Conheça Mário Santos, que trabalha como doula, a ajudar nos partos
O sociólogo acompanha os partos e faz aconselhamento sobre a gravidez, amamentação e sexualidade.
Há quatro anos, quando chegou a altura de ser pai, quis que a filha nascesse no sofá da sala. E no ano passado, a segunda bebé veio ao mundo no mesmo sítio. “A escolha do local para o trabalho de parto depende muito da configuração da casa e nem sempre o quarto é o ideal porque pode não ter espaço para a liberdade de movimentos ou pode não ficar perto da casa de banho. Há pessoas que escolhem dar à luz na banheira”, conta Mário Santos, de 36 anos, que é doula desde 2018 e o único em Portugal.
Quando fez a tese de doutoramento em sociologia sobre as dinâmicas profissionais e organizacionais do parto em casa, acabou por fazer formação de doula. E o que é que isso significa? “Uma doula não faz o parto. Está presente mas nunca para o executar porque isso cabe aos profissionais de saúde. Ser doula é fazer consultoria na gravidez e no parto, é dar um apoio abrangente consoante as necessidades. No meu caso, ajudo as famílias a construir um plano sobre o que fará ou não sentido o casal pedir, seja no hospital ou em casa.” E o que é que as pessoas pedem? “Por exemplo, querem ter contacto pele com pele, que o cordão umbilical não seja logo cortado, amamentar imediatamente após o parto”, revela
Mário, que é de Arruda dos Vinhos e trabalha como investigador na Escola Nacional de Saúde Pública.
Quando fez a formação de doulas, um dos requisitos era ser mulher, mas isso foi ultrapassado. Apesar de ter sentido alguma resistência por parte de algumas pessoas do curso, hoje isso já não é uma questão: “Havia quem se sentisse desconfortável com a presença de um homem, mas foi interessante desconstruir isso. Há muito a ideia de que as questões da gravidez, do parto e do cuidado do bebé são exclusivas
“HÁ MUITO A IDEIA DE QUE AS QUESTÕES DA GRAVIDEZ E DO PARTO SÃO EXCLUSIVAS DAS MULHERES”
das mulheres e tem sido interessante ver as reações quando veem um homem barbudo a falar disto.”
Apoio emocional e massagens
Para um parto em casa, Mário explica que as pessoas têm de reunir uma equipa de profissionais, que inclui obrigatoriamente uma enfermeira especialista em saúde materna e obstetrícia, e um ou uma doula, se essa for a opção. O seu papel é dar apoio emocional e físico, como massagens. Também há quem queira ter um fotógrafo de partos para registar o momento. “No total, a despesa de ter um bebé em casa não varia muito do que se paga num hospital privado”, diz Mário.
Mas o que leva uma mulher a ter um parto em casa? O especialista explica que o importante é dar às pessoas o direito de escolher como querem que esse momento aconteça. “Com a pandemia tem havido mais interesse pelo parto em casa. Sobretudo porque alguns hospitais não permitiam que o pai assistisse.” Mário Santos acrescenta que quem opta por partos em casa “são pessoas que têm uma atitude de reflexividade na sua vida, procuram uma alimentação saudável e formas de consumo mais sustentáveis. E que planeiam tudo ao detalhe”. W