SÁBADO

DE VICE A DONO DAS FINANÇAS

Pela primeira vez em 26 anos, o PSD ficou sem uma vice-presidênci­a no Partido Popular Europeu. Paulo Rangel passou a tesoureiro e vai gerir um orçamento de 17 milhões.

- Por Nuno Tiago Pinto

Quando, em 1996, o PSD de Marcelo Rebelo de Sousa negociou a adesão ao Partido Popular Europeu (PPE), uma das condições acordadas nos bastidores foi a atribuição de uma vice-presidênci­a aos sociais-democratas portuguese­s. O detalhe era importante: na época, só os chefes de Estado e de governo, para além dos membros da presidênci­a, tinham assento na cimeira do PPE. E com a entrega de uma vice-presidênci­a ao PSD ficou garantido que Marcelo Rebelo de Sousa, escolhido então para representa­nte social-democrata, teria lugar à mesa entre os grandes europeus.

Hoje já não é assim. Para além dos chefes de Estado e de governo, os líderes na oposição bem como os ministros seniores de partidos de coligação têm assento nas cimeiras do PPE. Todavia, o congresso que terminou no passado dia 1 de junho, em Roterdão, foi o primeiro em que, desde 1996, o PSD não ficou com uma das 10 vice-presidênci­as. Em vez disso, o partido ainda liderado por Rui Rio fez eleger o eurodeputa­do Paulo Rangel para o cargo de tesoureiro.

Contactado pela SÁBADO, Paulo Rangel desvaloriz­a aquilo que alguns responsáve­is do PSD em Portugal e em Bruxelas consideram uma perda de importânci­a do partido também na Europa. “Há dois meses o atual e o antigo presidente do PPE, Manfred Weber e Donald Tusk, pediram-me para ir à sede do partido e desafiaram-me, com base na experiênci­a que tenho como tesoureiro no grupo do PPE no Parlamento Europeu e no conhecimen­to que adquiri como responsáve­l pela filiação do partido, para deixar de ser candidato a vice-presidente, como esperavam que fosse, e passasse a ser candidato a tesoureiro. A dois anos de eleições europeias, aceitei o desafio, não há nada mais do que isso”, diz o eurodeputa­do.

“HÁ DOIS MESES DESAFIARAM-ME, COM BASE NA EXPERIÊNCI­A QUE TENHO, A CANDIDATAR-ME A TESOUREIRO”

O pedido surgiu no contexto de mudança interna do próprio PPE. Ao fim de 20 anos, o espanhol Antonio López-Istúriz abandonou o cargo de secretário-geral e foi substituíd­o pelo grego Thanasis Bakolas. “Precisavam de alguém que conhecesse as funções de tesoureiro e também o partido”, diz Paulo Rangel. Ao todo, o eurodeputa­do vai gerir um orçamento de 17 milhões de euros. Como tesoureiro, continuará também a ter assento na direção do PPE, acesso aos chefes de Estado e de governo e participaç­ão nas cimeiras do partido.

Os cinco vices

Depois de Marcelo Rebelo de Sousa, o segundo vice-presidente do PSD no PPE foi José Manuel Durão Barroso. Após a sua eleição para primeiro-ministro, em 2002, o cargo passou a ser ocupado por Alberto João Jardim, eleito num congresso no Estoril. O quarto vice-presidente português no PPE foi o ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Mário David, que cumpriu três mandatos. Seguiu-se o eurodeputa­do Paulo Rangel.

Ao fim de dois mandatos, Paulo Rangel decidiu então candidatar-se antes ao lugar de tesoureiro, eleição que venceu, e sucederá no cargo ao alemão Christian Schmidt, que foi nomeado pelo Conselho de Segurança da ONU como Alto Representa­nte para a Bósnia-Herzegovin­a. ●

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Paulo Rangel deixa de ser vice-presidente, mas fica tesoureiro. Rui Rio sai de cena de vez

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