Bill Russell (1934-2022)
Russell, que levou os Boston Celtics a 11 títulos da NBA, os dois últimos como treinador-jogador, deixa um legado incomparável no desporto. Morreu no domingo, aos 88 anos
Nas décadas que se seguiram à sua retirada como jogador, em 1969, quando o desporto estava em clara mudança, com novos talentos a encantar o público com movimentos e agilidade ainda pouco vistos, a aura de William Felton Russell parecia, mais do que nunca, solidificada.
Não que nas 13 temporadas em que vestiu de verde e levou a equipa dos Boston Celtics a uns espantosos 11 títulos na liga de basquetebol dos EUA, oito dos quais contínuos – marca ainda inigualada –, não lhe assegurassem o panteão. Ou mesmo o facto de ter sido o primeiro treinador afro-americano da liga, dos cinco prémios MVP ou das 12 seleções All Star. Mas antes de Michael Jordan e Lebron James, antes até de Kareem Abdul-Jabbar, a NBA teve nele a maior das coqueluches.
Bill Russell nasceu no Louisiana, sul dos Estados Unidos, em 1934. Aos 8 anos, o pai levou a família para a Califórnia, onde os Russell acabariam por cair em pobreza, e só anos depois, quando chegou ao secundário, é que o talento do centro acabaria por se demarcar dos restantes colegas; uma combinação de agilidade e mobilidade pouco usual para um jogador daquela posição e altura, o que lhe permitiu trilhar um caminho com estatísticas de jogo fenomenais.
Em 1956, numa altura em que jogadores negros eram uma minoria na liga – sendo ele o único afro-americano dos Celtics –, Russell foi a segunda escolha do sorteio anual de jogadores. Seria na segregada Boston que o camisola 6 deslumbraria com o seu talento em campo, e ali tornar-se-ia o defesa mais temido da sua época – uma força dominante em ressaltos e bloqueios que só viria a ser suplantada pelo também lendário Wilt Chamberlain.
Mas mais do que aquilo que deixava em campo, os fãs e pares viriam a respeitar a forma como este se tornou a primeira superestrela negra da NBA com uma voz. O ativismo que Russell impôs a si próprio, desafiando uma sociedade americana pouco dada ao sucesso das minorias, foi em parte o que azedou a relação com os fãs do então Boston Garden. Só anos mais tarde a convivência viria a ser pacífica.
Quando foi introduzido no Hall of Fame do
ALÉM DOS TÍTULOS DA NBA, RUSSELL VENCEU UMA MEDALHA OLÍMPICA EM 1956
Basquetebol, em 1975, Red Auerbach, treinador responsável pela sua chegada aos Celtics, e que o treinou em nove gloriosos anos, descreveu-o como “a força mais devastadora da história do jogo”. A sua rapidez e incrível capacidade de bloquear lançamentos transformaram a posição, e viriam a inspirar o futuro talento da NBA. Figuras como Charles Barkley, Shaquille O’Neal, Kevin Garnett ou Kobe Bryant mencionaram a importância de Bill Russell no desenvolvimento não só do desporto mas da mentalidade da liga e sociedade e agradeceram-lhe a mentoria ao longo dos anos.
Após a retirada do basquetebol, sendo a última mão como treinador dos Sacramento Kings (1987-1988), Russell permaneceu em grande parte longe do olhar do público, contrastando com os dias mais acesos a jogar ao cesto, e fixou-se em Washington.
Viria a aparecer publicamente com mais regularidade nos últimos anos, muitas vezes sendo homenageado pelas suas notáveis contribuições como jogador e ativista. Em 2009, a NBA renomeou o prémio de MVP das Finais (Jogador Mais Valioso) em sua homenagem.
Bill Russell faleceu a 31 de julho, em casa. Tinha 88 anos. ●