DE MINISTRO FALHADO À LIDE RANÇADO PS
A passagem pelo Executivo não trouxe obra que se visse e caiu em desgraça. Mas não morreu politicamente e agora está apostado em suavizar a imagem de radical
Quando em fevereiro de 2019 o primeiro-ministro António Costa o chamou para ser ministro das Infraestruturas, muitos avisaram-no de que era um “presente envenenado”: teria uma das maiores crises da década para resolver, a habitação, uma ferrovia em mau estado, os portos a braços com greves de estivadores e a TAP. Pedro Nuno Santos não hesitou, estava contente por ter uma pasta tão importante.
A sua vida no Ministério não seria fácil, mas ainda assim começou bem. Aplacou uma greve de motoristas pesados que ameaçava bloquear o País, deixando-o sem combustíveis. Foram meses de negociações, com o Governo a servir de intermediário entre o sindicato e os patrões. Mas Pedro Nuno Santos tinha outros fogos sindicais a que acorrer e um deles era particularmente sensível: o da greve dos estivadores do Porto de Lisboa, com salários em atraso.
Pedro Nuno Santos foi duro com o sindicato dos estivadores. Em maio de 2020 decretou a requisição civil para manter os portos a funcionar, mesmo com o sindicato a garantir que estava a cumprir os serviços mínimos. E, quando foi decretado o Estado de Emergência por causa da pandemia, a suspensão do direito à greve esmagou o protesto.
Havia outros trabalhadores que se queixavam de não serem ouvidos por um ministro que se dizia à esquerda. Ficaram gravadas, em abril de 2021, as acusações que lhe eram feitas pela Comissão de Trabalhadores da Infraestruturas de
Portugal, que reclamava uma audição. “Se há coisa que eu faço é reunir-me com sindicatos e comissões de trabalhadores. Faço mais do que qualquer um já fez nesta função”, respondeu o ministro.
Tiago Faria Lopes, do sindicato dos pilotos (SPAC) da TAP, lembra-se de um ministro “duro”, que começou por fazer “uma apresentação de uma hora” na primeira reunião para deixar claro como aquela classe era privilegiada. “Foi uma hora de chá”, conta o sindicalista à SÁBADO. Faria Lopes sentiu “várias vezes” que o ministro estava a “empurrar os pilotos para a greve”, que nunca fizeram. Mas dá-lhe “o mérito de ser um fazedor” e de “resolver impasses”.
A TAP acabaria, de resto, a ser o motivo da sua saída do Governo. Pedro Nuno Santos não hesitou em pôr dinheiro na companhia aérea quando a pandemia deixou todos os aviões no chão e o privado não estava disponível para injetar capital. “Eu salvei a TAP”, é uma frase que ainda não se cansa de dizer, mas que lhe vale também críticas
FOI DURO COM O SINDICATO DOS ESTIVADORES. EM MAIO DE 2020 DECRETOU A REQUISIÇÃO CIVIL
A TAP ACABOU POR SER O MOTIVO DA SUA SAÍDA DO GOVERNO. “EU SALVEI A TAP”, É UMA FRASE QUE AINDA DIZ
pelos 3,2 mil milhões de euros postos pelo Estado na empresa.
Seria, contudo, um valor bem mais modesto a fazê-lo cair: 500 mil euros pagos de indemnização a Alexandra Reis, que autorizou por WhatsApp, passando dias a dizer que não se lembrava de ter autorizado, até ter encontrado a mensagem em que o fez.
Afinal, já não é um radical?
Mesmo no consulado das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos nunca deixou de fazer a “rota da carne assada”, mantendo vivas as relações com as estruturas socialistas de norte a sul do País. E assim continuou quando se demitiu do Governo em dezembro de 2022 e voltou para a estrada para controlar a máquina interna do partido. Durante esse tempo, dedicou-se também mais à família e levou sempre que pôde o filho Sebastião à escola e aos treinos de hóquei, foi para o ginásio melhorar a forma, mas acima de tudo trabalhou a máquina socialista. Nem uma polémica como a da TAP lhe refreou a vontade de ser líder do PS.
A demissão de António Costa por causa da Operação Influencer só acelerou os planos, que estavam feitos a contar com 2026 e com tempo suficiente para se afastar das polémicas e ganhar popularidade como comentador na SIC Notícias, um fato em que acabou por não se sentir muito à vontade e que teve audiências relativamente baixas. Confessou várias vezes a amigos que se sentia “tenso” nesse papel. Pedro Nuno Santos é um político de combate, que se sente mais confortável no debate do que no comentário.
Ainda assim, limou o estilo para disputar o PS com José Luís Carneiro, quando percebeu que o principal trunfo do seu adversário era apresentar-se como “moderado”. Pedro Nuno passou as últimas semanas a tentar descolar da imagem de “radical”, dentro e fora do partido. Ganhou os apoios dos mais importantes membros da ala direita do partido: Sérgio Sousa Pinto, Francisco Assis, Álvaro Beleza, Ascenso Simões.
Na campanha interna, foi buscar João Gomes de Almeida, o especialista em comunicação que trabalhou com André Ventura e o social-democrata Alexandre Poço e que, como Pedro Nuno, é de São João da Madeira. Tem procurado puxar pelos galões de empresário e evitado qualquer ideia de rutura com o legado costista. A sua missão é mostrar que não é “o líder do PS que a direita quer ter”, conquistando o centro. Para o fazer, terá de suavizar ainda mais o discurso esquerdista sem se descaracterizar ao ponto de soar a falso. A tarefa é difícil. ●
ENQUANTO MINISTRO AUTORIZOU POR WHATSAPP UMA INDEMNIZAÇÃO DE €500 MIL