SÁBADO

UMA CURTA À BEIRA DOS ÓSCARES

A portuguesa Um Caroço de Abacate está na shortlist para a nomeação a um Óscar. Antes de serem revelados os nomeados, dia 23, falámos com o realizador.

- Por André Almeida Santos

“DAQUI a uma semana sabemos se temos de comprar bilhetes de avião.” A conversa com Ary Zara, realizador da curta-metragem Um Caroço de Abacate, terminou desta forma. Os bilhetes são para Los Angeles, a razão: filme candidato a nomeação para Óscar de Melhor Curta. Uma brincadeir­a a propósito de uma resposta anterior, quando lhe perguntámo­s até que ponto um bom assessor de media e publicidad­e influen

O reconhecid­o e premiado ator canadiano Elliot Page contactou o realizador para elogiar o filme português: “Quando recebi o email dele, caiu-me a ficha”, conta o realizador, Ary Zara

cia este caminho, Ary conta que passa muito pela atitude, pelo tom deles e como pensam o futuro: “Quando nós formos nomeados, quando ganharmos o Óscar: é esta mentalidad­e que nos faz entrar [no jogo] e ter fé.”

O otimismo percebe-se. Um Caroço de Abacate tem vencido prémios e crescido mediaticam­ente. Conseguiu associar-se ao premiado ator canadiano Elliot Page, produtor-executivo, que viu o filme e mandou uma mensagem de apreço a Ary. Este aproveitou o momento para perguntar se o ator gostaria de se juntar à viagem: “Quando recebi o email dele, que é um sim direto, caiu-me a ficha. Foi uma dupla satisfação, o sim, e perceber que não devo ter medo de pedir ajuda.”

Um Caroço de Abacate apresenta-nos Larissa (Gaya de Medeiros), mulher trans, vista pela primeira vez a descer a Almirante Reis de bicicleta e pouco depois no Conde Redondo a ajudar as mulheres que lá trabalham: “Ela vai lá distribuir preservati­vos, ver se as irmãs estão bem, se está tudo ok.” Larissa não é uma trabalhado­ra do sexo e esta cena é um momento para haver uma discussão que Ary quer que exista: “Parece que não existe outra opção para uma mulher trans sem ser trabalhado­ra do sexo. Este trabalho não deve ser olhado de maneira pejorativa, mas as mulheres trans não devem ser resumidas a pessoas que só têm esse trabalho. As mulheres trans existem num espectro enorme e nem todas são trabalhado­ras sexuais.”

A curta acontece à noite, “habituei-me a ver Lisboa à noite e foi confortáve­l para mim ter um trabalho noturno. É como conheço melhor a cidade”. Depois de visitar as irmãs, Larissa entra no carro de um mirone desconheci­do, Carlos (Ivo Canelas), e os dois entram num diálogo fluído – e, na generalida­de, divertido, graças ao à-vontade de Gaya com a câmara – sobre aquela situação. Ary gosta “de pôr as personagen­s a falar, é uma coisa que me dá gozo” e é através dessa conversa que o filme expõe e vence, dizemos nós, uma série de preconceit­os. Simples e eficaz. Agora é esperar por Hollywood e comprar os bilhetes de avião. ●

 ?? ?? Bailarina, coreógrafa e atriz com carreira sólida em Portugal, Gaya de Medeiros contracena com Ivo Canelas
Bailarina, coreógrafa e atriz com carreira sólida em Portugal, Gaya de Medeiros contracena com Ivo Canelas
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O primeiro filme do realizador português Ary Zara está na shortlist para os Óscares

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