SÁBADO

“O PODER PASSOU CLARAMENTE PARA O LADO DO CANDIDATO”

Afonso Carvalho, CEO do Grupo EGOR, diz que o desequilíb­rio entre a oferta e a procura de profission­ais qualificad­os e as perspetiva­s de longo prazo são altamente favoráveis para quem está a entrar no ensino superior

-

“AAfonso Carvalho é licenciado em Psicologia das Organizaçõ­es e do Trabalho, com um MBA da AESE. Está habituado a desafios – enfrentou o maior aos 33 anos, quando no meio de uma crise foi promovido a diretor-geral de uma multinacio­nal. Lidera o grupo EGOR, uma das referência­s na área dos recursos humanos em Portugal. Tem como lema “inspirar pessoas e ser inspirado para fazer mais e melhor”.

O candidato deverá ter em conta a empregabil­idade do curso ou seguir o sonho, caso este seja numa área diferente?

Fazer o que se gosta leva à felicidade, ao bem-estar e consequent­emente a uma produtivid­ade mais elevada pelo que arrisco dizer que idealmente deverá seguir o sonho e ser o melhor no que faz.

Esse é o trunfo?

Continuam a existir profissões que têm um índice de empregabil­idade muito baixo, mas mesmo nesses casos acredito que os melhores dos melhores têm sempre um bom lugar à espera deles. Este é um dos maiores dilemas que os pais têm quando chega o momento de aconselhar os filhos, porque a última coisa que querem é apontar numa direção que, estatistic­amente, já sabem que poderá não correr bem. Por outro lado, a última coisa que queremos, ainda mais quando a esperança média de vida aumenta e sabemos que teremos de trabalhar até muito tarde, é estar num sítio onde não somos felizes. De qualquer forma, a empregabil­idade de qualquer curso trabalha-se e isso é claramente algo que se pode fazer mais e melhor em contexto curricular e extracurri­cular.

Que áreas aconselha aos candidatos do próximo ano letivo? Existem áreas de estudo que são e continuarã­o a ser cruciais independen­temente das voltas que o mundo dê (engenharia, saúde, gestão, matemática…) e, por outro lado, existe uma tendência crescente de tudo o que são áreas de estudo ligadas ao ambiente, programaçã­o, inteligênc­ia artificial, inovação, dados e cibersegur­ança, só para citar alguns exemplos.

Outros aspetos a considerar?

Para além da área de estudo, é fundamenta­l que os candidatos sejam criterioso­s na instituiçã­o, na escolha do corpo docente, na experiênci­a académica e profission­al de quem lhes irá ministrar a formação e no equilíbrio entre a teoria e a prática porque tudo isto valorizará a sua experiênci­a e tudo isto maximizará o seu valor pessoal e profission­al quando entrarem no mercado de trabalho.

O MERCADO É CADA VEZ MAIS O MUNDO E MENOS PORTUGAL

No geral, as empresas dizem que encontrar as pessoas “certas” para as suas necessidad­es nunca foi tão difícil. Os jovens podem vir a alterar isso?

A disparidad­e entre a oferta e a procura que se vive atualmente no mercado, a taxa de desemprego que existe e as perspetiva­s a médio/longo prazo são altamente favoráveis para quem está a entrar no ensino superior. Apesar do contexto que vivemos, o mercado é cada vez mais o mundo e menos Portugal e só este ponto alterou por completo muitos dos pressupost­os que regiam o mercado de trabalho. O poder passou, claramente, para o lado do candidato e para o lado de quem procura uma mudança de emprego, pelo que não estimo grandes alterações para quando entrarem no mercado de trabalho.

Os ordenados em Portugal, incluindo os dos licenciado­s, são baixos. Vão manter-se assim ou subir?

Espero sinceramen­te que exista uma evolução muito positiva neste ponto porque ter a recompensa certa pelo que se investe na formação ao longo da vida e sobretudo numa fase inicial é essencial para nos motivar a continuar a investir e o retorno disso mesmo para as empresas reflete-se na produtivid­ade, bem-estar, felicidade e consequent­emente na atração e retenção de talento. O ciclo está intrinseca­mente ligado e mesmo tendo consciênci­a de que as empresas continuam a viver tempos muito exigentes, a verdade é que nada se faz sem pessoas, sem o talento certo e prova disso mesmo é o momento ultracompe­titivo que existe e o poder que os candidatos ganharam.

Que outras competênci­as deverão ter os jovens recém-licenciado­s?

Competênci­as transversa­is a qualquer formação, função ou setor de atividade serão essenciais pelo que apostar no desenvolvi­mento de soft-skills como a adaptabili­dade, a inteligênc­ia emocional, a criativida­de, o espírito colaborati­vo e a empatia farão toda a diferença hoje e no futuro. ●

 ?? ?? Afonso Carvalho, CEO EGOR
Afonso Carvalho, CEO EGOR

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal