A história, o mar e a terra no futuro de Albufeira
O jurassic park do Algarve
No princípio esteve a descoberta de um dinossauro em 2010, o Metoposaurus Algarvensis, de há 250 milhões de anos, cujos fósseis foram encontrados na Jazida da Penina. Cinco anos depois foi classificado como uma nova espécie e um valor paleontológico único e com valor internacional. Foi o ponto de partida para o projeto aspirante a Geoparque Mundial da UNESCO, que reúne os municípios de Loulé, Silves, Albufeira e a Universidade do Algarve para passar a fazer parte da rede de 147 geoparques mundiais UNESCO em 41 países. “Contar a história da evolução da terra que é o que vamos querer fazer no Geoparque”, disse Luís Pereira, coordenador da Georparque Algarvensis pela Câmara Municipal de Albufeira, que elencou geo-sítios de relevo nacional e regional como a própria rocha da Penina onde foi descoberto o dinossauro, no grés de Silves, que é um valor geológico de valor nacional, vale Fuzeiros em Silves tem vestígios de vulcanismo, os calcários do Escarpão em Albufeira e a zona de Paderne que representam no Jurássico Superior um mar tropical, a mina de sal-gema em Loulé, que é visitável, e faz parte da história geológica do que foi o grande continente Pangea.
Peixe de classe mundial
O peixe desta zona central de Albufeira é considerado “peixe de classe mundial e é fácil seduzir um chef de cozinha com a qualidade da matéria-prima que tínhamos na mão. Abrimos portas ao mundo e começamos a exportar para Espanha, Alemanha, Reino Unido num total de dez mercados”, diz Pedro Bastos, sócio-gerente da Nutrifresco.
A família já estava ligada ao comércio do peixe desde 1999 quando vendia na restauração em Albufeira. A sua ação na empresa passou por especializar ainda mais com um serviço de preparação do peixe, filtragem e entrega. Em 2010 decidiram entrar no mercado de Lisboa que é menos sazonal e passaram a fornecer para o Porto e outras regiões de Portugal. Pedro Bastos acrescentou que os chefs de todo o mundo, do Dubai a Nova Iorque gostam do peixe português e do Algarve.
Com o Covid-19 esta expansão fica comprometida porque estavam muito vocacionados para a hotelaria e a restauração tanto em Portugal como na exportação. Mas depois surgiu a Nutrifresco Porta-a-Porta para levar “o mesmo peixe, a mesma qualidade, que vendíamos aos chefs de alta cozinha, a qualquer cliente através do nosso site online, tendo criado 1500 clientes no espaço de um ano”, disse Pedro Bastos.
Um dos aspetos interessantes na atividade de Pedro Bastos é a sua ação de formação junto dos pescadores na forma como apanham, trazendo a técnica japonesa ikejime, e acondicionam o peixe.
A agricultura mais sustentável e de proximidade
A Quinta Canhoto entrou no enoturismo em 2020 e “foi logo um grande desafio em que atividade foi nula”, revelou Joana Fernandes, sócia da Quinta Canhoto. Mas em compensação, em termos de vendas, “foi um excelente ano de vendas que começamos a lançar vinhos em 2017”. Na sua opinião é “importante aliar o campo ao sol e praia e mostrar as atividades agrícolas como o vinho, a alfarroba, a figueira que foram desvalorizadas, mas pode ajudar a atrair novos mercados e a combater a sazonalidade do turismo”. João Bacalhau, sócio-gerente da Horta da Orada, deixou o turismo por causa do turismo e lançou-se num projeto agrícola. “O desafio passa por utilizar práticas de agricultura sustentável e agro-geológicos e trabalhar na regeneração dos solos, porque a herança que temos hoje é de solos degredados”. Uma agricultura regenerativa, com aproveitamento de restos de “verdes” para cobertura de solos, na medida em que minimiza o custo de água e “é necessário tirar mais partido dos nossos recursos hídricos”. Este empresário diz que “não adianta produzir em escala, importa, sim, reduzir a dependência”. Sublinha que é importante a venda direta, mas a sua plataforma de venda online permite ser mais agilidade. A Quinta do Mel trabalha em todos os setores de atividade desde a agricultura, a agropecuária, silvicultura, a transformação de hortícolas em compotas e têm duas unidades de turismo em espaço rural com lojas e restauração.
“O nosso grande desafio é trabalhar na sustentabilidade ambiental da empresa que está na quinta geração e que há mais de 30 anos que produz em modo biológico e mesmo assim assistimos a uma degradação constante dos nossos recursos e da biodiversidade. Não basta não fazer nada, às vezes temos de regenerar”, afirma Luís Silva. A sua empresa “foge” à agricultura de escala e à monocultura. “Este empresário considera que “o Município deveria discriminar positivamente os produtos do concelho, quer nas suas cantinas, nas instituições e outras, no sentido de uma economia local circular.”