SÁBADO

A festa santa

- Joaquim A. Moura Penafiel

A Páscoa parece pretender ser uma Festa Santa, mas não deixa de ser apenas um ovo gigante do tamanho do universo, mas com um recheio de infelicida­de, injustiça, maldade, crime, fome, abandono, perseguiçã­o, matança pelo mundo onde ela se celebra, dá-se-lhe relevo comercial e silencia-se a miséria. Fazem-se promessas de prosperida­de e votos de bem-estar uns aos outros, para de seguida cada um pensar em si e na sua gastronomi­a. As pessoas juntam-se aos magotes à entrada das superfície­s comerciais e é um espetáculo ver sair carrinhos com sacos a abarrotar de necessidad­es e de inutilidad­es de onde irá sobrar o que a muitos irá faltar para aconchegar o estômago e as famílias que penam. É uma festa sagrada ou disfarçada de falsa fartura, de doçaria. Mas é uma festa louvada por políticos e agentes comerciais, que quanto mais ganham logo querem mais. Estão “todos em crise”, à exceção dos pobres de sempre, que nem por esta época são bafejados por milagre santo, que dessa condição os salve. (...) A Páscoa é isto – uma festa em azáfama, correria para a luxúria, votos cobertos de cinismo, pobres cheios de amargura à procura de cama e mesa. Páscoa é qualquer coisa ainda sem grande explicação e dádiva de conforto (...).

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