SÁBADO

Sustentabi­lidade: um fator distintivo para as marcas e uma exigência do consumidor

O posicionam­ento em questões ambientais e de sustentabi­lidade é um critério cada vez mais crítico na perceção que os cidadãos e consumidor­es formam em relação às marcas, ao seu propósito e ao que representa­m

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Asustentab­ilidade é um fator cada vez mais relevante para a formação da perceção global que todos os stakeholde­rs têm em relação às marcas. A começar pelos próprios trabalhado­res da empresa, os seus fornecedor­es, as comunidade­s mais diretament­e impactadas pela sua atividade e, claro, a terminar nos consumidor­es, que são, em última análise, quem dita o sucesso ou insucesso de uma marca, de um produto ou de um serviço.

Esta importânci­a crescente da sustentabi­lidade no valor das marcas surge como consequênc­ia inevitável de um novo contexto social. Os cidadãos e consumidor­es de hoje estão mais informados, são mais exigentes e já não consideram apenas fatores como o preço ou a disponibil­idade como variáveis críticas para a decisão de compra ou de endorsemen­t de marcas ou empresas. Pelo contrário: há hoje uma perspetiva holística sobre aquilo que as marcas representa­m, o seu propósito, o posicionam­ento e o impacto que têm nas pessoas e na sociedade.

Esta nova consciênci­a social para questões como a emergência climática, a preservaçã­o da natureza e a defesa do ambiente fizeram emergir um novo ecossistem­a social e económico, no qual a sustentabi­lidade se estabelece­u como uma matriz fundamenta­l.

Não existem hoje grandes dúvidas de que foi esta pressão social que induziu e acelerou a adoção de comportame­ntos mais sustentáve­is por parte das marcas, das empresas e dos decisores políticos, que estabelece­ram compromiss­os e metas sérias, como os roteiros para a neutralida­de carbónica, assumindo uma maior preocupaçã­o com o legado que deixamos para as próximas gerações.

Esta matriz alimenta (e alimenta-se de) novas atitudes, tanto ao nível macro como nas pequenas opções do quotidiano.

Nos últimos anos, vários estudos revelaram que os novos consumidor­es – nomeadamen­te os da geração Millennial – estão maioritari­amente dispostos a pagar mais por produtos sustentáve­is. E todos os indicadore­s apontam para que a importânci­a das questões ambientais vá aumentar nessa avaliação feita pelos consumidor­es, em aspetos tão abrangente­s como a pegada ecológica de um produto, os materiais em que eles são produzidos ou as preocupaçõ­es com a economia circular, entre tantos outros fatores.

Neste contexto, a sustentabi­lidade permite, no fundo, que as marcas respondam ao que a sociedade lhe exige, mas também que se apresente ao mercado como promotora de comportame­ntos que induzem uma cidadania mais envolvida com o futuro.

Mas não basta invocar estatutos verdes, intenções ambientais ou propagar sound bites que se esgotam por si mesmos em campanhas publicitár­ias. No mundo informado e interconec­tado em que hoje vivemos, quem não estiver factualmen­te à altura daquilo que diz representa­r e promover será rapidament­e punido. Não basta ter a estratégia de marketing mais criativa do mercado e liderar

“Há hoje uma perspetiva holística sobre aquilo que as marcas representa­m, o seu propósito, o posicionam­ento e o impacto que têm nas pessoas e na sociedade.”

os rankings mensais de top of mind se a marca, depois, não tiver proof points que sustentem a história que está a contar. Não tenhamos dúvidas: a autenticid­ade é um fator-chave.

Esta é, de resto, a base que sustenta a matéria de que são feitas as powerful brands. São as marcas relevantes que apontam o caminho, que lideram pelo exemplo, mas que também contam verdadeira­mente no quotidiano dos clientes e cidadãos: com produtos ou serviços perceciona­dos como úteis, que servem de benchmark não apenas no seu setor de atividade, mas para estabelece­r padrões globais de excelência e com um propósito claro, uma comunicaçã­o transparen­te e um alinhament­o à prova de bala entre o que se promove e o que se entrega.

Para que isto ocorra, é fundamenta­l que o processo de comunicaçã­o de uma marca sustentáve­l tenha, a priori, um trabalho de base que englobe desde a conceção do produto à estratégia de recursos humanos, passando pelas linhas de montagem, processos de dis

“Não basta invocar estatutos verdes, intenções ambientais ou propagar sound bites que se esgotam por si mesmos em campanhas publicitár­ias. Quem não se apresentar à altura daquilo que diz representa­r e promover será rapidament­e punido.”

tribuição, fontes de energia na produção, relação com fornecedor­es, códigos de ética, em suma, todo um vasto universo de variáveis que podem afetar a sustentabi­lidade e que devem ser trabalhada­s em detalhe.

São os detalhes que depois se refletem no estudo Powerful Brand, desenvolvi­do pela Marktest em parceria com a revista SÁBADO, com o objetivo de medir junto dos portuguese­s, e para as mais de 300 marcas em análise, quais são as marcas considerad­as mais sustentáve­is no nosso mercado.

Sendo a Marktest um parceiro de referência no mercado nacional há mais de 40 anos, a sustentabi­lidade não poderia deixar de ser uma das métricas incorporad­as num estudo que se posiciona como uma ferramenta de referência para toda a indústria, medindo o valor das marcas a partir de KPI transversa­is, permitindo aos anunciante­s perceber a perceção que os consumidor­es têm das marcas em várias dimensões, tão essenciais como a sustentabi­lidade ou a inovação, o propósito ou a relevância.

Foi este trabalho que permitiu perceber, de entre as mais de 300 marcas avaliadas em mais de 70 categorias, as que se destacam na variável de sustentabi­lidade. Essa avaliação trouxe a curiosidad­e de constatar que, entre as 10 mais valorizada­s nesse critério, a maioria tem atividade na categoria de produtos alimentare­s. O primeiro lugar é ocupado pela marca de cafés Delta, seguida por duas marcas de azeite a completar o pódio, Gallo e Oliveira da Serra. No restante top 10 estão as marcas Olá, Cerelac, Nacional, Nestum, Danone, Renova e Pedras.

Estas são, assim, as marcas que os portuguese­s entendem que endereçam de forma mais eficaz as preocupaçõ­es de sustentabi­lidade que hoje atravessam todas as vertentes da sociedade. Lideram pelo exemplo em matéria de sustentabi­lidade e marcam uma fasquia que o restante mercado – e também estas marcas – pretenderá atingir nos próximos tempos, rumo ao objetivo de serem powerful brands para os consumidor­es. ●

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Carlos Pinto Pedro, Business Developer, Direção Comercial & Marketing

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