O regresso de Kate Winslet
Kate Winslet regressa à televisão como polícia, na maravilhosa nova minissérie da HBO, Mare Of Easttown. Quem é hoje esta atriz que milhões de pessoas ficaram a conhecer em Titanic?
UM TELEFONE toca. Mare está deitada, atende e suspira. Já é de dia, mas é muito cedo. Levanta-se e carrega o corpo na direção de quem lhe telefonou. Mare é polícia, é também a protagonista de Mare of Easttown, uma nova minissérie da HBO Portugal que estreou a 19 de abril. Mare é interpretada por Kate Winslet e conforme se avança nos episódios, faz mais sentido que seja Kate Winslet.
Mare é uma personagem arrependida, zangada, com um passado que lhe negou um futuro, do qual não se arrepende mas também não se orgulha. É uma personagem que não imaginaríamos para a atriz que em 1998 era uma das mais jovens de sempre a ser nomeada para Óscar de Melhor Atriz (por Titanic). Mas é também o seu tipo de personagem, aquele que só precisa de 30 segundos para contar toda a verdade.
A atriz britânica (atualmente com 45 anos) deu nas vistas logo na sua estreia, Amizade Sem Limites, o ótimo filme de 1994 de Peter Jackson. Três anos depois Titanic proporcionava-lhe um salto na carreira e, provavelmente, o seu pico mediático. Kate e Leonardo DiCaprio conquistaram o mundo e criaram uma história de amor para a eternidade.
Há este pico de carreira, ainda jovem, que pode funcionar no momento como uma maldição, mas que no caso de Kate Winslet foi exatamente o contrário. Não voltou a viver igual mediatismo. Tem feito outras coisas, melhores para uns, piores para outros.
Se em Titanic reinventava a história de amor comercial, em 2004 juntou-se a Jim Carrey para contar outra história de amor que marcaria essa década. O Despertar da Mente, de Michel Gondry, coescrito por Charlie Kaufman, é um filme-chave do início do século. Criou uma escola de como contar histórias de amor para audiências que estavam fartas de histórias de amor e de como as convencer a gostar novamente de histórias de amor. Ou seja, era o antídoto perfeito da audiência que estava farta de histórias de amor à Titanic. Assim, Winslet fez parte do problema, mas também da solução.
Dois anos depois, há a pérola Pecados Íntimos, filme muito falado na altura, mas que caiu no esquecimento. Kate conseguiu aqui a sua terceira nomeação para Óscar de Melhor Atriz, estatueta que só viria a vencer em 2009, com O Leitor.
Também é de 2008 o filme de Sam Mendes que assinala o reencontro de Winslet e Leonardo DiCaprio como protagonistas e casal de um filme. Revolutionary Road é um ótimo retrato de como o sonho americano dos subúrbios dos anos
A atriz britânica, hoje com 45 anos, deu nas vistas logo na sua estreia, em Amizade Sem Limites, o ótimo filme de 1994 de Peter Jackson
1950 rapidamente se viria a tornar um pesadelo e uma fonte de problemas para os casais e as relações modernas.
Após colaborações para televisão (uma delas inesquecível, em Extras, de Ricky Gervais), é protagonista de uma minissérie de cinco partes da HBO, realizada por Todd Haynes, a partir de um romance de James M. Cain. Mildred Pierce, de 2011, é um magnífico drama durante a Grande Depressão e um encontro inesquecível entre Haynes e Winslet.
Na última década, a atriz tem experimentado uma série de papéis, entre participações de filmes para adolescentes – como a série Divergente –, a biopic Steve Jobs, no papel de Joanna Hoffman, comédias que inexplicavelmente funcionam como A Modista, policiais musculados como Triplo 9 ou escolhas que parecem feitas para encher agenda como Beleza Colateral ou Blackbird – A Despedida.
Em Mare of Easttown, Kate Winslet vai tentar, como polícia, resistir às muitas adversidades da vida numa pequena cidade dos Estados Unidos
Dez anos depois regressa à HBO, para mais uma minissérie com um título que tem o nome da protagonista. Apesar de a última década não ter sido a melhor de Winslet, Mare of Easttown é um lembrete de como ela é uma das melhores atrizes da sua geração.
Mare é um veículo da dor de algumas das personagens de Winslet, e uma personagem que resiste a um sem-número de adversidades numa pequena cidade, nos Estados Unidos. Nunca se viu Winslet num papel assim, mas Winslet foi sempre papéis assim: alguém capaz de nos convencer das impossibilidades e emoções que um corpo pode conter.