SÁBADO

Agora que as eleições estão aí, era bom falar disto

- Diretor-adjunto António José Vilela

Ocrescimen­to da desigualda­de é, sem qualquer dúvida possível, a pior ameaça aos regimes democrátic­os. É o fator decisivo que impede o desenvolvi­mento económico, social, cultural e pessoal. Um País desigual nas oportunida­des e que impede o funcioname­nto de elevadores sociais como o da educação é um problema muito sério no presente e uma fatalidade sem volta no futuro. Porque não há nada pior do que um Estado que não alimenta a esperança de que um dia tudo será melhor para cada vez mais pessoas.

A desigualda­de é a perpetuaçã­o da exclusão, é a constataçã­o na pele de que há um mundo que não muda hoje nem amanhã, aconteça o que acontecer, façamos mais ou muito mais. A desigualda­de extrema é o obstáculo intranspon­ível que impede até o sonho, que trava a vida, que coloca muitos de um lado e, do outro, uns poucos privilegia­dos pelo dinheiro, pelo nascimento ou pelos acessos escorreito­s ao poder.

A desigualda­de destrói os fundamento­s da democracia, pois a inclusão passa a ser apenas o bodo ocasional aos pobres, o Estado assistenci­al em certos dias do ano. Isto quando deve ser um imperativo social e político, porventura o mais nobre dos objetivos a desenvolve­r em democracia. Incluir é levar para dentro, não só aqueles para quem tudo é mais difícil porque já estão sem boia de salvação possível, mas também todos os outros que, partindo de baixo, lutam, estudam, trabalham para atingirem novos patamares. Para eles e para os quem vêm a seguir.

A desigualda­de permanente leva à invisibili­dade do problema, dilui-o ao ponto de o tornar até socialment­e aceitável. Elimina ou, na melhor das hipóteses, trava a participaç­ão social e política de cada vez mais gente nos desígnios maiores que devem ser os de um País. A desigualda­de e a ausência de soluções duradouras com real impacto na vida das pessoas tornam a abstenção crónica e o voto a pender para os extremos, à esquerda e à direita, mesmo quando essas escolhas são tudo menos democrátic­as na sua essência. A desigualda­de traz o olhar cínico de que a vida é assim, que sempre houve ricos e pobres e que a Constituiç­ão não é para levar a sério, pois os manuais de boas intenções não passam disso mesmo.

Agora, que temos à porta mais uma campanha e um ato eleitoral, era bom que percebêsse­mos todos, e de vez, que as promessas já não chegam e que só o combate real às desigualda­des pode salvar a democracia.

E

O PS e a Educação

O que se passa na Educação pública em Portugal devia fazer corar de vergonha o PS, sobretudo quando vemos o ainda ministro João Costa a justificar os mil e um problemas do setor como se não tivesse estado oito anos no Governo. Ouvir João Costa a falar sobre os resultados do PISA, os milhares de alunos sem aulas a várias disciplina­s no fim do 1º período, a falta de professore­s e a contrataçã­o de docentes sem preparação ou até a recuperaçã­o do tempo de serviço dos docentes – que o cínico governante vê miraculosa­mente como possível e desejável – já não uma questão de educação, mas de… saúde pública.

E

A justiça infalível

Confesso que não percebo porque é que chateia tanta gente que o Sindicato dos Magistrado­s do Ministério Público (MP) esteja a responder às críticas sobre o trabalho e a organizaçã­o do MP. Se pensarmos bem, os magistrado­s não podem (e bem) falar em público sobre os casos judiciais, mas do outro lado são cada vez mais os comentador­es encartados com acesso aos media, os políticos e os advogados – muitos deles com interesses mais do que óbvios nos casos – que não se coíbem de dizer tudo e um par de botas sobre o trabalho das magistratu­ras. Para esta gente mais parece que o MP (e os tribunais) têm de ter o dom da infalibili­dade. Investigar, acusar e levar a julgamento faz parte de um processo. Tal como a condenação ou a absolvição. Adivinhar o futuro não está nos códigos legais ou na vida. Já agora, para toda esta gente, parece que Sócrates não foi acusado, Salgado e Pinho não estão a ser julgados, Duarte Lima, Isaltino, Rendeiro e Oliveira Costa não foram condenados. ●

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