Um país sem rumo e um autarca que envergonha
Apretexto do cenário económico, o Presidente da República afirmou que “o Governo talvez ganhasse em explicar aos portugueses que visão tem para o [próximo] ano”. É uma boa ideia que peca por tardia – e por ser curta.
A função de um líder político é muito mais do que tomar decisões avulsas ao sabor das circunstâncias. É seu dever criar uma visão partilhada para o futuro. Um desígnio entendido pela generalidade da população como um objetivo a alcançar no curto ou médio prazo, para o qual todos podem contribuir e que leve o País para um lugar melhor do que aquele em que se encontra no presente. Lamentavelmente, ao longo dos últimos anos, os maiores partidos portugueses foram incapazes de apresentar um projeto mobilizador para a sociedade.
Ao Governo faltou sempre um desígnio estratégico que vá para além da resolução da próxima crise interna. O programa do Governo é pouco mais do que um enunciado de boas e redondas intenções. Apesar dos muitos milhões investidos, a Saúde continua um caos com urgências fechadas, níveis de mortalidade dos mais altos da Europa e, à semelhança do que aconteceu durante o processo de vacinação, foi necessário chamar um técnico para resolver os problemas que os políticos não foram capazes de enfrentar. Na Educação a falta de professores no início de cada ano letivo ou a falta de residências para estudantes são dadas como inevitabilidades apesar de os problemas serem conhecidos há muito. Na Justiça a falta de recursos técnicos e humanos mantém polícias e magistrados do Ministério Público numa constante corrida contra o tempo no que diz respeito ao combate à criminalidade organizada. Na Administração Interna tudo parece resumir-se à mal explicada decisão de acabar com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. A lista podia continuar.
Infelizmente, a falta de uma visão estratégica é um mal que não afeta apenas o Governo. Perdido nas suas insondáveis guerrilhas e indefinições internas, o PSD foi incapaz de assumir o seu papel e de apresentar um desígnio alternativo que diga aos portugueses para onde o País deve ir. Um caminho que passa, necessariamente, por algo mais do que ter uma política de contas certas. Porque essa já foi apropriada pelo Governo.
O desafio de Marcelo Rebelo de Sousa é interessante. O País teria muito a ganhar se alguém lhe respondesse.
E
Rui Moreira
A função dos jornalistas é fazer perguntas. Todas as perguntas. Essa é a sua obrigação. Aos protagonistas dos vários setores da sociedade – da política à economia, da justiça ao desporto – cabe-lhes responder ou não. Essa é a sua liberdade. A avaliação da pertinência dessas perguntas e o conteúdo ou ausência das respostas é algo que cabe aos leitores e telespectadores.
No passado fim de semana, um jornalista da Sport TV fez uma pergunta a um jogador do FC Porto, que respondeu como entendeu. O clube não gostou da questão e decidiu faltar à conferência de imprensa que se seguiu. Já o presidente da Câmara Municipal do Porto decidiu tomar as dores do clube ao ponto de, aparentemente, se esquecer que, numa democracia, a liberdade de imprensa é um direito inalienável. Através de uma publicação no Facebook, Rui Moreira decidiu classificar a pergunta de “provocação abjeta”, “uma vergonha”, “um nojo” e de apelidar o jornalista de “pseudo-repórter” e de “perfeito imbecil”. São afirmações graves de alguém com responsabilidades cívicas e que servem apenas para inflamar ainda mais os já habitualmente exaltados ânimos no futebol. Servirão também para marcar o dia em que Rui Moreira deixou oficialmente de ser presidente da Câmara Municipal do Porto para se tornar no candidato a presidente do FC Porto. ●