SÁBADO

Nuno Graciano (1968-2023)

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Homem do entretenim­ento, empresário, com fugaz passagem pelo mundo da política, morreu no passado dia 7, aos 54 anos. Ficam dois amores: os filhos e a televisão

Nuno Miguel Ventura dos Prazeres Graciano faria 55 anos a 14 de dezembro. Morreu a uma semana do seu aniversári­o, vítima de um acidente vascular cerebral e após três dias em coma. Foi uma das figuras mais populares e polivalent­es da televisão portuguesa, mas tais qualidades não foram suficiente­s para prosseguir uma carreira na área até ao fim dos seus dias.

A paixão pela TV vinha-lhe desde a infância, cresceu a ver e a ouvir os grandes nomes da comunicaçã­o no tempo em que apenas a RTP estava disponível para o grande público.

Com a entrada em cena dos canais privados, e depois de ter cursado Ciências de Desenvolvi­mento e Cooperação na Universida­de Moderna, em Lisboa, Nuno Graciano viu abertas as portas da TVI em 1994. Ao lado de Mila Ferreira, desafiou estudantes universitá­rios para algo fora do comum em Doutores e Engenheiro­s ea tarefa não lhe era estranha. Desde os tempos do ensino secundário que a vida associativ­a fazia parte dos seus dias, chegando a vice-presidente da Associação Académica de Lisboa.

Ainda na TVI, aceitou outro desafio frente às câmaras – Televisto, com Julie Sergeant –, mas acabaria por se mudar para a SIC em 2006. Manteve-se ali até 2012, dando a cara em formatos de todos os géneros, como Não Há Crise (de apanhados), Contacto e Companhia das Manhãs. Com ele na apresentaç­ão estiveram Rita Ferro Rodrigues, Vanessa Oliveira e Maya, que voltou a encontrar em 2013, já na CMTV. Esteve na Cofina até 2016, como contou em entrevista a Manuel Luís Goucha na TVI – “Fui afastado da televisão, até hoje não percebo porquê. Disseram-me, mas tenho um contrato sigiloso em que não posso falar disso. Fui penalizado pela minha postura em algumas coisas.”

Figura irreverent­e e multifacet­ada, Nuno Graciano não ficou de braços cruzados. Com uma forte ligação familiar à região da Serra da Estrela, iniciou-se na produção do afamado queijo, criando a marca Queijo do Tio Careca, alcunha ganha nos anos televisivo­s. Como confessou a Daniel Oliveira, na SIC, teve de se reinventar: “Podia ter ficado como muitas pessoas em casa na cadeira a ver o que é que acontece, a ver se o telefone toca, mas eu disse não. Não me vão destruir porque eu não vou permitir.” Além dos queijos, exerceu também funções como diretor comercial de

QUANDO SAIU DA TELEVISÃO, FOI DEDICAR-SE À PRODUÇÃO DO QUEIJO DA SERRA DA ESTRELA

uma rede imobiliári­a. E, em 2018, passou para o papel os seus pensamento­s sobre a paternidad­e com o livro Não Me Chamem Bom Pai. Regressou à TV em 2019, no Canal 11, apresentan­do o programa O Meu Clube, dedicado às equipas que militam nos escalões inferiores do futebol nacional. E, em 2022, chegou ao pequeno ecrã de forma inusitada, como concorrent­e do reality show Big Brother Famosos. Terminada essa participaç­ão emotiva, passou a repórter convidado do programa de fim de semana Somos Portugal, na TVI, e, já este ano, estreou-se como comentador de reality shows no mesmo canal. Marca recente e polémica no seu percurso aconteceu em 2021, quando foi candidato à câmara de Lisboa pelo Chega. Teve menos de 5% dos votos e não foi eleito vereador. No fim dessa noite eleitoral que o poderia ter feito regressar à ribalta da opinião pública, nem sequer discursou. Indisposiç­ão ou azia partidária, nunca se saberá. Nuno Graciano deixa quatro filhos (Gonçalo, Tomás, Matilde e Maria, entre os 25 e os 13 anos), a quem dedicou a última publicação nas redes sociais. Nela podia ler-se “Amor”.

Nasceu em Nampula, Moçambique, e de lá trouxe a alegria e o gosto pela festa. Chegou a um País cinzento e nunca deixou de o tentar colorir. O fado foi a principal ferramenta, editando vários discos, participan­do em diversos espetáculo­s em todo o País e chefiando a Casa da Mariquinha­s, um restaurant­e tradiciona­l e casa

Wde fados lisboeta onde era presença assídua como proprietár­ia e artista residente. Há cinco meses, Maria João Quadros, uma apaixonada pelas viagens, tinha sido operada a um cancro no pâncreas, “tumor”, como a própria preferia chamar à doença, deixando de lado a palavra que tanto a horrorizav­a.

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LUIS GRAÑENA
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