Pedro Marta Santos
PAI IVO QUE ESTÁS no Ticão, santificado seja o Vosso nome de padroeiro do debate instrutório (e benzido seja o nome dos canonizáveis Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, Ricardo Salgado, Carlos Santos Silva, Armando Vara, Joaquim Barroca, Rui Miguel Horta e Costa, José Paulo Pinto Sousa, Sofia Uva, daquele empresário luso-angolano com apelido de boîte do Nordeste brasileiro, do chauffeur dos sacos carregadinhos daquilo que eu gosto “mas ó pá, não fales disso ao telefone” e de mais arguidos do que o Céu alberga arcanjos, ou albergará), venha a nós o Vosso reino da fantasia do Ministério Público – e dos indícios mais fortes do que os dentes daquele senhor do anúncio da pasta medicinal Couto, dos testemunhos beatificados e jamais feridos do pecado da autoincriminação, e da crença sagrada na amizade, na inocência humana, no bom samaritano, no coração de manteiga do Godzilla e na fofice do coelhinho da Páscoa; seja feita a Vossa vontade de pôr orelhas de burro no Rosário Teixeira e deixar fluir 32,3 milhões em numerário entre gente de bem, assim no seizième arrondissement como na Braancamp; das fotocópias de cada dia nos ilibes hoje.
Perdoai as nossas ofensas prescritas, assim como nós perdoámos a posse de arma proibida ao senhor Perna (recomendável em motoristas diligentes) e o abuso de confiança do senhor Salgado (próprio dos ingénuos e pios); e não nos deixais cair em tentação de sonhar que os “contornos obscuros” dos milhões transferidos pelo banqueiro para a conta de Santos Silva eram algo mais do que a sombra de palmeiras no Panamá ou o fresquinho dos guarda-sóis num areal das Ilhas Caimão (muito menos de sugerir que o produto putativo de uma eventual actividade ilícita deveria ser declarado ao Fisco, porque qualquer cego – mesmo o de Jericó antes de Jesus lhe abrir os olhos – está mesmo a ver que o dito produto ficaria isento de impostos); mas livrai-nos do mal, do Carlos Alexandre, de provas insuficientes de actos corruptos (a não ser que sejam gritadas pelo arguido ao microfone no palco do NOS Alive face a 10 mil testemunhas) e dos jornalistas do Observador, do Público e do Correio da Manhã, que persistem há seis anos e meio em acusações absurdas, injustas e infundamentadas, impedindo um autor consagrado de filosofia política de se candidatar à Presidência da República. W