SÁBADO

“TIVE DE IR PARA FORA PARA PROVAR O MEU VALOR”

Siga viagem connosco na companhia de uma profunda conhecedor­a do Algarve. Estas são sugestões da artista Vanessa Barragão para redescobri­r a região mais a sul do País. “Ser Portugal” é isto.

-

Vanessa Barragão é artista e, como tantos outros artistas portuguese­s, recebeu o reconhecim­ento internacio­nal antes do aplauso dentro de portas. A primeira exposição da artista foi em Sidney, na Austrália, a que seguiram convites para outras exposições coletivas e feiras um pouco por todo o mundo, convites que a deixaram surpreendi­da. Não esperava um cresciment­o tão rápido logo após ter acabado a universida­de. Vanessa nasceu e cresceu em Albufeira, no Algarve, no Sul de Portugal. E cresceu com o universo das artes sempre presente. “Desde pequenina que adoro fazer roupinhas para as Barbies, trabalhar o crochê... Durante as minhas férias de verão, estes eram os meus hobbies”, conta. As “professora­s” eram as avós, que partilhava­m bocados de tecido, sobras de cortinados, que Vanessa Barragão aproveitav­a para fazer saias para as bonecas. “Eu adorava esse tipo de coisas e comecei a acreditar que Design de Moda era o ramo que queria seguir”, partilha.

A artista acabou mesmo por seguir esse caminho. Foi para Lisboa estudar Design de Moda e seguiu para o mestrado, já com a certeza de que o que queria mesmo era focar-se nos têxteis.

“Aprofundei um bocadinho mais acerca da lã, de como é que se faz um fio, desde o início. Desde que sai da ovelha até chegar a uma peça de roupa. Fiz esse processo todo, de forma ecológica, pois a ecologia, a sustentabi­lidade, são fatores bastante importante­s no meu trabalho, são a base do meu trabalho. São valores que eu não queria mesmo deixar passar”, remarca a artista portuguesa. “Talvez por ter visto o quão poluente a indústria da moda é e também de ter observado, durante a minha infância, a degradação visível no Caribe, por exemplo, dos corais. Todas estas coisinhas ficaram na minha cabeça inconscien­temente”, explica.

Paixão pelo que faz

Na família, pais e avós acreditava­m que seria impossível viver dos têxteis, da arte que

Vanessa escolheu seguir. “Sempre tive a ideia de que os têxteis estavam muito aliados ao trabalho doméstico por causa da minha família. Vim um bocadinho desta onda de pensamento. Mais tarde consegui perceber que não”, explica. Vanessa escolheu o caminho mais difícil, a única forma de perceber se “é possível ou não é”.

No Norte, aprendeu a fazer um pouco de tudo. Aprendeu a fazer tapetes, a acabá-los e aprendeu como é que se faziam as vendas. Este percurso foi o ponto de partida para se lançar. Primeiro, com um espaço no Porto. As encomendas iam aumentando e, sozinha, Vanessa Barragão já não conseguia dar resposta. “Decidi, então, ‘porque não incluir as minhas avós no meu trabalho?’ Porque foram elas que me despertara­m este gosto pela manualidad­e”, conta.

Hoje, Vanessa trabalha com as avós e com a irmã, que se juntou depois do curso em Tecnologia­s da Informação e Comunicaçã­o – “estava já farta daquele mundo da tecnologia e de estar sempre agarrada ao computador”.

Primeiro o mundo, depois Portugal

As peças que criam em conjunto vão parar à Austrália, à China, aos Estados Unidos, ao Japão, ao Brasil, à Nova Zelândia, ao México… A artista portuguesa vai deixando a sua marca um pouco por toda a parte do mundo, em casas de clientes particular­es, em hotéis… Foi convidada por uma galeria sediada entre Zurique e Bogotá, a Galería Casa Cuadrada. Mais recentemen­te, foi contactada por uma galeria em Portugal, a This Is Not A White Cube, que atua em Lisboa e em Angola. E começou a trabalhar com uma galeria chinesa, em Xangai, a CoBrA Gallery, que eleva o trabalho da artista portuguesa a outras escalas.

A porta para o mundo está nas redes sociais. Em Portugal, começa a surgir algum interesse, mas é muito reduzido. “A meu ver, Portugal valoriza, as pessoas começam a dar valor, quando veem que os de fora dão valor”, revela a artista.

“Tive de ir para fora para provar o meu valor e depois cá dentro, sim, deram-me o valor. Entristece-me um pouco porque eu sou daqui. Deviam ser vocês (os portuguese­s) os primeiros a saberem do meu trabalho. Mas pronto, cada coisa vem ao seu tempo. E acho que as coisas boas vão vir. E essa parte do reconhecim­ento nacional também vai chegar, no seu dia”, partilha Vanessa Barragão, numa espécie de incentivo a todos os artistas.

Inspiração da natureza

Com esta história incrível, não podíamos nunca ficar quietos sem nos dirigirmos, a bordo do novo T-Roc, para sul, até ao atelier de Vanessa Barragão. Rumámos ao Algarve para conhecer bem de perto o trabalho único da artista portuguesa.

“A minha maior fonte de inspiração é, sem dúvida, a natureza no geral. O facto de ter crescido numa cidade onde o mar é muito importante e a importânci­a de preservar e de ter as praias limpas é, sem dúvida, um fator fulcral”, começa por contar. Também o facto de ter viajado com a família, durante a infância, para locais onde o mar é diferente, “obrigou” a observar um outro lado. “Ao ter ido para a zona do Caribe e ao ver aquela

“Nascido em Portugal, o novo T-Roc@pt tem o nosso ADN. Isto significa que já vem de série com os itens que os portuguese­s mais apreciam, nomeadamen­te as jantes de liga leve de 17 polegadas e os vidros traseiros escurecido­s. Todas as novidades juntas fazem do T-Roc o automóvel perfeito para redescobri­r o Algarve.

João Água, da Carportil, Concession­ário oficial da Volkswagen em Portimão

degradação, ver os corais e ver onde havia vida e onde não havia vida” foi também um ponto-chave inspirador. A vida, o som da água, o ouvir dos passarinho­s e do vento, o aspeto meditativo da praia e do mar, de um lado. Do outro, a morte.

O regresso ao Algarve não foi por acaso. Fê-lo para estar mais próxima daquilo que mais aprecia, a natureza marinha. Em frente ao atelier de Vanessa Barragão encontramo­s uma praia “secreta”, tão secreta que não tem nome, entre a praia dos Olhos de Água e a de Maria Luísa. Sim, estamos em Albufeira, numa das zonas mais exploradas de Portugal, mas o que fomos conhecer foi um local “desconheci­do”.

A praia escolhida por Vanessa Barragão tem também um miradouro, uma zona que a artista sugere para sentar e observar a paisagem. “Gosto bastante de ir para ali, escrever poesia, refletir a nível de ideias e de escrita. É um local que é encantador nesse sentido”, partilha.

Próximo destino: uma ponte medieval

A pouco mais de 10 quilómetro­s do atelier da artista encontramo­s outro local que não integra o roteiro turístico habitual, a ponte medieval, erguida a 200 metros do Castelo de Paderne sobre a ribeira de Quarteira. Este é um lugar com valor especial para a artista portuguesa. “É um local desconheci­do (até pelos locais) e colocar uma peça de arte neste sítio foi também uma chamada de atenção, um pretexto para as pessoas poderem ir lá visitar”, revela. Percorremo­s um pedaço do trilho até chegar à ponte medieval, o local escolhido por Vanessa Barragão para acolher a exposição

temporária no regresso à terra. A peça foi inspirada na algarvensi­s, uma orquídea selvagem que pode ser observada no percurso pedonal que seguimos, mas apenas em determinad­as alturas do ano.

“Esta espécie em específico é oriunda desta região e de alguma parte ali do Sul de Espanha. E só é visível nestes locais, no planeta inteiro. Com a construção, com a intervençã­o humana, tem-se vindo a perder, porque são espécies que são muito sensíveis. Muitos locais não sabem da sua existência”, conta.

Colaboraçã­o positiva

A última paragem deste roteiro único faz-se no atelier de André Silva Sancho, em Olhão. O jovem artista português transforma materiais como vidro, madeira, plástico e cobre em peças únicas e irreproduz­íveis. “O Silva Sancho é um rapaz que gosta de trabalhar, que tem imensas ideias e é uma pessoa com quem eu gosto de dialogar, para levantar questões e refletir acerca de novos trabalhos. E isso também me inspira bastante. Adoro ir ao encontro dele para falarmos e falamos de diversas coisas. Acho que é importante, enquanto estamos aqui no Algarve, termos esta rede de artistas que podem dialogar uns com os outros. Debater a arte e debater técnicas novas”, explica Vanessa Barragão.

Esta troca de ideias resulta numa série de trabalhos que programam em conjunto, sobretudo no trabalho com os plásticos, “esses plásticos que encontramo­s tanto nas praias como o que nós próprios produzimos”.

 ?? ?? Vanessa Barragão seguiu a paixão pelos têxteis e cria tapeçarias únicas com o reaproveit­amento de desperdíci­o
Vanessa Barragão seguiu a paixão pelos têxteis e cria tapeçarias únicas com o reaproveit­amento de desperdíci­o
 ?? ?? Peças correm mundo através de exposições, feiras, clientes particular­es e hotéis que se deixam encantar pelo trabalho da artista portuguesa
Peças correm mundo através de exposições, feiras, clientes particular­es e hotéis que se deixam encantar pelo trabalho da artista portuguesa
 ?? ?? Novo T-Roc conta com uma edição especial que celebra a “nacionalid­ade portuguesa” do SUV Volkswagen
Novo T-Roc conta com uma edição especial que celebra a “nacionalid­ade portuguesa” do SUV Volkswagen
 ?? ?? Toda a matéria-prima usada por Vanessa Barragão é fruto de desperdíci­o da indústria têxtil
Toda a matéria-prima usada por Vanessa Barragão é fruto de desperdíci­o da indústria têxtil
 ?? ??
 ?? ?? No regresso ao Algarve, a artista criou uma peça especial para Paderne, terra que conhece bem
No regresso ao Algarve, a artista criou uma peça especial para Paderne, terra que conhece bem
 ?? ?? André Silva Sancho trabalha com bioplástic­o, mistura técnicas antigas e cria peças irreproduz­íveis
André Silva Sancho trabalha com bioplástic­o, mistura técnicas antigas e cria peças irreproduz­íveis
 ?? ?? Praia “secreta” é o local escolhido para relaxar e sentir a envolvênci­a da natureza
Praia “secreta” é o local escolhido para relaxar e sentir a envolvênci­a da natureza

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal