Investimento cria maior adega cooperativa de Portugal
É a maior adega cooperativa de Portugal em volume de faturação e uma marca incontornável no mercado vitivinícola. Nascida nos anos 50, no maior projeto de colonização interna do Estado Novo, a Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões tem feito um notável esforço de modernização, qualificação e crescimento, com bons resultados.
Já foram galardoados com mais de mil prémios, tanto nacionais como internacionais. O reconhecimento aos vinhos da Adega de Pegões chega dos mais diversos países e continentes e de tão longe como, por exemplo, a China. Deste país recebeu recentemente uma dupla medalha de ouro, para o Vinho Português do Ano, no China Wine and Spirits Awards – Best Value 2022, com o vinho Adega de Pegões Colheita Selecionada Branco 2020. Para Mário Figueiredo, presidente da direção da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões, ganhar prémios é um incentivo a “continuar com o caminho percorrido ao longo destes anos, e é um orgulho para Portugal e para a região de Pegões”.
Clima e solo únicos geram ^ vinhos excecionais
O que têm estes vinhos para serem tão premiados e, sobretudo, tão apreciados? “O segredo são mesmo as uvas de Pegões, que se destacam.” A explicação é dada por Jaime Quendera, enólogo e gerente da Adega de Pegões desde 1994. “Temos um clima e solo únicos, basta dizer que as vinhas criam raízes onde há milhões de anos era mar.” Situada entre duas reservas naturais, a do estuário do Tejo, a noroeste, e a do Sado a sudoeste, a região de Pegões apresenta condições edafoclimáticas privilegiadas. Pegões localiza-se numa mancha de solo plano denominada por “Pliocénio de Pegões”, caracterizada por um solo arenoso, formado ao longo de milhões de anos pelo depósito das areias transportadas pelos rios Tejo e Sado, que é pobre em nutrientes, mas rico em termos de água. No entanto, há outro aspeto muito relevante a ter em conta: apesar de se localizar mais a sul de Portugal, onde há mais calor, a proximidade do mar ajuda bastante a amenizar o clima, impedindo que o calor seja extremo, o que propicia um bom amadurecimento das uvas. E, como diz Jaime Quendera, “uvas boas dão vinho bom, desde que se tenha tecnologia e know-how. Esse é o segredo.”
Investir no futuro
Tecnologia é algo que não falta em Pegões. Nos últimos 15 anos, a cooperativa tem vindo a investir na modernização, tanto das instalações como dos seus equipamentos e sistemas. O objetivo foi melhorar e valorizar os vinhos e a marca, e o investimento para o atingir rondou os 25 milhões de euros. Sob o lema “só a qualidade leva à excelência”, a Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões pretende ser reconhecida pela qualidade dos seus produtos. Porque, para a Adega de Pegões, o consumidor é o mais importante. Assim se explica a imensa diversidade de vinhos que são produzidos, sempre sem descurar o sabor e a qualidade. E é essa relação qualidade/preço que tem determinado a contínua ascensão da Adega de Pegões no mercado internacional mas, sobretudo, no mercado português.
Ganhar prémios é um incentivo a continuar o caminho percorrido ao longo destes anos, e é um orgulho para Portugal, e para a região de Pegões. Mário Figueiredo, presidente da direção da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões
O consumidor português sabe muito de vinho
Sendo esta uma casa com 64 anos, é importante perceber quais as características que levaram à sua longevidade. O enólogo Jaime Quendera refere que há uma característica, que é a base de todas as outras: “Produzir vinhos que sejam apreciados, e que tenham um preço justo. O consumidor, em especial o português, sabe muito de vinho. Se o defraudamos, perdemos a nossa ‘base’, e aí a longevidade estará comprometida.” Vem dessa
convicção uma postura de “procura constante por novos mercados e de investimento constante nos que já trabalhamos”. A “criação de novos produtos” também faz parte do dia a dia desta empresa que, com mais de meio século, tem crescido sustentadamente. Quem vê o atual portefólio de vinhos, e as dimensões impressionantes de Pegões, com uma área vinícola de 1.200 hectares, que produzem em média 13.000 toneladas de uva, e 17 milhões de garrafas por ano, não imagina que tudo começou do zero, com a plantação de 800 hectares de vinha em meados do século passado.
José Rovisco Pais e o Colonato de Pegões
Tudo começou com José Rovisco Pais (1862-1932), um grande proprietário rural e conhecido industrial, além de filantropo. As herdades que possuía em Pegões foram incluídas no seu testamento, tendo sido dadas aos Hospitais Civis de Lisboa. José Rovisco Pais ainda iniciou um projeto de colonização das terras. No entanto, este só viria a ser executado em pleno, pelo Estado Novo, após a sua morte. Tratou-se do maior projeto de colonização interna feito em Portugal, com a fixação de centenas de casais agrícolas e a plantação de hectares de vinha e de produtos frutícolas e hortícolas.
Neste contexto, em 1958, no dia 7 de março, foi constituída a Cooperativa Agrícola, que forneceu apoio técnico e logístico à elaboração dos primeiros vinhos de Pegões. Mas, com o 25 de Abril de 1974, viveram-se períodos, como refere o enólogo Jaime Quendera, marcados por uma “grande incerteza e muita instabilidade, ainda mais porque a Adega de Pegões pertencia ao Colonato de Pegões, que era do Estado português na altura”. A situação económica da cooperativa foi-se degradando e, “no início da década de noventa, a cooperativa esteve muito perto do fim”, conta Jaime Quendera.
Cooperativa renasce no século XXI com modernização
Foi nessa altura que chegou à Cooperativa Mário Figueiredo, que se mantém até hoje como presidente da direção. O caminho sob a sua direção foi longo mas, nos últimos 15 anos, explica o enólogo e gerente, “Pegões sofreu uma revolução técnica, na maneira de fazer vinho, na forma de vinificar. A nível comercial também muita coisa mudou. Em 2001 era ainda uma adega pequena, que faturava cerca de 1 milhão e meio, ou dois milhões de euros por ano. Atualmente fatura 24 milhões e é a maior adega cooperativa de Portugal.”
Assim se chegou a março de 2020, depois de um ano de 2019 muito bom, e um início de ano 2020 ainda melhor. Foi quando “as vendas caíram abruptamente”, conta Jaime Quendera. A pandemia de covid-19 tinha chegado a todo o mundo. O enólogo relembra: “tivemos grandes contingências. Até nos adaptarmos foi complicado.” Mas foi apenas uma questão de tempo. A aposta na distribuição moderna permitiu colmatar as perdas sentidas pelos fechos dos hotéis e restaurantes.
Reação comercial eficaz à pandemia
No mercado internacional, e com a adega a exportar para mais de 40 países, as quebras de vendas variaram conforme a zona do mundo. Os mercados asiáticos foram os que mais caíram. No entanto, outros mercados cresceram, como foi o caso dos mercados norte-americano e canadiano. Para o futuro, Jaime Quendera revela que a internacionalização dos vinhos “é um dos maiores desafios, sendo que estamos a apostar cada vez mais no mercado externo, em quantidade e em qualidade”. Assim, para os próximos 64 anos, o enólogo fala por aquela que é a sua segunda casa: “O que esperamos, e trabalhamos para isso todos os dias, é que a Adega de Pegões continue no caminho do sucesso e a crescer. É sinal da criação de riqueza para todos, e principalmente para a região.”
“O segredo são mesmo as uvas de Pegões, que se destacam. Temos um clima e solo únicos, basta dizer que as vinhas criam raízes onde há milhões de anos era mar.
Jaime Quendera, enólogo e gerente da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões