O VÍCIO DOS SMARTWATCHES
O seu ritmo cardíaco e o nível de oxigénio estão bons? Esta é a moda das apps de monitorização
No último Natal, Marina Rosa, de 33 anos, decidiu fazer um upgrade ao seu indispensável smartwatch. Comprou um mais sofisticado, o modelo Amazfit GTS, que lhe custou cerca de 130 euros. Começou por utilizá-lo apenas para registar a distância percorrida e as calorias perdidas quando fazia caminhadas, mas agora, diz, anda sempre com ele porque ficou “viciada” no registo diário da sua atividade. “É muito útil porque evita o sedentarismo. Se eu estiver muito tempo sentada, sou avisada por uma notificação de que tenho de me levantar e dar uma voltinha. O modelo anterior media a pressão arterial, mas este não”, conta à SÁBADO a coordenadora de equipa de uma empresa de distribuição. Marina também costuma dormir com o relógio para monitorizar o sono, embora não seja todos os dias, mas “nas alturas” em que se sente “mais stressada”. Entretanto, descobriu uma balança inteligente da Xiaomi, que emparelha com o relógio e com o iPhone (através de Bluetooth) e comprou-a. Esta balança vai muito além da informação do peso, já que indica outras métricas importantes para a saúde, como o índice de massa corporal e os níveis de hidratação.
Até há pouco tempo, os praticantes de exercício físico entusiasmavam-se com aparelhos que dispunham de funções básicas, como a contagem dos passos, as calorias perdidas ou o controlo da frequência cardíaca. Mas o universo destes gadgets tem-se desenvolvido a um ritmo muito acelerado, sobretudo com a pandemia. Já há relógios, pulseiras e anéis inteligentes que, além de nos manterem informados do que recebemos no telemóvel (alguns fazem e atendem chamadas e enviam SMS), fornecem vários indicadores de saúde. Medem a energia corporal, os níveis
UM ESTUDO DIZ QUE OS DADOS DOS SMARTWATCHES PODEM DETETAR A COVID NOVE DIAS ANTES DOS SINTOMAS
de oxigénio no sangue, a tensão arterial, avaliam a qualidade do sono, o período de ovulação e a glicose, e até os níveis de stress. Com o aparecimento do coronavírus passámos a ter novas rotinas, como medir a febre. Por isso, os relógios que medem a temperatura corporal e o nível de oxigénio tornaram-se muito procurados – um dos sinais de infeção respiratória é a redução da capacidade pulmonar e, como tal, do fornecimento de oxigénio ao sangue, uma pista importante que indica, pelo menos, a necessidade de fazer um teste. Um estudo da Universidade de Stanford concluiu que os dados dos smartwatches podem ser muito úteis para detetar a Covid-19 nove dias antes de surgirem sintomas.
As startups de tecnologia de fitness arrecadaram 1,9 mil milhões de euros em 2020, mais 30% do que no ano anterior, segundo a CB Insights, empresa norte-americana de análise de negócios. Escolher um smartwatch não é tarefa fácil porque a oferta em marcas e modelos é muito vasta. O melhor é partir do orçamento disponível – os preços variam entre os 130 e os 900 euros, mas a rapidez com que surgem novas funcionalidades faz com fiquem ultrapassados num curto espaço de tempo. Há quem não resista ao upgrade. Foi
STARTUPS DE TECNOLOGIA DE FITNESS FATURARAM MAIS 30% EM 2020 – ANO DE PANDEMIA
o que aconteceu com Jorge Barros, de 47 anos, que acabou de investir 300 euros num novo smartwatch Garmin Forerunner 245.
Coração monitorizado
Este relógio monitoriza “tudo e mais alguma coisa”, desde a trivial contagem de passos e de calorias ao nível de oxigénio no sangue, passando pelos batimentos cardíacos, o ritmo médio durante o treino ou a velocidade da corrida, até ao máximo de esforço. Além do exercício, o smartwatch monitoriza outros dados de saúde, como a qualidade do sono, o nível de stress, a energia corporal e o ritmo cardíaco ao longo do dia. “Quando saio para correr tenho tudo ali, só levo o telemóvel para ouvir música. O relógio é essencial em provas porque me permite controlar todas as variáveis, como a distância, o tempo, o ritmo médio e o mais Q
Q importante: o ritmo cardíaco, pois com a idade há que ter cuidado. Se em terreno plano e sem grande intensidade de esforço os batimentos forem acima de 160, algo não está bem”, conta à SÁBADO. Desde que os ginásios fecharam e que as provas de estrada foram suspensas por causa do confinamento, as corridas de uma hora, três a quatro vezes por semana, tornaram-se numa rotina na vida do supervisor de logística numa empresa de produtos alimentares. Jorge Barros já fez uma maratona e gosta tanto do seu relógio inteligente que também o usa no dia a dia, “quando combina com o outfit”.
Nuno Petronilho comprou um smartwatch da marca Tag Heuer – que há mais de quatro anos terá sido um dos primeiros a chegar a Portugal – por 1500 euros. Tinha muitas funcionalidades para a época, mas entretanto ficou ultrapassado. Não regista, por exemplo, o ritmo cardíaco ou a perda de calorias, que é o que mais lhe interessa contabilizar enquanto pratica desporto. “O novo Tag já faz essas coisas todas, mas enquanto não faço o upgrade comprei um Samsung só para a atividade desportiva e que conta tudo, passos, níveis de oxigénio, calorias, tempo de atividade e velocidade, com a grande vantagem de ter sido muito mais barato. Ajuda-me imenso quando estou a jogar padel ou a andar de bicicleta. Não podendo estar com o telemóvel, o relógio mostra quem me está a ligar para o caso de ser urgente”, conta o empresário, de 43 anos, proprietário do clube Star Padel, em Coimbra, que além de praticar esta modalidade também faz corrida. “O novo Tag Connected [que custa €2.000] será uma das mi
“SE ESTIVER MUITO TEMPO SENTADA, SOU AVISADA POR UMA NOTIFICAÇÃO PARA DAR UMA VOLTINHA”, DIZ MARINA
nhas novas aquisições porque está muito avançado em termos de funcionalidades”, revela.
Também há quem não resista a partilhar nas redes sociais os registos de distâncias percorridas ou as calorias perdidas. Marina costuma fazê-lo. Há dias, publicou uma storie no Instagram, em que mostrava o gráfico com a média dos passos diários e o total de calorias que perdeu numa semana de férias. Já Jorge Barros partilha os dados das suas corridas na Strava, uma comunidade de utilizadores que correm e andam de bicicleta.
Pulseiras para crianças
Os sensores de sono são outros aparelhos cada vez mais usados, sobretudo por pessoas que sofrem de apneia. Fátima Marques, de 61 anos, é um desses casos e há alturas em que acorda com a sensação de que não descansou. Decidiu comprar um sensor de sono, que lhe custou 129 euros, para conseguir ter o registo dos ciclos, da duração total da sua noite e dos despertares noturnos. “O médico aconselhou-me a comprar o aparelho para ter todos os dados e estabelecer um diagnóstico mais preciso”, conta à SÁBADO. O sensor é colocado debaixo do colchão e sincronizado, através de wi-fi, com o telemóvel, onde os dados são registados. Enquanto Fátima dorme, o aparelho identifica o ressonar e os episódios de apneia/ausência de respiração, através de um sensor áudio, e de outro sensor pneumático que regista os movimentos do corpo, níveis de respiração e batimentos cardíacos.
Os fanáticos destes gadgets também podem incutir o interesse pelo exercício nas crianças. Para miúdos a partir dos 6 anos, já há pulseiras para medir a atividade e partilhar a informação com a família (custam 80 euros). Além das funções de contagem de passos e de monitorização do sono, os que têm telemóvel recebem no pulso as notificações do seu telefone. O avanço nos fitness trackers e nos smartwatches não vai parar e há especialistas a garantir que, em breve, poderão ir ainda mais além, monitorizando as emoções e a taxa de envelhecimento. W