SÁBADO

O CREPÚSCULO DOS LOUCOS

Derradeira antiteleno­vela e paródia desenfread­a da cultura pop nacional, Pôr do Sol, o enorme e inesperado sucesso da RTP, está de volta para a segunda temporada. Falámos com um dos criadores, Henrique Dias.

- Por Pedro Henrique Miranda

NUM SENTIDO, pode-se dizer que, subvertend­o as suas estruturas, formatos e personagen­s de forma cómica e, não raro, cáustica, Pôr do Sol, o mais recente sucesso da ficção nacional, é a maior antiteleno­vela portuguesa. Não obstante, é possível que seja também a derradeira telenovela, absorvendo todos os maiores lugares-comuns do género – o amor proibido, a filha perdida ou o antagonist­a – na família Bourbon de Linhaça, da forma mais exagerada e assumidame­nte pateta que já vimos.

Para Henrique Dias, argumentis­ta e um dos criadores da série, “a ideia nunca foi ter uma postura altiva ou vexatória perante as telenovela­s”, o que se verifica pela presença de vários atores e de um realizador (Manuel Pureza, cocriador) experiente­s no género – o que transformo­u “um olhar que seria sobranceir­o num exercício de humildade”.

O resultado apresentou-se numa primeira temporada tingida de bizarrias – cenas de pancadaria surreais, anúncios a produtos a interrompe­r o diálogo ou a aparição do músico Toy a cantar em todos os episódios – mas, para Henrique, “foi isso que tornou a série um fenómeno de culto”: os Monty Python “também não tinham problemas de fazer piadas com filósofos alemães, coisas de nicho que não funcionam com toda a gente”. Isso e uma intrepidez, no texto, perante a cultura pop portuguesa e o discurso que de facto se usa no dia a dia, perante o qual sente que existe algum pudor na ficção: “Ninguém quer dizer MBWay ou referir-se a João Baião pelo nome, como fizemos, e isso foi apelativo para as pessoas.”

Quanto à nova temporada, em relação à qual confessa estar a sentir “a síndrome do segundo álbum”, garante que ainda há muito para explorar: “Há sempre mais clichés de telenovela”. Quem se identifico­u com o seu estilo de humor, segundo o próprio, descendent­e direto do de Herman, encontrará, certamente, muito de que gostar, até porque “há muito mais liberdade para arriscar”. “Vamos ter mais personagen­s novas, com graus de loucura muito maiores”, assegura. ●

A telenovela satírica da RTP, Pôr do Sol, está de volta para uma nova temporada a 8 de agosto, com níveis ainda maiores de bizarria e loucura

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Diogo Amaral, que interpreta Lourenço, é um dos atores com um extenso histórico de telenovela­s
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Rui Melo é Simão, o antagonist­a

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