Agora que as eleições estão aí, era bom falar disto
Ocrescimento da desigualdade é, sem qualquer dúvida possível, a pior ameaça aos regimes democráticos. É o fator decisivo que impede o desenvolvimento económico, social, cultural e pessoal. Um País desigual nas oportunidades e que impede o funcionamento de elevadores sociais como o da educação é um problema muito sério no presente e uma fatalidade sem volta no futuro. Porque não há nada pior do que um Estado que não alimenta a esperança de que um dia tudo será melhor para cada vez mais pessoas.
A desigualdade é a perpetuação da exclusão, é a constatação na pele de que há um mundo que não muda hoje nem amanhã, aconteça o que acontecer, façamos mais ou muito mais. A desigualdade extrema é o obstáculo intransponível que impede até o sonho, que trava a vida, que coloca muitos de um lado e, do outro, uns poucos privilegiados pelo dinheiro, pelo nascimento ou pelos acessos escorreitos ao poder.
A desigualdade destrói os fundamentos da democracia, pois a inclusão passa a ser apenas o bodo ocasional aos pobres, o Estado assistencial em certos dias do ano. Isto quando deve ser um imperativo social e político, porventura o mais nobre dos objetivos a desenvolver em democracia. Incluir é levar para dentro, não só aqueles para quem tudo é mais difícil porque já estão sem boia de salvação possível, mas também todos os outros que, partindo de baixo, lutam, estudam, trabalham para atingirem novos patamares. Para eles e para os quem vêm a seguir.
A desigualdade permanente leva à invisibilidade do problema, dilui-o ao ponto de o tornar até socialmente aceitável. Elimina ou, na melhor das hipóteses, trava a participação social e política de cada vez mais gente nos desígnios maiores que devem ser os de um País. A desigualdade e a ausência de soluções duradouras com real impacto na vida das pessoas tornam a abstenção crónica e o voto a pender para os extremos, à esquerda e à direita, mesmo quando essas escolhas são tudo menos democráticas na sua essência. A desigualdade traz o olhar cínico de que a vida é assim, que sempre houve ricos e pobres e que a Constituição não é para levar a sério, pois os manuais de boas intenções não passam disso mesmo.
Agora, que temos à porta mais uma campanha e um ato eleitoral, era bom que percebêssemos todos, e de vez, que as promessas já não chegam e que só o combate real às desigualdades pode salvar a democracia.
E
O PS e a Educação
O que se passa na Educação pública em Portugal devia fazer corar de vergonha o PS, sobretudo quando vemos o ainda ministro João Costa a justificar os mil e um problemas do setor como se não tivesse estado oito anos no Governo. Ouvir João Costa a falar sobre os resultados do PISA, os milhares de alunos sem aulas a várias disciplinas no fim do 1º período, a falta de professores e a contratação de docentes sem preparação ou até a recuperação do tempo de serviço dos docentes – que o cínico governante vê miraculosamente como possível e desejável – já não uma questão de educação, mas de… saúde pública.
E
A justiça infalível
Confesso que não percebo porque é que chateia tanta gente que o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (MP) esteja a responder às críticas sobre o trabalho e a organização do MP. Se pensarmos bem, os magistrados não podem (e bem) falar em público sobre os casos judiciais, mas do outro lado são cada vez mais os comentadores encartados com acesso aos media, os políticos e os advogados – muitos deles com interesses mais do que óbvios nos casos – que não se coíbem de dizer tudo e um par de botas sobre o trabalho das magistraturas. Para esta gente mais parece que o MP (e os tribunais) têm de ter o dom da infalibilidade. Investigar, acusar e levar a julgamento faz parte de um processo. Tal como a condenação ou a absolvição. Adivinhar o futuro não está nos códigos legais ou na vida. Já agora, para toda esta gente, parece que Sócrates não foi acusado, Salgado e Pinho não estão a ser julgados, Duarte Lima, Isaltino, Rendeiro e Oliveira Costa não foram condenados. ●