SÁBADO

UM CASO ANTIGO

- PEDRO MANUEL CALVETE

(COMO SE RECORDAM, O PROBLEMA TERMINARA COM A ORDEM DE PRISÃO DADA PELO

inspetor Macedo à suposta testemunha do crime. O relato dos eventos continuava assim:)

O agente da GNR não hesitou: o Manuel Vinagre, mais surpreendi­do do que outra coisa, foi expeditame­nte algemado; e o guarda solicitou de imediato pelo telemóvel o regresso do jipe da corporação “para – como disse num tom algo triunfante – conduzir ao quartel o presumível autor do crime”. Não tardaram muito os seus colegas a aparecer para cumprir a incumbênci­a, já que – como o inspetor fez questão de lhe lembrar – as ordens dele se mantinham: ficar a vigiar a cena do crime.

Mal os colegas levaram o detido, o agente não se conteve:

– Desculpe, senhor inspetor, mas porque acha que foi ele?

O inspetor esperava a pergunta. Já sabia que, sem ser abelhudo, o jovem não era do tipo de reservar opiniões – certamente que também não curiosidad­es.

– Tínhamos um corpo, mas não arma do crime, nem homicida. Se o que o homem tinha dito fosse verdade, ele teria visto a fuga do assassino, e com ele, a arma... como o rasto de sangue a caminho do terreiro parecia indicar. Mas o crime foi cometido com aquela foice – o inspetor apondeu-nos tava para a fotografia que ampliara no ecrã do seu telemóvel – e, portanto, se saiu deste celeiro, e saiu com certeza para pintalgar o chão lá fora, voltou a entrar. Um sujeito imaginativ­o esse Vinagre...

O agente da GNR debruçou-se sobre o telemóvel, esperando certamente ver alguns vestígios de sangue. O inspetor Macedo interrompe­u-o:

– Nós não vemos, mas as varejeiras sim. É uma das histórias que nos contam em Criminolog­ia, vem do primeiro manual para médicos legistas – feito no século XIII, na China, imagine. Se procurar na Internet encontra uma história como esta – é qualquer coisa como “Cases of injustice rectified”… Deve ter sido a primeira vez que as varejeiras revelaram a arma do crime. Não deixe ninguém aproximar-se das foices: vou pedir à equipa forense que venha recolher a prova principal.

SOLUÇÃO DA PROVA N.º 2-B UM CRIME NUMA TASCA RICA

Autor: ABRÓTEA

Pois bem “Doc”, apenas uma pessoa estava nas condições de espetar a faca nas costas do Sardinha, a faca cravada no lado direito, e para isso bastava uma pequena discussão, mas uma coisa me preocupou, se o Sardinha comeu tudo... menos as espinhas, claro, para que precisava ele do SAL? Foi aí que se apagou a minha luz, mesmo quase desfalecid­o a pista, que já existia uma, um canhoto, e depois sal na mão, eis o criminoso:

JOAQUIM SALMÃO

Alínea C

SOLUÇÃO DA PROVA N.º 2-C O FALSO SUICÍDIO

Autor: PAULO

A fotografia indicia que a vítima é esquerdina. Folha do lado esquerdo e recipiente com canetas do lado esquerdo. A reforçar esta opinião está a declaração da testemunha de que a vítima pousou a caneta e foi logo pegar na arma. Portanto, a folha foi escrita no local onde foi fotografad­a.

A morte ocorreu com um tiro na têmpora direita. Esta disposição é típica de um destro.

Esta foi a incongruên­cia que fez o inspetor suspeitar que a testemunha mentia e a fazer outras investigaç­ões. Possivelme­nte vestígios de pólvora e impressões digitais.

CLASSIFICA­ÇÕES

As pontuações obtidas nesta prova, se tudo ocorrer conforme previsto, são publicadas hoje mesmo no blogue Sábado Policiário, em sabadopoli­ciario.blogspot.com.

Os detetives serão identifica­dos pelo nome que escolheram e que deverão manter ao longo de todo o torneio.

Bons resultados, detetives!

É UMA HISTÓRIA QUE VEM NO PRIMEIRO MANUAL PARA MÉDICOS LEGISTAS – DO SÉC. XIII. DEVE TER SIDO A PRIMEIRA VEZ QUE AS VAREJEIRAS REVELARAM A ARMA DO CRIME

A PROBLEMÍST­ICA POLICIÁRIA

A resposta à pergunta sobre a origem da problemíst­ica policiária em Portugal sempre foi fácil e direta:

Foi Gentil Marques, jornalista e escritor que nos últimos tempos da II Guerra Mundial nos trouxe os “fotoproble­mas” que deram origem a toda esta história de desafios policiais para os leitores decifrarem!

Assim referiu, também, o “Mestre” Manuel Constantin­o no seu O Grande Livro da Problemíst­ica Policiária, edição da Associação Policiária Portuguesa (APP), uma autêntica “bíblia” para os detetives portuguese­s.

No entanto, estudos mais recentes, com origem no escritor e grande estudioso do fenómeno policial Joel Lima, antigo presidente do Clube Português de Literatura Policial e João Artur Mamede, o Jartur do nosso passatempo, grande responsáve­l pelo “Arquivo Histórico da Problemíst­ica Policiária Portuguesa”, permitiram novas abordagens e definir outras origens.

É no Correio do Ribatejo, na secção “Correio Policial”, que Domingos Cabral, o Insp. Aranha, vai publicando todo o novo material agora encontrado, que nos remete para os anos 20 do século passado e para a figura icónica do Repórter X, o jornalista Reinaldo Ferreira.

Com a designação genérica de Primórdios da Problemíst­ica Policiária Portuguesa, este estudo absolutame­nte imperdível para quem quiser conhecer a história do nosso passatempo, conduz-nos ao Ciclo Reinaldo Ferreira “Repórter X” e aos “Homens e Factos do Dia”: semanário da Vida Mundial, publicado no Porto e por ele dirigido, no remoto ano de 1929.

Durante muitas semanas, o Inspetor Aranha vai-nos brindando com o “Concurso de Contos Misterioso­s”, uma das primeiras manifestaç­ões públicas dos problemas policiais em Portugal, que desfizeram a anterior ideia de que os problemas policiais haviam sido introduzid­os no nosso País nos anos 40 de século XX.

A qualidade do trabalho desenvolvi­do e o rigor da investigaç­ão merecem a nossa atenção, pelo que aconselham­os os nossos confrades que estejam interessad­os a procurarem junto do coordenado­r do espaço, através do email d.cabral@sapo.pt, a melhor forma de poderem fazer a eventual aquisição dos jornais e de ter acesso a todo o excelente material publicado.

Nas próximas semanas vamos continuar a falar sobre a história da problemíst­ica policiária, até chegarmos aos nossos dias, fazendo natural foco na enorme participaç­ão do Sete de Espadas nessa história, em que foi um dos protagonis­tas maiores, não apenas pela sua longevidad­e como coordenado­r, mas sobretudo pelo espírito que inculcou em sucessivas gerações de interessad­os nestas coisas do policial, para que o uso das células cinzentas esteja sempre presente em todos os momentos da vida.

E quando a todo esse espírito se junta também o convívio, a amizade e a camaradage­m para toda a vida, parece estar encontrado o “caldeirão” em que o Sete de Espadas produziu e cozinhou a sua poção mágica, que deu a beber a todos nós! W

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M. Constantin­o com o Insp. Varatojo
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João Artur Mamede/JArtur
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Joel Lima

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