SÁBADO

REDES SOCIAIS

“Um vídeo de alguém a dançar é algo potente para o cérebro. São uns segundos, mas é como um amendoim salgado, não se come só um”

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a sensação “mais querer do que gostar”. Anna Lembke usa a metáfora de uma balança para compreende­rmos a vontade de querer sempre mais prazer, e porque não é duradouro.

A balança equilibrad­a

Quem nunca sentiu aquela vontade incontrolá­vel de comer só mais um quadrado de chocolate ou de só jogar mais um nível? Tudo se explica porque a balança do prazer no nosso cérebro está a pender para o lado da dor. E isto acontece quer seja com compras, cigarros ou redes sociais. Anna Lembke explica que as mesmas partes do cérebro processam o prazer e a dor e funcionam como pratos de uma balança em lados opostos. “Se fazes algo que te dá prazer esse prato da balança inclina-se para o lado do prazer. Mas há regras a governar este equilíbrio e a balança vai compensar para ficar equilibrad­a”, sublinha a psiquiatra, que é professora na Universida­de de Stanford, nos EUA. Quer isto dizer que depois desse pico de produção de dopamina, a balança inclina-se para o lado da dor. “A forma como o cérebro restaura é ao inclinar a quantidade idêntica ao estímulo para o lado oposto. O lado da dor é quase uma espécie de ressaca.”

Os cientistas batizam este fenómeno como a teoria do oponente. Se isto sempre foi assim, porque piorou? Hoje temos um acesso tão fácil e rápido ao prazer que ficamos viciados. Sempre houve vício do jogo, mas agora está no nosso bolso ou na nossa mala – o telemóvel. “A ideia da noção da dopamina é que estamos sempre num estado de défice de dopamina porque estamos constantem­ente a reforçar o nosso caminho de recompensa­s com estes intoxicado­res rápidos.”

O que à primeira vista pode parecer inofensivo, como ver cinco episódios de uma série ou encomendar roupa, está a causar-nos muito sofrimento. “Estamos cada vez mais miseráveis e aborrecido­s, e sentimos culpa porque temos tanta coisa e depois criamos narrativas de trauma para explicar porque estamos infelizes. Só que a explicação está muitas vezes na abundância e no consumo em excesso. A segunda consequênc­ia é que estamos a destruir o planeta com o nosso consumo em excesso.”

A especialis­ta em Medicina da Adição

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