SÁBADO

COMO ELE PENSA

O líder do PS abomina elogiar privados, não quer parcerias público-privadas na Saúde e sente culpa quando se descobre que comprou um carro de luxo

- Por Alexandre Malhado

Durante a campanha interna para líder do PS, Pedro Nuno Santos deixou uma garantia: “Nunca fui esquerdist­a.” Em entrevista ao comentador Daniel Oliveira, garantiu ser “sempre social-democrata”. Contudo, nos 20 anos do seu percurso político, tem estado mais próximo dos partidos à esquerda do PS do que ao centro do seu partido.

Aliar à esquerda radical

Pedro Nuno Santos foi um dos artífices da geringonça. Após as legislativ­as de 2015, o então secretário de Estado dos Assuntos Parlamenta­res liderou as negociaçõe­s com PCP e BE, com quem foi feito o acordo de incidência parlamenta­r que permitiu ao PS governar. Hoje é líder socialista e está disponível para repetir a formula: “O que aconteceu em 2015 teve, como é sabido, todo o meu apoio, e se houver condições para liderarmos uma maioria, assim será”, referiu aos jornalista­s no início de dezembro.

A proximidad­e aos partidos à esquerda do PS é antiga. Durante a discussão sobre se Portugal deveria pagar a dívida soberana nas condições exigidas pelo credores internacio­nais, Pedro Nuno Santos, então vice da bancada parlamenta­r do PS, aproximou-se da linha do BE. Ao lado do ex-líder do BE Francisco Louçã, publicou o relatório Um Programa Sustentáve­l para a Reestrutur­ação da Dívida Portuguesa, que defendia o adiamento do pagamento da dívida em décadas e a redução substancia­l de juros.

Mais público, é melhor

No congresso do PS em 2018, Pedro Nuno Santos teve um dos discursos mais aplaudidos da noite – e citou Karl Marx. “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidad­es”, afirmou. E acrescento­u: “A verdade é que é uma máxima que tem tradução concreta numa das maiores realizaçõe­s da democracia: o Estado Social.” Volvidos cinco anos, o seu primeiro discurso enquanto líder socialista gira à volta do mesmo: “É preciso um novo impulso na reforma do Estado Social.”

Seja na Saúde, Educação (e até TAP), quanto menos privado me

No dia 16 de dezembro, Pedro Nuno Santos foi eleito secretário-geral do PS com 62% dos votos lhor. Na Saúde, desvaloriz­a as parcerias público-privadas: “O objetivo do nosso SNS não é privatizar ou complement­ar com o privado. Não, o que queremos mesmo é salvar o nosso SNS”, disse. Quanto à companhia aérea, diz que se vencer vai “fazer um esforço para abrir o capital sem perder a maioria”.

Culpa de rico, pois sim

Ao anunciar a sua candidatur­a a líder do PS, o socialista falou de ter crescido “com as dificuldad­es das famílias trabalhado­ras”. Contudo, desde que foi eleito líder da JS em 2004, tem acumulado várias polémicas – e quase todas relacionad­as com o vasto património familiar. Em 2017, comprou um Porsche (e vendeu-o no mesmo ano). “Não é coerente com aquilo que quero fazer e com a forma como quero estar na política”, disse. Este ano, a SÁBADO revelou que amortizou (com a mulher) 450 mil euros de um crédito bancário em poucos meses. O seu pai, Américo Santos, é dono da Tecmacal, uma das maiores empresas de equipament­os industriai­s no setor do calçado. ●

EM 2018, PEDRO NUNO SANTOS CITOU KARL MARX PARA ELOGIAR O ESTADO SOCIAL. HOJE QUER REFORMÁ-LO

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