UM CASO ANTIGO
(COMO SE RECORDAM, O PROBLEMA TERMINARA COM A ORDEM DE PRISÃO DADA PELO
inspetor Macedo à suposta testemunha do crime. O relato dos eventos continuava assim:)
O agente da GNR não hesitou: o Manuel Vinagre, mais surpreendido do que outra coisa, foi expeditamente algemado; e o guarda solicitou de imediato pelo telemóvel o regresso do jipe da corporação “para – como disse num tom algo triunfante – conduzir ao quartel o presumível autor do crime”. Não tardaram muito os seus colegas a aparecer para cumprir a incumbência, já que – como o inspetor fez questão de lhe lembrar – as ordens dele se mantinham: ficar a vigiar a cena do crime.
Mal os colegas levaram o detido, o agente não se conteve:
– Desculpe, senhor inspetor, mas porque acha que foi ele?
O inspetor esperava a pergunta. Já sabia que, sem ser abelhudo, o jovem não era do tipo de reservar opiniões – certamente que também não curiosidades.
– Tínhamos um corpo, mas não arma do crime, nem homicida. Se o que o homem tinha dito fosse verdade, ele teria visto a fuga do assassino, e com ele, a arma... como o rasto de sangue a caminho do terreiro parecia indicar. Mas o crime foi cometido com aquela foice – o inspetor apondeu-nos tava para a fotografia que ampliara no ecrã do seu telemóvel – e, portanto, se saiu deste celeiro, e saiu com certeza para pintalgar o chão lá fora, voltou a entrar. Um sujeito imaginativo esse Vinagre...
O agente da GNR debruçou-se sobre o telemóvel, esperando certamente ver alguns vestígios de sangue. O inspetor Macedo interrompeu-o:
– Nós não vemos, mas as varejeiras sim. É uma das histórias que nos contam em Criminologia, vem do primeiro manual para médicos legistas – feito no século XIII, na China, imagine. Se procurar na Internet encontra uma história como esta – é qualquer coisa como “Cases of injustice rectified”… Deve ter sido a primeira vez que as varejeiras revelaram a arma do crime. Não deixe ninguém aproximar-se das foices: vou pedir à equipa forense que venha recolher a prova principal.
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 2-B UM CRIME NUMA TASCA RICA
Autor: ABRÓTEA
Pois bem “Doc”, apenas uma pessoa estava nas condições de espetar a faca nas costas do Sardinha, a faca cravada no lado direito, e para isso bastava uma pequena discussão, mas uma coisa me preocupou, se o Sardinha comeu tudo... menos as espinhas, claro, para que precisava ele do SAL? Foi aí que se apagou a minha luz, mesmo quase desfalecido a pista, que já existia uma, um canhoto, e depois sal na mão, eis o criminoso:
JOAQUIM SALMÃO
Alínea C
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 2-C O FALSO SUICÍDIO
Autor: PAULO
A fotografia indicia que a vítima é esquerdina. Folha do lado esquerdo e recipiente com canetas do lado esquerdo. A reforçar esta opinião está a declaração da testemunha de que a vítima pousou a caneta e foi logo pegar na arma. Portanto, a folha foi escrita no local onde foi fotografada.
A morte ocorreu com um tiro na têmpora direita. Esta disposição é típica de um destro.
Esta foi a incongruência que fez o inspetor suspeitar que a testemunha mentia e a fazer outras investigações. Possivelmente vestígios de pólvora e impressões digitais.
CLASSIFICAÇÕES
As pontuações obtidas nesta prova, se tudo ocorrer conforme previsto, são publicadas hoje mesmo no blogue Sábado Policiário, em sabadopoliciario.blogspot.com.
Os detetives serão identificados pelo nome que escolheram e que deverão manter ao longo de todo o torneio.
Bons resultados, detetives!
É UMA HISTÓRIA QUE VEM NO PRIMEIRO MANUAL PARA MÉDICOS LEGISTAS – DO SÉC. XIII. DEVE TER SIDO A PRIMEIRA VEZ QUE AS VAREJEIRAS REVELARAM A ARMA DO CRIME
A PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA
A resposta à pergunta sobre a origem da problemística policiária em Portugal sempre foi fácil e direta:
Foi Gentil Marques, jornalista e escritor que nos últimos tempos da II Guerra Mundial nos trouxe os “fotoproblemas” que deram origem a toda esta história de desafios policiais para os leitores decifrarem!
Assim referiu, também, o “Mestre” Manuel Constantino no seu O Grande Livro da Problemística Policiária, edição da Associação Policiária Portuguesa (APP), uma autêntica “bíblia” para os detetives portugueses.
No entanto, estudos mais recentes, com origem no escritor e grande estudioso do fenómeno policial Joel Lima, antigo presidente do Clube Português de Literatura Policial e João Artur Mamede, o Jartur do nosso passatempo, grande responsável pelo “Arquivo Histórico da Problemística Policiária Portuguesa”, permitiram novas abordagens e definir outras origens.
É no Correio do Ribatejo, na secção “Correio Policial”, que Domingos Cabral, o Insp. Aranha, vai publicando todo o novo material agora encontrado, que nos remete para os anos 20 do século passado e para a figura icónica do Repórter X, o jornalista Reinaldo Ferreira.
Com a designação genérica de Primórdios da Problemística Policiária Portuguesa, este estudo absolutamente imperdível para quem quiser conhecer a história do nosso passatempo, conduz-nos ao Ciclo Reinaldo Ferreira “Repórter X” e aos “Homens e Factos do Dia”: semanário da Vida Mundial, publicado no Porto e por ele dirigido, no remoto ano de 1929.
Durante muitas semanas, o Inspetor Aranha vai-nos brindando com o “Concurso de Contos Misteriosos”, uma das primeiras manifestações públicas dos problemas policiais em Portugal, que desfizeram a anterior ideia de que os problemas policiais haviam sido introduzidos no nosso País nos anos 40 de século XX.
A qualidade do trabalho desenvolvido e o rigor da investigação merecem a nossa atenção, pelo que aconselhamos os nossos confrades que estejam interessados a procurarem junto do coordenador do espaço, através do email d.cabral@sapo.pt, a melhor forma de poderem fazer a eventual aquisição dos jornais e de ter acesso a todo o excelente material publicado.
Nas próximas semanas vamos continuar a falar sobre a história da problemística policiária, até chegarmos aos nossos dias, fazendo natural foco na enorme participação do Sete de Espadas nessa história, em que foi um dos protagonistas maiores, não apenas pela sua longevidade como coordenador, mas sobretudo pelo espírito que inculcou em sucessivas gerações de interessados nestas coisas do policial, para que o uso das células cinzentas esteja sempre presente em todos os momentos da vida.
E quando a todo esse espírito se junta também o convívio, a amizade e a camaradagem para toda a vida, parece estar encontrado o “caldeirão” em que o Sete de Espadas produziu e cozinhou a sua poção mágica, que deu a beber a todos nós! W