SÁBADO

DO NADA À SAGRAÇÃO EM TRÊS PARTES

Em 1913, o bailado de Nijinsky com música de Stravinsky deu escândalo. Não há registos do que foi, mas o Teatro Praga tenta reimaginá-lo, com a Orquestra Sinfónica Metropolit­ana, no CCB.

- Por Rita Bertrand

É DIOGO BENTO, criador e intérprete da versão de A Sagração da Primavera que o Teatro Praga estreia esta sexta-feira, 17 de junho, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, que conta à SÁBADO que “todo o espetáculo é coreográfi­co, embora comece mais teatral, com texto”. No entanto, enquanto a orquestra toca, tudo o que se vê em palco é movimento.

Com a intenção de abordar uma obra histórica, na linha do que fez entre 2010 e 2019, com a trilogia de peças a combinar Purcell e Shakespear­e, o Teatro Praga escolheu encenar A Sagração da Primavera, a coreografi­a de Nijinsky para a partitura de Igor Stravinsky, por ser um espetáculo mítico, de que muitos saíram a meio, incomodado­s, e que motivou polémica e escândalo na Paris de 1913.

Ficaram desenhos dos figurinos, críticas, depoimento­s. De resto – descrição fiel ou registo visual –, nada. Muitos fizeram entretanto as suas versões, sempre autorais, espelhando um ponto de vista pessoal. E foi o que não quiseram fazer os diretores artísticos do Teatro Praga,

André Teodósio, José Maria Vieira Mendes, Cláudia Jardim e, desde a saída de Pedro Penim (para o D. Maria II), Diogo Bento. Restou o tal “nada”.

“Partimos desse vazio e usamo-lo para celebrar”, explica Diogo, contando que esta Sagração se divide em três partes, definidas pelos quatro antes do início dos ensaios, em abril. A primeira é um monólogo introdutór­io que a contextual­iza. A segunda junta o elenco – “que é um coro polifónico, diverso e não geracional, amplo e o mais heterogéne­o possível” – a chegar e a preparar-se para entrar em ação, cada qual com a sua preocupaçã­o, sejam as plantas, as drogas ou as energias.

Finalmente, a terceira, já com a Orquestra Sinfónica Metropolit­ana, dirigida por Pedro Neves, a tocar a música de Stravinsky, é a tal celebração, naturalmen­te diferente para cada um dos 10 intérprete­s (e também cocriadore­s) da peça. Não admira que haja quem dance como se estivesse num festival de verão e quem tente imaginar com o corpo os passos de Nijinsky. ●

A estreia de A Sagração da Primavera deu brado na Paris de 1913. A obra tornou-se mítica, mas não se sabe como foi. Nada. É desse nada que esta peça parte

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André Teodósio, Diogo Bento, José Maria Vieira Mendes e Cláudia Jardim dirigem o Teatro Praga

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