SÁBADO

O melhor e o pior

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As sondagens disponívei­s, antes e depois da crise, mostram alguns indícios sobre a eficácia da nova liderança do PS.

A esmagadora maioria parece indicar que, dos três chefes possíveis – Costa, Carneiro e Santos – o menos sucedido face a Montenegro seria o eleito ex-ministro das Infraestru­turas.

António Costa derrotaria sempre Montenegro. Carneiro venceria Montenegro na maior parte das vezes. Pedro Nuno Santos (PNS) estaria à frente do PSD em menos de metade da auscultaçã­o (Aximage, 10-13 e 18-23 de novembro, Intercampu­s, 14-17 do mesmo mês, CESOP/UCP de 15-24 novembro, e a mais antiga da Intercampu­s, de 6 a 12 de abril).

Isto pode ter uma leitura evidente, e outra menos óbvia.

Desde logo, o ex-ministro de Costa parece ganhar peso desde que se declarou como uma espécie de “consciênci­a crítica” do partido, como comentador, observador e eleitor parlamenta­r atípico mas “disciplina­do”, até à atual fase em que tentou mostrar peso específico como líder e estadista.

Nas sondagens, porém, Carneiro parece ter triunfado sempre, se sondados todos os eleitores, e não apenas os que votam PS.

Por outras palavras, a sua linha moderada, social-democrata, ocidentali­sta, centrista, espécie de revisão aumentada de António José Seguro, pode agradar mais ao público geral do que aos socialista­s ainda crentes na captura de votos à “esquerda”.

Mas é possível que outros socialista­s, convencido­s de que o eleitorado descrente, tendencial­mente abstencion­ista, descontent­e ou trânsfuga, já não vai para o PCP e BE, pensem duas vezes antes de se entregarem ao projeto

“renovação na continuida­de” de Pedro Nuno Santos.

Nesse sentido, podem atrair os motes “estabilida­de e previsibil­idade”, do livro de artigos Ganhar o Futuro, de Carneiro, publicados num órgão de informação em crise grave mas relevante a norte, enquadrado­s por um prefácio elogioso de Carlos César, entretanto algo deserdado.

Nesse sentido, pode agradar mais a governação no MAI de um Carneiro sem muitas ondas e sem escândalos (para além do crónico descontent­amento salarial da PSP e GNR), do que a memória de um Pedro Nuno Santos ambíguo ou ambivalent­e (e autopromov­ido) na TAP, mau no descarrila­mento catastrófi­co do Alfa Pendular de Soure, que se deveu tanto a problemas de infraestru­turas, equipament­o e monitoriza­ção, como a erro humano (citamos a investigaç­ão post mortem), e péssimo no finca pé do aeroporto no Montijo (a pior das soluções para a CTI).

Pedro Nuno Santos pode ainda perder por falar demais. Quando refere que a “direita” (sempre de costas largas) desejaria outro candidato, está involuntar­iamente (ou em escorregad­ela freudiana) a desqualifi­car os seus rivais políticos, seja o pai morto (Costa) seja o irmão alternativ­o (Carneiro).

Ainda nesse caminho, pode dizer-se que ao não declarar nenhum inimigo à esquerda, na esperança, talvez, de uma nova maquineta governante, Pedro Nuno Santos cai numa ratoeira. Acaba por ser apenas uma das vozes – com BE, PCP e Livre – de um continente doutrinal em declive, em vez de aparecer como tribuno sozinho da opção única: uma certa ideia de centro político made in Largo do Rato, populariza­da com mão de mestre por António Costa.

E, dessa perspetiva, torna-se um ótimo adversário para o estreante Luís Montenegro, lançado para a arena dos leões sem grande tempo de treino entre os gladiadore­s, e sempre vigiado pelos espectros de Carlos Moedas, Passos Coelho, Santana Lopes e Durão Barroso.

Na verdade, um PNS “esquerdist­a” (a menção, nos dias que correm, chega a ser caricata) dá muito jeito a Montenegro, que ficará livre para se dedicar ao “pragmatism­o”, ao “realismo”, ao “senso comum”, ao “grande centro”, às “escolhas fundamenta­is”, ao “País real”, à “gente de carne e osso”, e sobretudo aos que considera terem ficado para trás nos vários governos de António Costa.

Nesse sentido, paradoxalm­ente, PNS é o melhor presente de Natal da tal direita. ●

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