Tom Wilkinson (1948-2023)
Foi espião, stripper, mafioso, rei e presidente em dezenas de papéis que o levaram à conquista de prémios e reconhecimento. O ator inglês morreu a 30 de dezembro
Nasceu em Leeds, mudou-se com a família para o Canadá (onde viveram 5 anos) e regressou ao Reino Unido com 16 anos - os pais, Marjorie e Thomas, aceitaram o desafio de gerir um pub em Cornwall, mas os planos saíram furados. Nesse ano de 1964, o pai morreu e a mãe decidiu mudar-se para Yorkshire.
O adolescente Thomas Geoffrey Wilkinson fez o ensino secundário na escola King James e adquiriu aí o gosto pela representação. Quando chegou o momento de escolher a via universitária, Tom não teve dúvidas: Literatura Inglesa e Americana na Universidade de Kent, na Cantuária. Não satisfeito, em 1973 tirou a pós-graduação na Academia Real de Arte Dramática, em Londres. Por essa altura, Tom já representava e dirigia atores, amadores e universitários, em pequenas produções locais, mas tardou pouco a chegar ao cinema. Em 1976 estreou no filme “Smuga cienia”, de Andrzej Wajda, e quatro anos depois, chegou aos palcos consagrados de West End londrino, interpretando a personagem de Horácio numa versão de “Hamlet”, de William Shakespeare. Correu bem, ao ponto de ter sido nomeado para o prémio Laurence Olivier de Melhor Ator Secundário.
Entre cinema, teatro e televisão, Tom Wilkinson iniciou uma carreira profissional que quase atingiu os 50 anos. Foram mais de 200 produções nos mais variados estilos, dando corpo a personagens fictícias e personalidades históricas, de vários momentos da história da Humanidade. Em comum a todas elas, a entrega de um profissional talentoso e de excelência (reconhecido pelos seus pares ao longo dos anos). Wilkinson via nos colegas de cena peças fundamentais, mas nunca deixou de ser crítico quanto ao papel dos atores: “É fácil trabalhar com todos os bons atores. A maior dificuldade são aqueles que não são assim tão bons”.
Durante a década de 1990, o ator inglês começou a dar nas vistas ao grande público em filmes como “Em Nome do Pai” (1994), com Daniel Day-Lewis e Emma Thompson, e “Sensibilidade e Bom Senso” (1995), realizado por Ang Lee. Seria, no entanto, em 1997 que se tornaria um dos favoritos do público. Nesse ano, Tom Wilkinson despiu-se de preconceitos em “The Full Monty - Ou Tudo ou
Nada” e interpretou um homem de meia-idade que, com os amigos, se torna stripper amador numa cidade em crise. Ganhou o BAFTA de Melhor Ator Secundário e a sua vida nunca mais foi a mesma.
Seguiram-se “A Paixão de Shakespeare” e “Hora de Ponta” (ambos lançados em 1998), “O Patriota”, de 2000, com Mel Gibson, “Vidas Privadas” (2001), que lhe valeu a nomeação para o Óscar de Melhor Ator, e “Rapariga com Brinco de Pérola”, de 2003. No ano seguinte, entrou para a galeria dos atores em filmes de culto, no papel do médico Howard Mierzwiak em “O Despertar da Mente”. No original, “Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, com as participações de Jim Carrey e Kate Winslet. A lista de sucesso é tal que
Tom Wilkinson participou em oito produções que acabaram nomeadas para Melhor Filme do seu ano nos Óscares. Apenas a “Paixão de Shakespeare” acabou por ganhar. Wilkinson entrou no Batman de 2005, trabalhou com Woody Allen e George Clooney em 2007, foi Benjamin Franklin numa minissérie para a televisão dos EUA, e vestiu a pele de militar nazi alemão, com Tom Cruise, em 2008, e de um dos Kennedy em 2011 - valeu nomeação para um Emmy. “O Escritor Fantasma” (2010), “Missão Impossível: Operação Fantasma” (2011), “O Exótico Hotel Marigold” (2012), “Selma” e “Grand Hotel Budapeste” (ambos de 2014) são outros dos muitos filmes onde espalhou classe e inteligência. Tom Wilkinson vivia na zona norte de Londres, com a mulher, a também atriz Diana Hardcastle, estrela de séries televisivas como “Midsomer Murders” e do cinema, onde também fez parte do elenco de “O Exótico Hotel Marigold”. Foi uma boa oportunidade para estarem juntos em trabalho, já que Tom era bastante avesso a ausências prolongadas da família. terá sido essa a razão para recusar o convite para entrar em “O Senhor dos Anéis”. A Oceânia é longe de mais. O casal tem duas filhas, Alice e Molly, e toda a família estava reunida quando, a 30 de dezembro, o ator inglês morreu de forma inesperada. ●
“TOM TORNAVA CADA PROJETO MELHOR, CADA ATOR MELHOR. ERA O EPÍTOME DA ELEGÂNCIA” - GEORGE CLOONEY