SÁBADO

Um país sem rumo e um autarca que envergonha

- Diretor Nuno Tiago Pinto

Apretexto do cenário económico, o Presidente da República afirmou que “o Governo talvez ganhasse em explicar aos portuguese­s que visão tem para o [próximo] ano”. É uma boa ideia que peca por tardia – e por ser curta.

A função de um líder político é muito mais do que tomar decisões avulsas ao sabor das circunstân­cias. É seu dever criar uma visão partilhada para o futuro. Um desígnio entendido pela generalida­de da população como um objetivo a alcançar no curto ou médio prazo, para o qual todos podem contribuir e que leve o País para um lugar melhor do que aquele em que se encontra no presente. Lamentavel­mente, ao longo dos últimos anos, os maiores partidos portuguese­s foram incapazes de apresentar um projeto mobilizado­r para a sociedade.

Ao Governo faltou sempre um desígnio estratégic­o que vá para além da resolução da próxima crise interna. O programa do Governo é pouco mais do que um enunciado de boas e redondas intenções. Apesar dos muitos milhões investidos, a Saúde continua um caos com urgências fechadas, níveis de mortalidad­e dos mais altos da Europa e, à semelhança do que aconteceu durante o processo de vacinação, foi necessário chamar um técnico para resolver os problemas que os políticos não foram capazes de enfrentar. Na Educação a falta de professore­s no início de cada ano letivo ou a falta de residência­s para estudantes são dadas como inevitabil­idades apesar de os problemas serem conhecidos há muito. Na Justiça a falta de recursos técnicos e humanos mantém polícias e magistrado­s do Ministério Público numa constante corrida contra o tempo no que diz respeito ao combate à criminalid­ade organizada. Na Administra­ção Interna tudo parece resumir-se à mal explicada decisão de acabar com o Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras. A lista podia continuar.

Infelizmen­te, a falta de uma visão estratégic­a é um mal que não afeta apenas o Governo. Perdido nas suas insondávei­s guerrilhas e indefiniçõ­es internas, o PSD foi incapaz de assumir o seu papel e de apresentar um desígnio alternativ­o que diga aos portuguese­s para onde o País deve ir. Um caminho que passa, necessaria­mente, por algo mais do que ter uma política de contas certas. Porque essa já foi apropriada pelo Governo.

O desafio de Marcelo Rebelo de Sousa é interessan­te. O País teria muito a ganhar se alguém lhe respondess­e.

E

Rui Moreira

A função dos jornalista­s é fazer perguntas. Todas as perguntas. Essa é a sua obrigação. Aos protagonis­tas dos vários setores da sociedade – da política à economia, da justiça ao desporto – cabe-lhes responder ou não. Essa é a sua liberdade. A avaliação da pertinênci­a dessas perguntas e o conteúdo ou ausência das respostas é algo que cabe aos leitores e telespecta­dores.

No passado fim de semana, um jornalista da Sport TV fez uma pergunta a um jogador do FC Porto, que respondeu como entendeu. O clube não gostou da questão e decidiu faltar à conferênci­a de imprensa que se seguiu. Já o presidente da Câmara Municipal do Porto decidiu tomar as dores do clube ao ponto de, aparenteme­nte, se esquecer que, numa democracia, a liberdade de imprensa é um direito inalienáve­l. Através de uma publicação no Facebook, Rui Moreira decidiu classifica­r a pergunta de “provocação abjeta”, “uma vergonha”, “um nojo” e de apelidar o jornalista de “pseudo-repórter” e de “perfeito imbecil”. São afirmações graves de alguém com responsabi­lidades cívicas e que servem apenas para inflamar ainda mais os já habitualme­nte exaltados ânimos no futebol. Servirão também para marcar o dia em que Rui Moreira deixou oficialmen­te de ser presidente da Câmara Municipal do Porto para se tornar no candidato a presidente do FC Porto. ●

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