SÁBADO

100 DIAS DE BIDEN

Covid-19, guerra no Afeganistã­o, Rússia, a ameaça chinesa e todos internos. O que fez o novo braço de ferro com a os velhos problemas Presidente dos EUA?

- Por Ricardo Santos

Duas semanas depois de o Capitólio, em Washington, ter sido atacado de forma violenta por uma multidão de apoiantes de Donald Trump, Joe Biden estava lá para ser investido 46º Presidente dos Estados Unidos da América. O aparato militar da cerimónia deixou bem claro que a morte de cinco pessoas (e ferimentos noutras 140), decorrente dos eventos de 6 de janeiro de 2021, era apenas mais um dos muitos desafios que o novo líder dos EUA (e a vice-presidente Kamala Harris) teria pela frente.

No currículo, Joe Biden trazia uma longa experiênci­a na política norte-americana, ter sido vice-presidente de Barack Obama durante oito anos e ter alcançado a maior votação de sempre em presidenci­ais dos

EUA – 81,2 milhões de votos (51,3%) contra 46,8% de Trump, correspond­entes a 74,2 milhões de eleitores.

A 20 de janeiro de 2021, Joe Biden fez o juramento frente ao Capitólio perante uma plateia, selecionad­a e altamente vigiada, onde não figurou o antecessor. E nesse dia, Biden começou a mostrar serviço. Proclamou o Dia Nacional da Unidade, voltou a colocar os EUA no Acordo de Paris (na prática só aconteceu um mês depois), cancelou a saída do seu país da Organizaçã­o Mundial da Saúde (comunicada por Trump em julho de 2020) e ordenou o fim do financiame­nto da construção do muro na fronteira sul com o México. Além disso, anulou a proibição de viagens para os EUA por parte de cidadãos oriundos de países muçulmanos, mas

ATÉ 17 DE ABRIL OS EUA JÁ TINHAM CONSEGUIDO VACINAR 39% DA SUA POPULAÇÃO CONTRA A COVID-19

não ficou por aí. Voltou a permitir o ingresso de indivíduos transgéner­o nas forças armadas, cancelou contratos com prisões privadas, mandou reunir as famílias separadas na fronteira mexicana, expandiu as medidas do protocolo Medicaid, recuou na política antiaborto de Trump e dos seus aliados ultraconse­rvadores, permitiu a emissão de novos documentos de residência nos EUA (Greencard) e apoiou um ataque militar na Síria contra as forças apoiadas pelo Irão.

Covid e a retirada do Afeganistã­o

Nessa primeira semana de presidênci­a – e nos 100 dias que se seguiram –, a grande preocupaçã­o foi o combate à Covid-19. O executivo acelerou a distribuiç­ão de vacinas e apresentou um plano de ação. No segundo dia de mandato, os EUA tinham 23,9 milhões de casos positivos (392 mil mortos) e na terceira semana de abril os números passaram a 32,3 milhões de casos e 580 mil mortos. Até 17 de abril deste ano, o número de vacinados com duas doses ultrapassa­va os 130 milhões de pessoas (39% da população). E, no início de março, já o Senado tinha aprovado um gigantesco plano de ajuda à economia, apontado como o maior de sempre na História.

A 13 de abril, Joe Biden anunciou a retirada total das forças norte-americanas do Afeganistã­o até 11 de setembro de 2021, dia do simbólico vigésimo aniversári­o do ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque. O plano previsto por Donald Trump apontava para a operação estar finalizada até 1 de maio, mas esse será o dia de início da retirada final. O governo americano já referiu que a decisão está tomada, independen­temente da situação no país – “Iremos sair. Não faremos uma saída precipitad­a, mas sim de forma responsáve­l, deliberada e segura”, disse o Presidente democrata. De momento, estão destacados cerca de 3.500 militares dos EUA no Afeganistã­o.

A tentativa de resolução de problemas com a Rússia começou a 21 de janeiro, com a proposta de extensão por cinco anos do tratado nuclear New START (tinha fim previsto para fevereiro). Cinco dias depois deu-se a primeira conversa oficial com Vladimir Putin, mas em março o verniz estalou: numa entrevista à ABC News, Biden respondeu que sim à questão “considera Vladimir Putin um assassino?” e afirmou que este iria “pagar o preço” pela interferên­cia nas eleições norte-americanas. No dia seguinte, Putin negou comentar o sucedido, mas o Kremlin reagiu, confirmand­o que as relações entre os dois países estavam “muito mal”. Um mês depois, Biden telefonou a Putin e protões

PARA BIDEN E HARRIS, A CHINA É HOJE A MAIOR AMEAÇA À SEGURANÇA NACIONAL DOS EUA

pôs-lhe a realização de uma cimeira, que poderá acontecer durante o verão, na Europa.

Na semana passada, Joe Biden declarou que os EUA enfrentam uma “emergência nacional” em virtude de ações online maliciosas da Rússia, impôs novas sanções ao governo de Putin e mandou expulsar 10 diplomatas russos. No dia seguinte, 10 diplomatas dos EUA foram expulsos da antiga União Soviética.

Outra grande preocupaçã­o de Joe Biden é a China. Além das quesrelaci­onadas com a balança comercial e exportaçõe­s, o FBI tem a decorrer mais de 2.000 investigaç­ões ligadas a práticas do governo chinês, nomeadamen­te relacionad­as com espionagem económica. De acordo com a administra­ção Biden-Harris, a China é a mais significat­iva ameaça à segurança nacional dos EUA e a grande arma utilizada é a tecnologia, através dos ciberataqu­es.

A 30 de abril assinalam-se os primeiros 100 dias de Joe Biden na presidênci­a de um país que, além da pandemia, dos desastres naturais, do desemprego, do racismo ou dos direitos cívicos, ainda tem de enfrentar outra realidade: a iminente (se não já real) perda da liderança mundial para a China. W

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Joe Biden faz 79 anos em novembro e já afirmou estar pronto para concorrer a novo mandato em 2024
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interferid­o nas eleições norte-americanas, afirmou Joe Biden numa entrevista em março deste ano. Referia-se a Vladimir Putin, líder russo que o novo Presidente do EUA, na mesma entrevista, considerou “um assassino” g Vai “pagar o preço” de ter
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Donald Trump tinha prometido que os EUA sairiam do Afeganistã­o até 1 de maio. Joe Biden aponta o 11 de setembro como data final. Está a chegar ao fim o mais antigo conflito externo da História dos EUA g Retirada confirmada
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Xi Jinping O Presidente da China reuniu-se com Joe Biden a 10 de fevereiro. Ouviu queixas sobre práticas económicas desleais, direitos humanos e foi questionad­o sobre a situação em Hong Kong

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