COMO ELE PENSA
O líder do PS abomina elogiar privados, não quer parcerias público-privadas na Saúde e sente culpa quando se descobre que comprou um carro de luxo
Durante a campanha interna para líder do PS, Pedro Nuno Santos deixou uma garantia: “Nunca fui esquerdista.” Em entrevista ao comentador Daniel Oliveira, garantiu ser “sempre social-democrata”. Contudo, nos 20 anos do seu percurso político, tem estado mais próximo dos partidos à esquerda do PS do que ao centro do seu partido.
Aliar à esquerda radical
Pedro Nuno Santos foi um dos artífices da geringonça. Após as legislativas de 2015, o então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares liderou as negociações com PCP e BE, com quem foi feito o acordo de incidência parlamentar que permitiu ao PS governar. Hoje é líder socialista e está disponível para repetir a formula: “O que aconteceu em 2015 teve, como é sabido, todo o meu apoio, e se houver condições para liderarmos uma maioria, assim será”, referiu aos jornalistas no início de dezembro.
A proximidade aos partidos à esquerda do PS é antiga. Durante a discussão sobre se Portugal deveria pagar a dívida soberana nas condições exigidas pelo credores internacionais, Pedro Nuno Santos, então vice da bancada parlamentar do PS, aproximou-se da linha do BE. Ao lado do ex-líder do BE Francisco Louçã, publicou o relatório Um Programa Sustentável para a Reestruturação da Dívida Portuguesa, que defendia o adiamento do pagamento da dívida em décadas e a redução substancial de juros.
Mais público, é melhor
No congresso do PS em 2018, Pedro Nuno Santos teve um dos discursos mais aplaudidos da noite – e citou Karl Marx. “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”, afirmou. E acrescentou: “A verdade é que é uma máxima que tem tradução concreta numa das maiores realizações da democracia: o Estado Social.” Volvidos cinco anos, o seu primeiro discurso enquanto líder socialista gira à volta do mesmo: “É preciso um novo impulso na reforma do Estado Social.”
Seja na Saúde, Educação (e até TAP), quanto menos privado me
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No dia 16 de dezembro, Pedro Nuno Santos foi eleito secretário-geral do PS com 62% dos votos lhor. Na Saúde, desvaloriza as parcerias público-privadas: “O objetivo do nosso SNS não é privatizar ou complementar com o privado. Não, o que queremos mesmo é salvar o nosso SNS”, disse. Quanto à companhia aérea, diz que se vencer vai “fazer um esforço para abrir o capital sem perder a maioria”.
Culpa de rico, pois sim
Ao anunciar a sua candidatura a líder do PS, o socialista falou de ter crescido “com as dificuldades das famílias trabalhadoras”. Contudo, desde que foi eleito líder da JS em 2004, tem acumulado várias polémicas – e quase todas relacionadas com o vasto património familiar. Em 2017, comprou um Porsche (e vendeu-o no mesmo ano). “Não é coerente com aquilo que quero fazer e com a forma como quero estar na política”, disse. Este ano, a SÁBADO revelou que amortizou (com a mulher) 450 mil euros de um crédito bancário em poucos meses. O seu pai, Américo Santos, é dono da Tecmacal, uma das maiores empresas de equipamentos industriais no setor do calçado. ●
EM 2018, PEDRO NUNO SANTOS CITOU KARL MARX PARA ELOGIAR O ESTADO SOCIAL. HOJE QUER REFORMÁ-LO