SÁBADO

Nawaf Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah (1937-2023)

- RICARDO SANTOS

ERA O EMIR DOS PERDÕES, GRAÇAS A UMA POLÍTICA DE ATRIBUIÇÃO DE AMNISTIAS E LIBERTAÇÃO DE PRISIONEIR­OS

O emir do Kuwait era o ministro da Defesa quando o Iraque invadiu o seu país, em 1990, durante a primeira Guerra do Golfo. No cargo mais alto da nação árabe desde 2020, morreu aos 86 anos

Nawaf Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah teve um dos mandatos mais curtos de um líder à frente do Kuwait, desde meados do século XVIII. Foi em 1752 que a família Al-Sabah iniciou o seu percurso de poder na nação árabe, hoje com cerca de 4,5 milhões de habitantes. Desde esse longínquo ano, o Kuwait prosperou, negociou com os países vizinhos e, a partir da década de 30 do século XX, as autoridade­s locais apostaram todas as fichas no negócio do petróleo. Com a independên­cia em relação ao Reino Unido (1961), o Kuwait atingiu um patamar de cresciment­o económico fora do normal e, em agosto de 1990, passou a estar nas bocas do mundo. A invasão e anexação por parte do Iraque, liderado por Saddam Hussein, abriu portas à primeira Guerra do Golfo com participaç­ão dos EUA. Nesse mês de agosto, Nawaf era ministro da Defesa, já depois de ter exercido funções como ministro do Interior (entre 1978 e 1988), cargo a que regressari­a já no século XXI, entre 2003 e 2006, ano em que foi nomeado príncipe herdeiro do Kuwait, durante o reinado do seu meio-irmão, Sabah Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah.

Nawaf, falecido a 16 de dezembro de causas ainda por revelar, nasceu a 25 de junho de 1937 e era o quinto filho do décimo líder do Kuwait, Ahmad Al-Jaber Al-Sabah. Fez os estudos sempre no seu país, não frequentou a universida­de e depressa chegou a uma posição de destaque dentro da família. Aos 25 anos (em 1962), foi nomeado governador do estado de Hawalli e manteve-se no cargo até 1978.

Após a libertação do Kuwait, passou a exercer funções (entre 1991 e 1992) como ministro do Trabalho e Assuntos Sociais, mas a escolha não reuniu consenso. Um grupo de militares de alta patente pediu ao então emir, Jaber Al-Ahmad, o afastament­o do cargo, devido à falta de preparação demonstrad­a durante a invasão iraquiana. As autoridade­s do Kuwait optaram então por afastá-lo do cargo, colocando-o como um dos rostos principais da Guarda Nacional. E aí se manteve até 2003, quando regressou ao Ministério do Interior. Nesse ano, acabou por acumular também as funções de primeiro-ministro adjunto, destacando-se na área da unidade nacional e da cooperação entre os diversos países árabes. Quando Sabah Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah morreu, a 29 de setembro de 2020, Nawaf foi anunciado como novo emir perante a Assembleia Nacional do Kuwait.

O seu mandato pautou-se pela discrição, com o principal objetivo a passar pela estabilida­de económica e pela resolução de disputas políticas internas. Ficou conhecido como o emir dos perdões, graças a uma política de atribuição de amnistias, libertação de prisioneir­os e atribuição de cidadanias.

No fim de novembro deste ano, o xeque Nawaf foi internado de urgência num hospital do Kuwait depois de, em 2021, já se ter deslocado aos EUA por razões médicas não especifica­das. Morreu a 16 de dezembro e deixa mulher, quatro filhos e uma filha. No dia da sua morte ficou a conhecer-se o nome do seu sucessor – Meshal Al-Ahmad Al-Jaber, seu meio-irmão, atualmente com 83 anos – e foi iniciado um período de 40 dias de luto oficial. ●

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LUIS GRAÑENA

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