A festa santa
A Páscoa parece pretender ser uma Festa Santa, mas não deixa de ser apenas um ovo gigante do tamanho do universo, mas com um recheio de infelicidade, injustiça, maldade, crime, fome, abandono, perseguição, matança pelo mundo onde ela se celebra, dá-se-lhe relevo comercial e silencia-se a miséria. Fazem-se promessas de prosperidade e votos de bem-estar uns aos outros, para de seguida cada um pensar em si e na sua gastronomia. As pessoas juntam-se aos magotes à entrada das superfícies comerciais e é um espetáculo ver sair carrinhos com sacos a abarrotar de necessidades e de inutilidades de onde irá sobrar o que a muitos irá faltar para aconchegar o estômago e as famílias que penam. É uma festa sagrada ou disfarçada de falsa fartura, de doçaria. Mas é uma festa louvada por políticos e agentes comerciais, que quanto mais ganham logo querem mais. Estão “todos em crise”, à exceção dos pobres de sempre, que nem por esta época são bafejados por milagre santo, que dessa condição os salve. (...) A Páscoa é isto – uma festa em azáfama, correria para a luxúria, votos cobertos de cinismo, pobres cheios de amargura à procura de cama e mesa. Páscoa é qualquer coisa ainda sem grande explicação e dádiva de conforto (...).