O CREPÚSCULO DOS LOUCOS
Derradeira antitelenovela e paródia desenfreada da cultura pop nacional, Pôr do Sol, o enorme e inesperado sucesso da RTP, está de volta para a segunda temporada. Falámos com um dos criadores, Henrique Dias.
NUM SENTIDO, pode-se dizer que, subvertendo as suas estruturas, formatos e personagens de forma cómica e, não raro, cáustica, Pôr do Sol, o mais recente sucesso da ficção nacional, é a maior antitelenovela portuguesa. Não obstante, é possível que seja também a derradeira telenovela, absorvendo todos os maiores lugares-comuns do género – o amor proibido, a filha perdida ou o antagonista – na família Bourbon de Linhaça, da forma mais exagerada e assumidamente pateta que já vimos.
Para Henrique Dias, argumentista e um dos criadores da série, “a ideia nunca foi ter uma postura altiva ou vexatória perante as telenovelas”, o que se verifica pela presença de vários atores e de um realizador (Manuel Pureza, cocriador) experientes no género – o que transformou “um olhar que seria sobranceiro num exercício de humildade”.
O resultado apresentou-se numa primeira temporada tingida de bizarrias – cenas de pancadaria surreais, anúncios a produtos a interromper o diálogo ou a aparição do músico Toy a cantar em todos os episódios – mas, para Henrique, “foi isso que tornou a série um fenómeno de culto”: os Monty Python “também não tinham problemas de fazer piadas com filósofos alemães, coisas de nicho que não funcionam com toda a gente”. Isso e uma intrepidez, no texto, perante a cultura pop portuguesa e o discurso que de facto se usa no dia a dia, perante o qual sente que existe algum pudor na ficção: “Ninguém quer dizer MBWay ou referir-se a João Baião pelo nome, como fizemos, e isso foi apelativo para as pessoas.”
Quanto à nova temporada, em relação à qual confessa estar a sentir “a síndrome do segundo álbum”, garante que ainda há muito para explorar: “Há sempre mais clichés de telenovela”. Quem se identificou com o seu estilo de humor, segundo o próprio, descendente direto do de Herman, encontrará, certamente, muito de que gostar, até porque “há muito mais liberdade para arriscar”. “Vamos ter mais personagens novas, com graus de loucura muito maiores”, assegura. ●
A telenovela satírica da RTP, Pôr do Sol, está de volta para uma nova temporada a 8 de agosto, com níveis ainda maiores de bizarria e loucura