OJOTINHA RADICALE OSAMIGOS BLOQUISTAS DOISEG
Começou muito novo no PS, onde chegou a líder da JS. Fez parte da ATTAC, organização por uma globalização alternativa, e participou no Movimento Anti-Tradição Académica. E foi na faculdade que conheceu futuros dirigentes do BE
Pedro Vaz, um dos seus amigos mais antigos na política, conheceu-o quando Pedro Nuno tinha 16 anos, num Congresso distrital da JS em Oliveira de Azeméis. Pedro Vaz era o coordenador da JS em Estarreja e Pedro Nuno liderava a estrutura em São João da Madeira. A afinidade foi imediata. “O que nos juntou foi ideologia”, conta à SÁBADO Pedro Vaz, que se lembra já na altura de ouvir o amigo falar de “desigualdades e social-democracia”.
Por essa época, o cavaquismo reinava no País e o PSD tinha acabado de conquistar Estarreja. Estar no PS era estar na oposição. António Guterres embarcava então na campanha “Razão e Coração” e os dois jovens socialistas corriam o distrito na caravana de Afonso Candal, o candidato do PS por Aveiro.
A vida de Pedro Nuno Santos era já dominada pela política e muito feita por dentro da máquina do PS. “Ainda não se conseguia perceber o carisma, pelo menos à primeira vista. Mas vontade e empenho sempre teve. Era um bocadinho diferente. Já tinha consistência nas intervenções”, conta Pedro Vaz, que se cruzava com ele muitas vezes em iniciativas distritais da JS que, quase sempre, acabavam “com umas festas” em bares e discotecas. A socialização era, por isso, muito feita no meio da política e havia de ser na JS que Pedro Nuno Santos conheceria aquela que viria a ser a sua mulher e a mãe do seu filho Sebastião, Catarina Gamboa.
Aos 18 anos foi eleito para a Assembleia da Junta de Freguesia de São João da Madeira e, coisa pouco comum, presidia àquele órgão. “Ele tinha uma audácia, uma inteligência e uma convicção que fazia com que se distinguisse”, comenta à SÁBADO Jorge Vultos Sequeira, que conheceu Pedro Nuno quando ele tinha apenas 14 anos e o viu dar os primeiros passos na política. Era claro que o seu caminho se faria por aí, mas antes Pedro Nuno Santos rumou a Lisboa, para estudar Economia no ISEG. A escolha da escola não foi inocente: era uma das mais à esquerda no pensamento
económico e isso foi determinante para que tivesse vindo viver para a capital em vez de estudar no Porto como a irmã.
Os amigos bloquistas
O ISEG acabaria por ser um lugar importante para o seu futuro político. Foi aí que firmou uma das amizades mais importantes para o seu percurso, com Duarte Cordeiro, que ajudou a trazer para o PS e que esteve consigo na liderança da Associação de Estudantes, por onde andavam figuras de várias outras esquerdas, com quem se haveria de cruzar também na construção da geringonça de António Costa a partir de 2015.
Como estudante, fez parte da ATTAC (uma organização não governamental por uma globalização alternativa, que defendia a chamada Taxa Tobin, um imposto sobre movimentações financeiras internacionais especulativas), participou no MATA (Movimento Anti-Tradição Académica) e também se associou a uma plataforma de solidariedade com os índios de Chiapas. Foi assim que conheceu os hoje dirigentes bloquistas Jorge Costa e José Gusmão.
Gusmão e o economista João Rodrigues (autor do livro Oneoliberalismonãoéumslogan) estiveram com Pedro Nuno Santos na criação do Ladrões de Bicicletas, em 2007, um blogue que definia como “um espaço de opinião de esquerda, socialista” e que pretendia combater a ideia de que não há uma alternativa às políticas económicas neoliberais.
Por essa altura, era já líder da JS. Tinha sido eleito em 2004, depois de ter partido para a corrida quase sem apoios. “Não tinha uma base de apoio. Eu fui o primeiro apoiante dele”, diz à SÁBADO Jorge Vultos Sequeira, hoje presidente da Câmara de São João da Madeira. A conquista do aparelho foi feita numa digressão pelo País no Renault Laguna de Sequeira. “Fui e vim de carro com ele num sábado a Lisboa só para convencer uma pessoa”, conta.
Foi como líder da JS que chegou ao Parlamento, nas legislativas de 2005. E foi nessa condição que se envolveu na luta pela despenalização do aborto. A sua “primeira grande batalha política”, como descreve Duarte Cordeiro. Pedro Nuno chegou à jota prometendo uma JS “mais radical e irreverente” e “unir o que estava dividido”, depois de a eleição de Jamila Madeira (que derrotou Ana Catarina Mendes por um voto) ter provocado feridas internas.
Uma das peças-chave nessa reorganização interna da JS foi Francisco César (filho de um histórico do partido, Carlos César), que era na altura o número dois de Pedro Nuno Santos na jota. César e Pedro Nuno cimentaram aí uma proximidade política e uma amizade pessoal que se mantêm até hoje. Francisco foi diretor da campanha interna de Pedro na corrida à liderança do PS.
Pedro Nuno Santos começou nessa época a deixar aquela que foi a sua marca como líder da jota: correndo o País, criou e manteve afinidades, e foi construindo um discurso mais marcadamente ideológico que fez escola entre os socialistas mais novos.
Em 2009, avançou com a candidatura à Câmara de São João da Madeira. A batalha contra o veterano Castro Almeida do PSD custou-lhe o lugar de deputado: nesse ano, a regra era quem fosse candidato autárquico não podia estar nas listas das legislativas. Sem surpresa, o candidato de 32 anos perdeu a Câmara, mas ficou como vereador. ●
O FILHO DE CARLOS CÉSAR, FRANCISCO, FOI O Nº 2 DE PEDRO NUNO SANTOS NA JUVENTUDE SOCIALISTA