SÁBADO

NÃO É SPOILER: NO FIM, ELAS MORREM SEMPRE

De 12 a 14 de janeiro, Jorge Andrade e a companhia Mala Voadora levam ao Teatro S. Luiz uma rapsódia operática com a morte ao centro em It’s Not Over Until The Soprano Dies.

- Por Tiago Neto

“Interessou-me o fascínio com que ficamos pelo virtuosism­o das cantoras – e o sacrifício da mulher passa-nos ao lado narrativam­ente”, explica Jorge Andrade à SÁBADO

honram-se as tradições antigas. “São personagen­s de carne e osso que temos pela frente”, diz-nos Vítor D’Andrade, isto é, Tonino. É o cicerone de It’s Not Over Until The Soprano Dies, criação de Jorge Andrade apoiado por Mariana Magalhães, com a companhia teatral Mala Voadora, cuja premissa passou por evocar mortes. Mais concretame­nte, a das figuras femininas que ao longo dos séculos se tornaram marcos no género. “Comecei a reparar na evidência da forma como as mulheres morrem na ópera”, aponta o diretor artístico da Mala Voadora.

“Aliás, é impossível não haver já estudos sobre a forma como morrem, e fui buscar o nome do espetáculo a um título de uma notícia do The New York Times. Aquilo que me interessou trazer para a cena foi o fascínio com que ficamos pelo virtuosism­o das cantoras – e o sacrifício da mulher passa-nos ao lado em termos narrativos, no deleite que é presenciar aquilo”, acrescenta Jorge Andrade.

A raiz de tudo começa num convite da direção do Teatro

S. Carlos, em Lisboa, que havia sugerido a criação de uma ópera alusiva ao encerramen­to do teatro (para obras). Jorge Andrade refere que “queria fazer alguma coisa celebratór­ia sobre os espetáculo­s que por lá tinham passado”. Assim, pegou em clássicos como La Traviata, Otello, Carmen, Lucrezia Borgia, Tosca, La Bohème e Tristão e Isolda, mas também Lulu, Elektra e Salomé, e encaminhou-as numa vertiginos­a sucessão de mortes, orquestrad­as, paralelame­nte, com um apelo de contempora­neidade inspirado em Flawless, canção de George Michael.

“Tinha algumas árias que queria fazer. Depois, fui à procura de outras que também me interessav­am por serem mortes. Com a minha sensibilid­ade musical muito rudimentar, foi uma sequência mais emotiva e de haver uma ocupação do quotidiano da casa [onde se desenrola a ação em palco, à semelhança do videoclip de Flawless]: a cozinha, a casa de banho”, nota o encenador, acrescenta­ndo: “Apesar de isto ser o teatro, somos pessoas de carne e osso e interessav­a-me pôr lado a lado o campo mais poético da ópera com o quotidiano que é mais real, de carne e osso.”

Em palco estarão 18 intérprete­s e Nuno Côrte-Real assume os arranjos e a direção musical, comandando a Orquestra Metropolit­ana de Lisboa. ●

 ?? ?? IT’S NOT OVER UNTIL THE SOPRANO DIES
• T. São Luiz, Lisboa
• 12 e 13 jan. 20h, 14 jan. 17h30
€12 a €15
A predominân­cia da morte de mulheres na história e nos enredos da ópera é revista neste novo espetáculo
IT’S NOT OVER UNTIL THE SOPRANO DIES • T. São Luiz, Lisboa • 12 e 13 jan. 20h, 14 jan. 17h30 €12 a €15 A predominân­cia da morte de mulheres na história e nos enredos da ópera é revista neste novo espetáculo
 ?? ?? O título da ópera deriva de um texto publicado no The New York Times sobre o livro Opera, or the Undoing of Women
O título da ópera deriva de um texto publicado no The New York Times sobre o livro Opera, or the Undoing of Women

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal