Rute Lopes
tra vigilância para verificar se estava a ser vigiado e seguido pela polícia ou até por outros indivíduos que pudessem querer apoderar-se da cocaína”, lê-se na acusação do MP.
Convencido de que estava a ser seguido – como de facto estava a acontecer –, ligou a Francisco M. a dar conta da situação, recebendo instruções para não levar a carrinha para o armazém no Passil, mas para a deixar no parque de estacionamento de uma loja no Montijo. Marcos ligou então à mulher, Rute L., para que esta avisasse Francisco M. sobre a sua localização. Combinaram que deixariam o veículo no parque de estacionamento. Pouco depois, Francisco apanhou Marcos e seguiram os dois para Lisboa. Mal sabiam que nessa noite, a PJ iria apreender a carrinha.
Ameaças e violência
No dia seguinte, Marcos regressou ao Montijo, convencido que ia encontrar a carrinha no parque de estacionamento, para descobrir que tinha desaparecido. Francisco informou Wanderson O. do sucedido: nem a carrinha nem a carga estavam no local onde as tinham deixado. Tudo se complicou.
Wanderson O. avisou imediatamente o grupo que tinha enviado a droga do Brasil, bem como o grupo que a ia receber, na Sérvia. Os traficantes decidiram tomar medidas. Todos estavam convencidos de que Francisco M. os queria enganar. Enviaram então quatro homens
PCC em Portugal Presença do grupo no País tem vindo a aumentar
Flávio O. (três da Sérvia e um do Brasil) com indicações claras: usar “todos os meios necessários, incluindo violência” para descobrir o paradeiro da carga, lê-se na acusação do MP.
Até chegarem estes homens, Francisco M. ficou sob vigilância de Wanderson O., que chegou inclusive a dormir no apartamento da Avenida D. João II.
O grupo brasileiro enviou Flávio O., que chegou a ser condenado a 104 anos de prisão no Brasil por latrocínio (roubo seguido de morte). É que Flávio matou um homem e os estava a par do tráfico e usou o seu acesso a uma plataforma de seguros para ajudar o marido a identificar carros da polícia seus dois filhos, um deles menor, em Vargem Grande do Sul, no Brasil.
A 15 de outubro, quatro dias depois da apreensão da PJ, chegaram a Portugal os três sérvios mandatados para a recuperar a droga: Uros P., Aleksandar S. e Nenad K. Juntamente com Wanderson O. fizeram Francisco refém, convencidos de que tinha sido ele a orquestrar o roubo.
Marcos também não escapou à violência, apesar de ter tentado explicar que nada sabia do desaparecimento da carrinha. Os sérvios não acreditaram. Segundo a acusação do MP, Marcos e Francisco foram agredidos com várias chapadas na cabeça. O objetivo era que revelassem o paradeiro da droga. Terá sido então que Marcos mencionou a hipótese de ter sido a polícia a apreender a carrinha e pediu uma oportunidade para o provar. Wanderson O. e os sérvios concordam e deixaram que Marcos saísse na condição de procurar provas de que era a polícia que tinha a droga. Antes disso, ameaçaram Francisco: se em cinco dias a carga não aparecesse matá-lo-iam, à mulher e às suas filhas.
Quando finalmente conseguiu sair, Marcos ligou a Rute, sua mulher, e pediu-lhe que avisasse a esposa de Francisco M. que ela e as filhas deveriam refugiar-se num lugar seguro. O rapto parecia estar longe de chegar do fim, porque os sérvios e Wanderson O., bem como o brasileiro Flávio O., que chegara entretanto, decidiram mudar os planos. Agora, iam levar Francisco para Espanha. Só que uma paragem para comer – numa Pizza Hut –, mudou tudo. A PJ deteve-os nesse momento.
Francisco ficou em liberdade, sendo detido a 11 de novembro, quando tentava embarcar com a mulher e uma das filhas para Nice, França. Marcos foi detido no mesmo dia. O MP acusou Wanderson O. e os três sérvios do crime de tráfico de droga, associação criminosa, sequestro e um crime de coação agravada. Francisco M., Marcos M. e Flávio O. foram acusados de um crime de tráfico de droga e de associação criminosa para o tráfico. Rute L. foi acusada de ser cúmplice de um crime de tráfico de estupefacientes. ●