SÁBADO

Vila Nova de Poiares é amor à primeira vista

O ponto mais ocidental da Nacional 2 conta uma história que vem de muito longe. Em terras da Chanfana, o desenvolvi­mento não renega os encantos naturais nem as tradições de sempre.

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Recomeçamo­s a nossa viagem e o olhar alcança belíssimas paisagens. Já vimos tantas maravilhas, que custa a crer haver ainda tanto por descobrir. Mas há. Curva após curva, reta após reta, ao quilómetro 242 entramos no município de Vila

Nova de Poiares, o qual, bem no centro do distrito, marca a fronteira entre o litoral e o interior do país.

Nos mais pequenos recantos lêem-se detalhes de antigas lendas, tradições e dos povos que por aqui passaram. Os vestígios do seu povoamento remontam ao período Neolítico, como evidencia o Dólmen de

S. Pedro Dias, localizado na serra com o mesmo nome. Os romanos também deixaram a sua marca (aqui passavam importante­s vias militares), bem como os muçulmanos. Já mais tarde, os seus caminhos eram percorrido­s por peregrinos e viajantes, sendo a Albergaria de Poiares referida desde 1258. Hoje, a tradição ainda é o que era. Nas festas e romarias do Concelho, os usos e costumes continuam a transmitir-se com alegria. Como os visitantes são todos bem recebidos, ou não fosse a simpatia dos poiarenses uma das suas riquezas, porque não reservar já uns dias de agosto do próximo ano para fazer a festa com eles?

A inovação e o desenvolvi­mento económico -aqui reside um dos maiores parques industriai­s da região-, harmoniza com a natureza, os costumes, o artesanato e a velha arte da pastorícia de criação de gado caprino.

A vila espraia-se na planura, entre serras e montes, e é refrescada por três rios - Mondego, Alva e Ceira. Depois de um passeio pelas ruas e de conversas com os locais, fomos convidados a visitar um monumento nacional: o Mosteiro de Santa

Maria de Lorvão. Este importante mosteiro, originalme­nte masculino e um dos mais antigos da Europa, foi centro de produção de manuscrito­s iluminados no século XII. Mais tarde, deu lugar a um mosteiro feminino da Ordem de Cister quando a Beata Teresa de Portugal, depois de ter tido três filhos com Afonso IX de Leão, viu o matrimónio ser anulado pelo Papa por consanguin­idade. Foi o “desgosto de amor” que a fez regressar e viver no mosteiro até à sua morte. Entre os tesouros que aqui pode encontrar, estão os túmulos de prata de Santa Teresa e Santa Sancha, netas de D. Afonso Henriques.

Há que aproveitar para provar os Pastéis de Lorvão, um dos doces conventuai­s mais afamados da zona. Como, por estas bandas, a gastronomi­a tem muito que se lhe diga, e ainda mais que “se lhe coma”, prove a Chanfana,o Arroz de Bucho de Poiares e os Poiaritos.

Do Mosteiro de Lorvão avançámos por caminhos florestais até à Garganta do Cabril da

Ceira. Este acidente geográfico natural, onde o rio Ceira é atravessad­o por um longo e alto desfiladei­ro que culmina numa piscina de águas cristalina­s, é um prodígio da natureza e um dos paraísos perdidos de Portugal.

De regresso à estrada, aproveitám­os para tomar um café e carimbar o Passaporte da Estrada Nacional 2. Apesar da fama desta estrada ser relativame­nte recente, o seu traçado funde-se com a história de Portugal, pois muitos dos seus troços já faziam parte das principais vias romanas que atravessav­am a Lusitânia. Com o passar dos anos surgiram novas ligações para transporta­r os bens essenciais de norte a sul do interior do país e, no final do século XIX, denominava-se Estrada Real. Portugal não seria o que é sem a Estrada Nacional 2, tal como ficou designada desde 1945.

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