Sem resposta
Hospital de Santa Maria não revela o nome do médico A SÁBADO
Em abril do ano passado deu o passo decisivo e avançou, segundo indicação médica, para uma intervenção cirúrgica, um Sleeve gástrico, para redução do estômago. A cirurgia realizou-se no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e aparentemente tinha corrido bem, já que a alta foi passada um dia depois. Mas, o que parecia ter sido um sucesso cirúrgico, transformou-se num pesadelo. “Estava a descer no elevador para ir para casa quando comecei a sentir uma dor muito forte no estômago, comecei a deitar sangue pela boca e só me lembro de dizer ao meu namorado, que não conseguia andar mais.”
Gonçalo Leitão, namorado de Tatiana há três anos, recorda os momentos de aflição que se seguiram. “Era o caos naquele hospital, estava cheio, não havia cadeiras de rodas, ninguém que nos ajudasse”, diz à SÁBADO visivelmente perturbado, como se estivesse a reviver naquele momento, um dos piores dias da sua vida.
Tatiana já não chegou a sair do hospital. “Passei a noite numa maca no corredor, cheia de dores, sem saber o que me tinha acontecido. Lembro-me que estavam muitas pessoas, vi pessoas ao meu lado a morrer.” Um relato duro do que terá sido aquela noite e o que se seguiu. “Sei que estive em coma, houve um apagão, nem tive tempo de me despedir de ninguém. Quando acordei, a minha família disse-me que estive cerca de duas semanas a dormir, sem reação. Nunca ninguém nos explicou o que aconteceu, ainda hoje não sei!”, diz à SÁBADO.
Ângela Tavares, mãe de Tatiana, garante que procurou explicações, que nunca lhe foram dadas. “Houve uma médica que apenas me disse que tinha havido um problema com os agrafos, que teriam furado o estômago, não sei…”
Ainda hoje a família não sabe o que aconteceu, nem tão pouco quem foi o médico que operou Tatiana. “Nunca veio falar connosco, nem sei quem é”, garante à SÁBADO Ângela Tavares.
Tatiana esteve internada durante um mês e meio. Nesse período, foi sujeita a nova intervenção para colo
pediu uma entrevista com o médico que acompanhou Tatiana nas várias intervenções cirúrgicas, cujo nome nunca nos foi dado pelo próprio hospital.
quis prestar quaisquer esclarecimentos. Tatiana entrou no Hospital de Santa Maria pelo próprio pé e agora está numa cadeira de rodas.
“A TATIANA PASSA O DIA A VOMITAR, DEMORA TRÊS HORAS PARA BEBER 30 ML DE SUMO”, DIZ VIRGÍNIA LEITÃO
cação de uma prótese, um procedimento cirúrgico indicado quando existe uma fístula ou quando há uma obstrução que impede a normal passagem de alimentos. A nota de alta confirma isso mesmo e a 18 de junho é mandada para casa.
Sem melhorias aparentes, seguiram-se várias idas às urgências do Santa Maria. Em setembro voltou a estar internada depois de ter desmaiado em casa. “A Tatiana passa o dia a vomitar, não consegue comer nada e demora três horas para beber 30 mililitros de sumo! Passa os dias praticamente sozinha, confinada a uma cadeira de rodas, à espera que alguém chegue a casa. Isto não é viver!”, conta Virgínia Leitão, sogra de Tatiana.
Tatiana está agora com menos 80 quilos. “Não sei o que é comer sólidos há oito meses, basicamente alimento-me de sopa, que vou comendo com muita dificuldade. Água não consigo beber e sumo é como se estivesse a mastigar uma pastilha. Não consigo fazer nada sozinha, nem sequer ir à casa de banho. Tenho de esperar que alguém chegue a casa para me ajudar”, conta. A SÁBADO testemunhou isso mesmo num dos dias da reportagem. Gonçalo Leitão teve de regressar de Palmela, onde trabalha, porque Tatiana tinha ficado presa na casa de banho. Só teve tempo de ligar e pedir ajuda.
A jovem vai definhando à espera de explicações. “O hospital considerou este caso pouco urgente, marcou exames para março e uma consulta para abril, acha normal?”, questiona o namorado.
De quem é a responsabilidade?
Maria João Cunha, a advogada que resolveu ajudar pro bono Tatiana, já pediu a abertura de um inquérito, para que se apurem eventuais responsabilidades. “Existem indícios de que poderá ter havido negligência médica. A Tatiana esteve em perigo de vida depois de ter tido alta, como é óbvio, algo não correu bem”, diz à SÁBADO a advogada, que coloca também a hipótese de responsabilizar o próprio hospital. “Quando há falta de prestação de cuidados aos doentes, os hospitais também podem ser responsabilizados ao nível cível, independentemente de haver aqui um ilícito criminal. E neste caso, a Tatiana não tem sido devidamente acompanhada.”
Para Maria João Cunha, a sua principal preocupação é que lhe sejam prestados cuidados médicos com urgência. “A Tatiana tem de ser salva, de dia para dia, está a morrer aos poucos”, explica à SÁBADO, justificando desta forma o seu envolvimento pessoal no caso e a decisão de dar esta entrevista à SÁBADO. Oito meses depois da primeira intervenção cirúrgica, Tatiana está totalmente dependente de terceiros. “Tenho vontade de morrer, mas também tenho medo de morrer. Sou apenas uma miúda que não quer ficar agarrada a uma cama ou a uma cadeira de rodas.” ●