LIBERDADE JUVENIL: OS PLANOS E OS SONHOS APÓS O CONFINAMENTO, DOS 15 AOS 18 ANOS
Um pôr do sol na praia, correr, dançar, viagens de finalistas. Programas que antes davam por garantidos agora são contados à SÁBADO como sonhos (em breve realizáveis).
Sentem-se parados no tempo, revelam dificuldades no ensino à distância, alguns sofrem de ansiedade (suores frios e dores de cabeça). Fartos de andarem de pijama por casa, fazem a contagem decrescente até à próxima segunda-feira, dia 19, data de reabertura das escolas secundárias. Se há um lado bom nisto tudo, a psicóloga especializada em jovens Bárbara Ramos Dias assinala qual: “Os jovens estavam habituados ao imediatismo, agora aprenderam a lidar com a frustração. É difícil? Claro que sim.” A SÁBADO falou com 10 deles, dos 15 aos 18 anos, sobre a liberdade que lhes foi cortada. O que vão fazer quando a recuperarem? São tão sonhadores “como nós éramos nas idades deles”, prossegue a especialista. Ou seja, música, festivais, convívios e viagens continuam nos planos.
15 anos Sofia Campos “Vou fazer um piquenique na praia”
h Se o tempo deixar, e espera que sim, a aluna com média de 17 vai celebrar o desconfinamento entre poucos amigos – e de forma cautelosa. Agendaram para sexta-feira à tarde (dia 23), após as aulas, um piquenique na praia de Carcavelos. O local foi escolhido pela proximidade do comboio; a comida é o que menos importa. “Queremos ver o pôr do sol.” Sentir a aragem da esplanada à beira-mar é o programa seguinte, quando Sofia fizer 16 anos, a 2 de maio. Até à data, o PC é a melhor
janela, seguindo as modas dos youtubers e bloggers, como as receitas de lanches saudáveis e ideias de roupa para andar por casa. “Também vejo tutoriais, são uma boa inspiração.” Sendo metódica e altruísta, a estudante no 10º ano na secundária do Restelo, em Lisboa, ambiciona seguir Medicina. “Adoro crianças e gostava de ser pediatra.” Dá como exemplo quem está na primeira linha de combate à Covid-19.
Joaquim Vasconcelos “A minha primeira prova de triatlo será a 16 de maio”
h A Cova da Moura fica a 200 metros da casa dos pais. Joaquim Vasconcelos descreve o bairro como “enorme, cheio de labirintos”, mas não se atreve a entrar lá. Vive na Damaia desde que nasceu e dedica-se ao triatlo – modalidade em que é federado. Com o desconfinamento, poderá finalmente retomar os treinos em grupo de natação, bicicleta e corrida. “A minha primeira prova de triatlo de 2021 será a 16 de maio, em Oeiras, com 30 participantes do primeiro escalão.” A longo prazo, pensa licenciar-se em Química ou Biologia. Nunca foi tentado pela marginalidade: “Mas há tráfico perto.” Uma vez, na escola, um colega de turma mostrou um vídeo em que exibia uma arma. Noutra situação, tentaram assaltá-lo. Tremeu de medo, mas como não levava nada, escapou ileso. Ainda assim, qualifica o ensino à distância de “horrível”: “É muito mais difícil aprender.” Quer voltar ao regime normal, “o maior Q
“TENHO ESPERANÇA DE QUE HAJA CONDIÇÕES PARA VIAJAR”, DIZ ANA RITA, QUE SONHA COM CABO VERDE
Q desejo é que isto acabe e gostava de viajar”. É no centro de explicações Génios & Traquinas, na zona, que vai consolidando a matéria (via online) e fazendo planos. Não hesitaria em pegar nas suas poupanças e rumar a um destino paradisíaco. “Se o mundo acabasse amanhã, iria para um recife de corais e faria mergulho.” Os documentários da Netflix e da BBC ajudam-no a sonhar acordado.
16 anos Ana Rita Mateus “Penso muito na viagem de finalistas ”
h Dança, música e festivais são a maratona de sonho para Ana Rita Mateus, que, como qualquer adolescente, anseia por estes eventos. Se é para desfrutar, que seja em Coachella Valley Music, na Califórnia (cancelado), Estados Unidos, onde em 2018 Beyoncé deu um concerto que lhe valeu o epíteto Beychella. O vestido esvoaçante e as sandálias fariam parte do guarda-roupa de Ana Rita para a ocasião. De acessórios, levaria uns brincos com o formato de abelhas, “porque a Beyoncé é conhecida por Queen B [bee, abelha]”, conta. Enquanto não pode sair, a estudante do 11º ano ensaia em casa, durante a tarde, o repertório de Beyoncé e de Burna Boy. “É o que me tem animado. Tenho esperança de que haja condições para viajar. Penso muito na viagem de finalistas.” Onde? “Cabo Verde, onde os alunos do colégio costumam organizar.” Terminada a pandemia espera dedicar-se ao ioga e à dança, que lhe servem de catarse.
Afonso Ferreira Antunes “Quero abrir a minha pastelaria em Cascais”
h Alimentos cortados depressa e bem, fogão à temperatura certa, cozinhados no ponto, limpeza
- até a postura, sempre direita. Afonso treina para ser chef desde setembro de 2019, na Escola Profissional Agostinho Roseta, em Lisboa. Quando terminar o curso, em 2022, pondera um de dois caminhos: prosseguir os estudos ou trabalhar. Admite comer muitos doces, não só os da formação – está no módulo de doçaria portuguesa – como as panquecas que a irmã prepara de manhã. Por tudo isto, o caminho natural passará por bolos: “Se tudo correr bem, quero abrir a minha pastelaria. Uma primeira loja seria perto de casa, em Cascais, depois em Lisboa.” Até lá, aproveita a praia: “Quando desconfinar, vou fazer bodyboard e skimboard.”
Pedro Ferreira de Castro “A minha ambição é ser primeiro-ministro”
h República de Headphones éo seu podcast de comentário político; E tudo a Pandemia Levou o ensaio sobre a situação mundial; a presidência da associação de estudantes uma espécie de estágio. É no liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, em Lisboa, que Pedro põe em prática as ideias. A partir de dia 19, promoverá a revisão dos estatutos da associação, “pouco explícitos” e com “muitos casos omissos.” Em simultâneo, organizará uma semana do voluntariado à escala de nove escolas. Trabalha agora numa nova rubrica do podcast, a estrear em breve. Chama-se Copo Com, aludindo ao Copcon (Comando Operacional do Continente), no qual fala com “uma figura de relevo da sociedade”. Com tantos planos, já sabe qual o curso a seguir: Direito, na Universidade Católica, pela taxa de empregabilidade (99%). Tenciona depois exercer magistratura. “Vejo a
Operação Marquês como uma das tragédias da Terceira República”, diz. Talvez um dia crie um partido conservador liberal, “financiado por fontes credíveis”. Por fim, revela o maior sonho: “A minha ambição é ser primeiro-ministro.”
Beatriz Lopes “No dia 19, faço 10 meses de namoro”
h O regresso às aulas presenciais coincide com outra data especial para Beatriz Lopes. “No dia 19, faço 10 meses de namoro. Ele é da minha escola [liceu Dona Filipa de Lencastre].” O programa a dois inclui, depois da escola, caminhada a pé por Lisboa. Segue-se um jantar, oferecido por ele. “Gosto de pagar as minhas coisas, mas sabe-me bem o cavalheirismo.” Na primavera de 2022, prevê que o namorado já tenha a carta de condução – ambos atingem a maioridade em setembro, ela dia 1 e ele dia 11 – e vão passear. “Gostávamos de preparar uma viagem de carro.” Destino (relativamente próximo): Barcelona.
Visitarão museus, jardins, a célebre casa Milà de Gaudí. Na ocasião, Beatriz dará seguimento ao gosto herdado do avô materno e da mãe: fotografia. A sua máquina é o telemóvel (iPhone XR), onde tem 10.113 imagens.
18 anos Henrique Pires “Estou a encenar um musical sobre Michael Jackson”
h Por definição é um “show man”, diz. Mesmo afastado dos palcos pela pandemia, Henrique Pires continuou em processo criativo, estudando as peças da Escola Profissional de Teatro de Cascais, onde entrou em 2019. Fará de protagonista numa, o serial killer Roberto Zucco, a estrear em maio. Desafiado pelo colega Pedro Guerreiro, 16 anos, aceitou o projeto fora do âmbito escolar: “Estou a encenar um musical sobre Michael Jackson, de meia hora. Faço a composição do espetáculo e a seleção da banda sonora”, explica. Thriller (1982) é um dos pontos altos, assim como o deslizar dos pés no chão (o passo moonwalk). Pedro é quem imita o falecido rei da pop. Treinou durante seis meses com os fones, até acertar nas coreografias. A roupa foi outro desafio, até que descobriram um casaco réplica na Amazon (€70) e uns sapatos quase iguais aos do videoclip no AliExpress (€30). Para ver no auditório do Instituto Português do Desporto e da Juventude, em Lisboa, no início do verão (data por determinar).
Joana Cravo “Gostava de lançar o álbum de estreia em 2022”
h Como tantos outros artistas, Joana Cravo habituou-se às sucessivas negas. Foi no final do ano passado que a carreira descolou: “Entrei para uma agência de artistas e abriram-se portas.” Cantou em vários programas de TV, lançou dois singles no YouTube (Bye,
Bye, Bye e Onde Vais), escreveu uma música por dia – até preencher todo o caderno de notas. Falta-lhe gravar um videoclip do tema Clima, algures em Colares (Sintra) quando terminar o confinamento. “Gostava de lançar o álbum de estreia em 2022.” Tendo como referências Ariana Grande, Demy Lovato ou Christina Aguilera, a nova promessa espera aumentar a base de fãs (tem cinco páginas nas redes sociais) e um dia, quem sabe, fazer um Coliseu de Lisboa até chegar ao Altice Arena. Sempre a cantar em português.
Raquel Rodrigues “Fui selecionada para um estágio no estrangeiro”
h A qualquer momento, Raquel Rodrigues terá a confirmação para voar com destino a Espanha, França, Alemanha, Inglaterra ou Irlanda. “Fui selecionada para um programa de estágio de um mês, num país da União Europeia.” Teoricamente, iria estagiar na área da programação em julho e os voos já deveriam estar marcados. Mas, dadas as contingências da pandemia, não sabe se o fará em breve. “Iria ficar muito desiludida se fizessem os estágios online.” W
PEDRO GUERREIRO TREINOU OS PASSOS DE MICHAEL JACKSON DURANTE SEIS MESES. ESTÁ QUASE A EXIBI-LOS