SÁBADO

O debate no PS

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Confesso o meu pouco interesse pelo debate dos candidatos do PS. Já as condições das duas candidatur­as para uma política de alianças para um PS minoritári­o, quer como primeiro, quer como segundo, seriam muito mais interessan­tes de discutir. Como vai lidar Carneiro com um apoio a um PSD como primeiro partido, mas dependente dos votos do Chega? Quais são as condições do PS para viabilizar um governo PSD e evitar a chantagem do Chega? Acabará por ser uma forma qualquer de Bloco Central que, para ter sentido, tem de garantir duração e sustentabi­lidade. Hoje, nas condições actuais, isso é quase impossível. Do mesmo modo, como vai Pedro Nuno Santos ultrapassa­r a agressivid­ade da política externa do PCP, em particular na Ucrânia? E o que é que dará aos partidos fragmentad­os da esquerda, ao Livre, ao Bloco, ao PAN, tanto mais que tudo indica que o número de deputados do PCP vai ser muito pequeno? Se a discussão enunciasse estas mais que prováveis realidades pós-eleitorais seria muito mais esclareced­ora, mas todos querem manter uma hipotética margem de manobra à custa da transparên­cia do voto.

Wúnico país na Europa nessa situação, para além da França, e se exceptuarm­os a Confederaç­ão Helvética. O derrube da monarquia tinha-se sucedido ao Regicídio e tivera génese revolucion­ária, e nos primeiros quase 10 anos o País viveu numa espécie de guerra civil com as incursões monárquica­s. A bandeira actual, pelo qual hoje se choram lágrimas de indignação, foi altamente controvers­a, dando origem a acesas polémicas com aqueles que achavam, então como agora, que as cores azuis e brancas eram as que personific­avam a Pátria com P grande. Ainda hoje, os poucos monárquico­s que restam não a reconhecem como sua, e a ninguém passa pela cabeça chamar-lhes “traidores” ou fazer ameaças físicas e insultos na cloaca das redes digitais.

Acresce que, se eu fosse partidário destas revisões politicame­nte correctas que pretendem higienizar a história, chamaria a atenção para que a “gesta dos descobrime­ntos” da esfera armilar, que é um produto do colonialis­mo da I República e da ideologia imperial do Estado Novo, e faz parte do lastro de pseudo-história que os símbolos nacionais transporta­m. Mas não sou partidário dessa revisão sistemátic­a do passado para o higienizar no presente. Deixem, por isso, a bandeira como está e congratule­m-se por homens como Eduardo Aires lhe darem uma interpreta­ção criativa que não a apouca, antes a melhora.

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