100 DIAS DE BIDEN
Covid-19, guerra no Afeganistão, Rússia, a ameaça chinesa e todos internos. O que fez o novo braço de ferro com a os velhos problemas Presidente dos EUA?
Duas semanas depois de o Capitólio, em Washington, ter sido atacado de forma violenta por uma multidão de apoiantes de Donald Trump, Joe Biden estava lá para ser investido 46º Presidente dos Estados Unidos da América. O aparato militar da cerimónia deixou bem claro que a morte de cinco pessoas (e ferimentos noutras 140), decorrente dos eventos de 6 de janeiro de 2021, era apenas mais um dos muitos desafios que o novo líder dos EUA (e a vice-presidente Kamala Harris) teria pela frente.
No currículo, Joe Biden trazia uma longa experiência na política norte-americana, ter sido vice-presidente de Barack Obama durante oito anos e ter alcançado a maior votação de sempre em presidenciais dos
EUA – 81,2 milhões de votos (51,3%) contra 46,8% de Trump, correspondentes a 74,2 milhões de eleitores.
A 20 de janeiro de 2021, Joe Biden fez o juramento frente ao Capitólio perante uma plateia, selecionada e altamente vigiada, onde não figurou o antecessor. E nesse dia, Biden começou a mostrar serviço. Proclamou o Dia Nacional da Unidade, voltou a colocar os EUA no Acordo de Paris (na prática só aconteceu um mês depois), cancelou a saída do seu país da Organização Mundial da Saúde (comunicada por Trump em julho de 2020) e ordenou o fim do financiamento da construção do muro na fronteira sul com o México. Além disso, anulou a proibição de viagens para os EUA por parte de cidadãos oriundos de países muçulmanos, mas
ATÉ 17 DE ABRIL OS EUA JÁ TINHAM CONSEGUIDO VACINAR 39% DA SUA POPULAÇÃO CONTRA A COVID-19
não ficou por aí. Voltou a permitir o ingresso de indivíduos transgénero nas forças armadas, cancelou contratos com prisões privadas, mandou reunir as famílias separadas na fronteira mexicana, expandiu as medidas do protocolo Medicaid, recuou na política antiaborto de Trump e dos seus aliados ultraconservadores, permitiu a emissão de novos documentos de residência nos EUA (Greencard) e apoiou um ataque militar na Síria contra as forças apoiadas pelo Irão.
Covid e a retirada do Afeganistão
Nessa primeira semana de presidência – e nos 100 dias que se seguiram –, a grande preocupação foi o combate à Covid-19. O executivo acelerou a distribuição de vacinas e apresentou um plano de ação. No segundo dia de mandato, os EUA tinham 23,9 milhões de casos positivos (392 mil mortos) e na terceira semana de abril os números passaram a 32,3 milhões de casos e 580 mil mortos. Até 17 de abril deste ano, o número de vacinados com duas doses ultrapassava os 130 milhões de pessoas (39% da população). E, no início de março, já o Senado tinha aprovado um gigantesco plano de ajuda à economia, apontado como o maior de sempre na História.
A 13 de abril, Joe Biden anunciou a retirada total das forças norte-americanas do Afeganistão até 11 de setembro de 2021, dia do simbólico vigésimo aniversário do ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque. O plano previsto por Donald Trump apontava para a operação estar finalizada até 1 de maio, mas esse será o dia de início da retirada final. O governo americano já referiu que a decisão está tomada, independentemente da situação no país – “Iremos sair. Não faremos uma saída precipitada, mas sim de forma responsável, deliberada e segura”, disse o Presidente democrata. De momento, estão destacados cerca de 3.500 militares dos EUA no Afeganistão.
A tentativa de resolução de problemas com a Rússia começou a 21 de janeiro, com a proposta de extensão por cinco anos do tratado nuclear New START (tinha fim previsto para fevereiro). Cinco dias depois deu-se a primeira conversa oficial com Vladimir Putin, mas em março o verniz estalou: numa entrevista à ABC News, Biden respondeu que sim à questão “considera Vladimir Putin um assassino?” e afirmou que este iria “pagar o preço” pela interferência nas eleições norte-americanas. No dia seguinte, Putin negou comentar o sucedido, mas o Kremlin reagiu, confirmando que as relações entre os dois países estavam “muito mal”. Um mês depois, Biden telefonou a Putin e protões
PARA BIDEN E HARRIS, A CHINA É HOJE A MAIOR AMEAÇA À SEGURANÇA NACIONAL DOS EUA
pôs-lhe a realização de uma cimeira, que poderá acontecer durante o verão, na Europa.
Na semana passada, Joe Biden declarou que os EUA enfrentam uma “emergência nacional” em virtude de ações online maliciosas da Rússia, impôs novas sanções ao governo de Putin e mandou expulsar 10 diplomatas russos. No dia seguinte, 10 diplomatas dos EUA foram expulsos da antiga União Soviética.
Outra grande preocupação de Joe Biden é a China. Além das quesrelacionadas com a balança comercial e exportações, o FBI tem a decorrer mais de 2.000 investigações ligadas a práticas do governo chinês, nomeadamente relacionadas com espionagem económica. De acordo com a administração Biden-Harris, a China é a mais significativa ameaça à segurança nacional dos EUA e a grande arma utilizada é a tecnologia, através dos ciberataques.
A 30 de abril assinalam-se os primeiros 100 dias de Joe Biden na presidência de um país que, além da pandemia, dos desastres naturais, do desemprego, do racismo ou dos direitos cívicos, ainda tem de enfrentar outra realidade: a iminente (se não já real) perda da liderança mundial para a China. W