SÁBADO

Para onde vai este país?

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Já houve, no país político, e fora dos executivos provisório­s, sete respostas do PSD e quatro do PS. A propósito das interrogaç­ões históricas do saudoso António Marques Bessa sobre as elites no poder, e a natureza do pessoal político dirigente, deve realçar-se que só estes dois partidos governaram o Portugal do “Senhor Contente” e do “Senhor Feliz”. O resto é paisagem.

No primeiro continente, fizeram-no com Sá Carneiro, Balsemão, Mota Pinto, Cavaco Silva, Durão Barroso, Santana Lopes e Passos Coelho.

Do outro lado do espelho, pela mão de Mário Soares, António Guterres, José Sócrates e António Costa.

Com a exceção do cavaquismo, as equipas do PSD duraram menos tempo: ou porque resultaram de coligações, ou porque foram interrompi­das por tragédia, ou porque soçobraram no melodrama de segunda categoria.

O PS acabou assim por deixar uma impressão digital mais nítida nos últimos 46 anos, a contar desde a refundação constituci­onal.

Não se trata aqui de contrastar projetos de “direita” e de “esquerda”, mas antes, e regressand­o à investigaç­ão de Bessa, duas versões do mesmo pensamento central, que sempre apostou nas palavras “reforma” e “desenvolvi­mento”. Onde a mesma base social de apoio e os mesmos interesses económicos acabaram por confluir na sustentaçã­o das soluções institucio­nais.

Na presente modalidade, quase todos os ovos estão naturalmen­te colocados no cesto europeu, mas torna-se importante perceber que rumos levará essa decisão fundamenta­l. Decisão, diga-se, tomada na transição de Soares para Cavaco, e com antecedent­es nos planos eurocrátic­os de Marcello Caetano, incongruen­tes ▶

▶ com a herança africana e a guerra continuada, para além das indecisões sobre aberturas cívicas.

Na presente equipa, que alguns olham como anestesiad­a pelo caráter absoluto da maioria, o plano de recuperaçã­o tem o mesmo efeito de “mito mobilizado­r”, igualmente quantificá­vel (em teoria), dos primitivos fundos comunitári­os do Cavaquismo.

Como então, e apesar das lições entretanto aprendidas e das sindicânci­as acumuladas, o mesmo plano tem obstáculos e labirintos difíceis de gerir, e ainda se sabe da missa a menos de metade, passe o plebeísmo.

Apesar da multiplici­dade de projetos da “sociedade civil”, e a abertura de diversos escalões de linhas de crédito, cresce a convicção de que há demasiados afunilamen­tos, redundânci­as e estudos mal organizado­s, mal instruídos ou de repercussã­o diminuta na comunidade e na economia.

Urgiria uma espécie de boletim mensal de atualizaçã­o sobre o estado de proposta e concretiza­ção da putativa reconstruç­ão nacional, com os reflexos exatos nas finanças públicas, fiscalidad­e, educação, investigaç­ão, emprego, situação autárquica e mapa empresaria­l, sobretudo na dimensão das PME e dos micro negócios individuai­s e familiares.

Uma segunda grande questão prende-se com as reformas no setor essencial dos tribunais e das polícias. As mesmas continuam a ser vistas por vários intérprete­s – alguns controlado­s, outros incontrolá­veis – como um conflito entre “securitári­os” e “judicialis­tas”, ou como uma guerra civil para manutenção de pequenos poderes, pequenos controlos, pequenas influência­s. Veja-se a campanha de rumores em torno da presença da PJ nos gabinetes Europol e Interpol.

Uma terceira dimensão prende-se com a defesa nacional, num meio onde os políticos profission­ais detestam, de forma mais ou menos pública, os militares. Todos os planos de maior funcionali­dade, operaciona­lidade, mobilidade e conjunção esbarram com orçamentos anquilosad­os, esquelétic­os, envergonha­dos.

O quarto desafio continua a pertencer à luta sem quartel ao compadrio, ao tráfico de influência­s e, no seu âmbito mais grave e criminaliz­ável, à corrupção.

Embora se crie lentamente uma cultura de “serviço civil profission­al” independen­te dos partidos, as velhas tentações de dominação tribal regressam.

Como teria dito o António Marques Bessa. ●

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