Pão e circo
Com passes de magia, com promessas de alimento e divertimento, o povo também é corrompível pelo poder. Quando Decimus Junius Juvenalis, no fim do século I, satirizou esse comércio de votos e favores, não sabia que havia de influenciar a ficção científica, os filmes e as distopias do nosso tempo, e o debate político que vemos diariamente.
Curiosamente, houve um pouco de Juvenal no discurso jovem de Pedro Nuno Santos, em fecho de Congresso. E passou algo despercebido. Ou (ainda) sem consequências, retificações, adendas ou “desdramatização”.
Quando, na análise do mundo empresarial e da sua relação com o Estado, explicava que a ação política é sobretudo um caminho de escolhas (embora sempre em “cooperação”, o que resulta contraditório), criticou a prática de atribuição de ajudas a todos, para que ninguém ficasse descontente. Prática que assacou, segundo alguns, ao seu próprio partido governante, ou, na mente de outros, presumivelmente aos antepassados da experiência.
Vamos por partes. O crucial está entre os 15 e os 17 minutos do discurso de sagração.
Começou por referir que, numa economia de mercado, os empresários têm obviamente liberdade para investir, desenvolver e produzir onde entenderem. Mas acrescentou que, ao invés desta soberania empresarial, o Estado precisa de escolher em que áreas investir.
“Dir-me-ão que foi sempre assim, mas isso não é inteiramente verdade.” Aplausos ligeiros, como quem não tinha a certeza da conclusão. PNS continuou, referindo que, “nas últimas décadas”, o Estado decidiu apoiar e investir em todos os setores e tecnologias, “pulverizando” apoios, com “programas de incentivo para todas as