SÁBADO

NA ROTA DOS VINHO DE TALHA

A Herdade do Rocim está a promover passeios sobre a prática milenar de fermentar uvas em barro. A ideia é de Pedro Ribeiro, enólogo e diretor da adega da Vidigueira, mas os pequenos produtores também participam.

- Por Milene Matos Silva

As Amphora Wine Tours, promovidas pela Herdade do Rocim, são ajustadas ao gosto do visitante, com preços entre €95 e €125

entre Cuba e a Vidigueira, a porta da recente adega da Herdade do Rocim passa quase despercebi­da. À entrada somos surpreendi­dos por um edifício volumoso que, embora de linhas modernas, se esconde no relevo da paisagem, camuflando-se nela com o recurso a materiais, como pedra e madeira. Esta é uma das grandes adegas da zona da Vidigueira a manter as talhas para a fermentaçã­o de algumas das suas referência­s.

O guia, Bruno Gomes, responsáve­l pelo Enoturismo da Herdade do Rocim, vai-nos abrindo as portas e explicando que “o vinho da talha não era engarrafad­o”. Antes, era apenas uma tradição da região, “onde cada família tem a sua talha e produz para consumo próprio”, adianta. “A Herdade do Rocim foi a primeira adega a comerciali­zá-lo. É um processo altamente sustentáve­l”, considera.

Porém, as talhas de barro escasseiam na região e muito do vinho do Rocim é feito de forma industrial. Ainda assim, cinco das suas referência­s passam por talhas: subsistem 30 na antiga adega da propriedad­e.

Depois de a visitarmos, com paragem nas vinhas, seguimos para outras bandas. A escassos quilómetro­s, já em Vila de Frades, visitamos O País das Uvas, restaurant­e típico nascido numa adega onde antes se fazia vinho de talha e a população se juntava para o provar, ao som do cante alentejano. Convertida há 20 anos, esta casa onde o vinho sai diretament­e da pipa para o jarro, ganhou fama graças a este néctar e às suas iguarias.

Joana Marques é quem nos explica a história do edifício contíguo, a Cella Vinaria Antiqua (adega de vinho histórica): “Há 30 anos estava abandonado. Começaram as obras de recuperaçã­o e foi descoberta a traça original, uma adega com inspiraçõe­s romanas.” Hoje, é lá feito o vinho artesanal Honrado.

É apenas uma das marcas de Vila de Frades, terra onde cada família produzia o seu próprio vinho. “Existiam 134 adegas para cerca de 800 habitantes”, refere Teresa Caeiro, que herdou do avô uma pequena adega, renovando o negócio já centenário no projeto Gerações da Talha. Além de fazerem vinho, ela e o marido, João, promovem provas e visitas à adega, onde mantêm talhas com 500 anos.

Terminamos a visita no alpendre da Herdade do Rocim, com uma “bucha alentejana”, com pão, queijo, enchidos e outras iguarias regionais. Esta é uma das suas Amphora Wine Tours, propostas de enoturismo ajustadas ao gosto do visitante, mas “sempre como forma de partilha e dar a conhecer os vinhos de talha”, como refere Pedro Ribeiro, enólogo e diretor da herdade. “Juntos somos mais fortes na divulgação desta prática milenar”, sublinha. É só marcar por email: enoturismo @herdadedor­ocim.com. ●

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Na antiga adega da herdade, há 30 talhas; passear pelas vinhas faz parte da visita
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No fim da visita, há sempre uma “bucha alentejana” no alpendre da herdade

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