Dançar com tolos
O TIKTOK É UMA REDE SOCIAL de partilha de vídeos. É também o som da ingenuidade prestes a explodir nas nossas mãos. Lançada em Setembro de 2017, é a comunidade digital mais popular do mundo, com três mil milhões de utilizadores. Sendo uma app que se pode descarregar para os sistemas Android ou iOs de qualquer smartphone, é um lobo com pele de cordeiro. A empresa-mãe chama-se ByteDance, um conglomerado privado chinês. A partir de Abril do ano passado, a ByteDance acrescentou aos seus accionistas o China Internet Investment Fund, propriedade do Estado – segundo a Reuters, o PCC (Partido Comunista Chinês) passou a deter uma posição de golden share na empresa. A tecnologia de recolha de dados para fins comerciais é ubíqua no ecossistema da Internet. De acordo com um relatório da empresa australiana de cibersegurança Internet 2.0 publicado há três semanas e citado pelo jornal Guardian, ela torna-se especialmente predatória com os algoritmos do TikTok. A aplicação não dá tréguas ao utilizador até conseguir acesso à localização do seu smartphone, à lista de contactos do telemóvel e até ao número de série SIM, garantindo ao TikTok “a capacidade de espelhar o smartphone à imagem do aparelho original”. Se críticas a Erdogan, Xi Jinping ou aos campos de tortura dos uigures em Xinjiang são filtradas pelos “moderadores” da rede social, o principal cliente são as crianças, o que faz de todos nós bebés inocentes. Com quase 50% dos clientes a considerarem stressante ver um vídeo com mais de um minuto, a vedeta nº 1 do TikTok (tem 11 biliões de likes)é Charli D’Amelio, uma norte-americana de 18 anos que dança ao som de canções que não compôs, com coreografias emprestadas e em playback. Charli não cria nada, mas quis muito e conseguiu-o: o agenciamento de toda a família na United Talent Agency, uma das maiores dos EUA. No topo dos vídeos mais populares do TikTok estão as danças, um homem a ladrar a um cão e dois excertos com esquilos a comerem nozes. Se há alguma coisa que a História nos ensina é que o totalitarismo começa sempre como festa do povo. ●
Texto escrito segundo o anterior acordo ortográfico