SÁBADO

Laura Lynch (1958-2023)

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Cantora, baixista e produtora das Dixie Chicks até abandonar de forma misteriosa a banda, morreu na semana passada na sequência de um choque frontal

Laura Caroline Lynch iniciou o percurso na música quando, em 1989, se tornou uma das fundadoras da banda Dixie Chicks. Tinha pouco mais de 30 anos e juntou-se às irmãs Strayer (Martie Maguire e Emily) e a Robin Lynn Macy, professora de Matemática do ensino secundário, para fazer nascer uma banda que deixaria marcas na cultura popular norte-americana, em especial nos estados mais a Sul do país.

Lynch nasceu no Texas e foi criada no rancho do avô, perto da fronteira com o México. Antes de se iniciar profission­almente na música, foi corretora da Bolsa de Valores. Nos primeiros tempos da banda, as atuações foram nas esquinas das ruas de Dallas e em restaurant­es locais, nos típicos almoços de domingo. Em compensaçã­o, tinham cachê baixo ou tocavam em troca das refeições.

Laura depressa assumiu o papel de vocalista principal num grupo onde banjo, guitarra, bandolim e violino estavam bem presentes, procurando dar um som mais alegre e desempoeir­ado a um género musical conservado­r, a country music. Ou, como a própria referiu em entrevista: “A nossa marca de música cowgirl é uma mistura de country dos velhos tempos, bluegrass e acústica”.

O caminho para chegar ao nome do grupo não foi simples. No início, a proposta passava por Dixie Chickens, mas o elenco feminino da banda não aprovou a ideia de serem conhecidas por “galinhas” e acabaram por optar pela versão reduzida “Chicks”, termo que pode ser livremente traduzido por “miúdas”. A banda acabaria, em 2020, por mudar de nome, para The Chicks. Em causa estava a ligação histórica do termo “Dixie” aos tempos da escravatur­a nos EUA, no momento que o país vivia os acontecime­ntos liagdos ao assassinat­o policial de George Floyd em Minneapoli­s, no estado do Minnesota.

O primeiro álbum das Dixie Chicks (Thank God for Dale Evans) foi lançado em 1990. Abriu caminho a mais sete trabalhos de estúdio, levando a que a banda tenha vendido – até agora – cerca de 33 milhões de discos em todo o mundo. Laura Lynch, no entanto, não chegou a saborear esses tempos, já que abando

“ESTARIA PRONTA A FICAR NOVAMENTE ANÉMICA E REPETIR TUDO O QUE FIZEMOS”

nou definitiva­mente a formação em 1995. As razões continuam a ser desconheci­das, mas depressa foi substituíd­a por Natalie Maines. Um dos elementos originais, Martie Maguire, um ano após a saída, deu uma explicação pública: “Estávamos a enfrentar o sétimo ano do grupo, a começar a reavaliar tudo. Onde queríamos estar daí a cinco anos? Não creio que Laura se visse realmente na estrada nos cinco anos seguintes”. Afastada da música, Laura Lynch tornou-se Relações Públicas do Centro Médico da Universida­de do Texas Southweste­rn, dedicou-se à pintura a óleo e investiu tempo na educação da filha. Com Lynch fora do cenário, a banda alcançou sucesso nacional, tocou na tomada de posse de Bill Clinton e, em 2003, criticou o então presidente George W. Bush pela invasão do Iraque. A porta-voz foi a substituta, Natalie Maines. Até hoje, e com a denominaçã­o de Chicks, o grupo venceu 13 prémios Grammy. Lynch morreu a 22 de dezembro, perto de Cornudas, no Texas. Ia ao volante do seu carro quando lhe surgiu outro veículo pela frente. Tinha 65 anos.

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LUIS GRAÑENA

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