor – começou em 45 milhões. Champalima­ud facilitara a divisão: em 1999, quando começou as negociaçõe­s para vender o grupo, foi transforma­ndo o património em liquidez. Queria evitar uma nova guerra entre herdeiros, como a que acontecera com o caso Sommer, que o levou a exilar-se no México

Um leilão de arte em Londres

O testamento foi lido três dias depois da sua morte, no palacete da Lapa de onde antes do 25 de Abril conseguira retirar grande parte da sua coleção de arte – em vez de originais, as paredes ganharam reproduçõe­s de quadros famosos. E foi também por isso que em julho de 2005 muitos herdeiros puderam voar até Londres para participar num leilão de arte que rendeu mais de 50 milhões de euros. As peças mais caras foram compradas pela família. A filha Cristina ficou com dois quadros de Canaletto, um dos pintores preferidos do pai, por 2,6 milhões de euros.

E se o leilão de arte foi uma solução engenhosa para evitar disputas entre os filhos, nem tudo foi pacífico na divisão da fortuna. Duas das netas tiveram direito a 3% do património. A decisão de beneficiar Mariana e Mafalda, que chegaram a viver com ele, com quem andava a cavalo e que ensinou a conduzir, gerou um conflito neste ramo. A mãe, Cristina, não gostou que dois dos seus quatro filhos tivessem sido preteridos.

A fortuna de Champalima­ud incluía ainda várias propriedad­es, muitas doadas em vida aos filhos. Um sorteio de especialis­tas ditou a avaliação dos imóveis e um equilíbrio do montante a que cada um dos filhos teve direito. Só uma propriedad­e se manteve por dividir: a Cabo Raso Sociedade de Empreendim­entos Turísticos, que gere 200 hectares no Guincho. Com terrenos em zona protegida, quase não tem valor comercial. W

UM TESTE DE ADN TROUXE MAIS UMA HERDEIRA À FORTUNA. MARIANA, A OITAVA FILHA, RECEBEU 60 MILHÕES

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António Champalima­ud morreu em casa, aos 86 anos, em 2004. O testamento foi lido dias depois
g António Champalima­ud morreu em casa, aos 86 anos, em 2004. O testamento foi lido dias depois

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