Pedro Marta Santos
SE HANNIBAL LECTER TIVESSE
nascido, não no Nordeste da Lituânia mas no Seixal, daria um óptimo candidato autárquico. As escolhas das concelhias do PSD para as Câmaras da Amadora e de Portimão reforçam esta probabilidade. Senão vejamos: a doutora Suzana Garcia, comentadora de assuntos criminais na TVI, foi a candidata sugerida pelas bases para ir a votos na Amadora. Ora, Lecter é um reputadíssimo criminologista, que não se fica pela teoria – ele ajudou o FBI a capturar vários assassinos em série. Hannibal é um homem de acção. Não se limita a defender a castração química dos pedófilos como a doutora Garcia. Desfigura-os e torna-os paraplégicos, eliminando a hipótese de reincidência (perguntem a Mason Verger, o multimilionário pedófilo que Hannibal enfiou numa cadeira de rodas). Pouca gente sabe que Lecter tem um dedo médio extra na mão esquerda (uma anomalia anatómica chamada polidactilia): é o dedo para a política. O facto de ser um serial killer não deve constituir um handicap. Uma das qualidades fundamentais de um político é o killer instinct.
Se as concelhias sociais-democratas também acolhem de bom grado a candidatura de Luís Carito, ex-vice-presidente da Câmara de Portimão, a esta autarquia, Hannibal “The Cannibal” Lecter – imortalizado no rosto, tom de voz e maneirismos de Anthony Hopkins na adaptação de O Silêncio dos Inocentes de Thomas Harris por Jonathan Demme em 1991 – seria um superior pretendente à edilidade. Carito é médico de carreira, mas Lecter é psiquiatra forense, munido assim de uma compreensão aguda do cérebro dos munícipes e pronto a dissecar os crimes urbanísticos da Praia da Rocha. Se Luís comeu uma notificação judicial das mãos de um inspector da PJ em 2013, Hannibal anda a comer agentes do FBI desde os anos 70. Não se fica pela papelada, mete as mãos na massa (e a massa nas mãos, acompanhadas por um bom Amarone della Valpolicella tinto). Num País de boa comida e melhor bebida, nenhum candidato supera a voracidade gourmet do doutor Lecter. Quem apreciaria com mais palato uns fígados de cebolada (de um inspector camarário) com favas guisadas e uma boa garrafa de Chianti – perdão, de Barranco Longo?
Até Rui Rio concordará que os candidatos estrelados do PSD às eleições de Setembro/Outubro devem ser homens de sólida cultura, capazes de digerir a efervescência criativa das cidades que pretendem liderar. Ao contrário de Carlos Moedas, Lecter, que cita os clássicos de cor, foi administrador da Orquestra Filarmónica de Baltimore e viveu num palácio em Florença, saberia aferir a beleza venusiana de Monica Bellucci aos 56 anos, jamais confundindo Michael Fassbender com Rainer Werner Fassbinder (até porque o doutor lituano-americano sabe distinguir os mortos dos vivos; é uma questão de apetite). O facto de Hannibal ser uma personagem de ficção é secundário. Afinal, Moedas, Garcia e Carito são quase bons demais para serem verdade. W