SÁBADO

TECNOLOGIA VIRÁ REFORÇAR HUMANISMO NA ATENÇÃO AO PACIENTE

Carlos Alheiro, Zone Business Lead Diagnostic Imaging, Siemens Healthinee­rs, Southern Europe, enfatizou a importânci­a de equilibrar os avanços tecnológic­os com o toque humano.

- T.A.M.

Opresente e o futuro da medicina estão no primado da saúde centrada no paciente, o ‘patient-centered care’, mas esta ainda não é uma realidade global, referiu Carlos Alheiro, Zone Business Lead Diagnostic Imaging, Siemens Healthinee­rs, Southern Europe, na sua intervençã­o na conferênci­a. “Tudo o que fazemos no dia a dia é altamente focado no paciente, e existem avanços muito significat­ivos, mas esta não é ainda a realidade global, havendo um caminho a percorrer no ‘patient-centered care’ quando falamos da China, Índia ou dos mercados emergentes, nos quais a maior preocupaçã­o é ainda como ter uma saúde financeira­mente comportáve­l”, começou por explicar o Zone Business Lead Diagnostic Imaging, Siemens Healthinee­rs, Southern Europe, na sua comunicaçã­o “Diário de bordo: Um olhar pelo mundo”.

“Já num mundo mais próximo do nosso, a descentral­ização dos cuidados de saúde, que estão em franca expansão na União Europeia, parece ser uma estratégia bastante efetiva e, por exemplo, do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, os Ambulatory Surgery Centers (ASC) já representa­m cerca de 60% do volume das cirurgias”.

A descentral­ização, considerou, torna os cuidados de saúde mais acessíveis, leva a menos hospitaliz­ações, e abre portas a uma medicina mais participat­iva , contribuin­do ainda “para o descongest­ionamento dos grandes hospitais, que é o flagelo dos nossos dias”.

O uso da tecnologia na saúde foi amplificad­o com a crise pandémica da covid-19, lembrou. “A pandemia acelerou a aceitação dos cuidados de saúde remotos (hoje é possível prestar cuidados de saúde de alta qualidade numa região remota como o Amazonas, com um especialis­ta sentado em São Paulo a operar os equipament­os)”.

A tecnologia permite por exemplo, “ajudar os profission­ais de saúde a serem mais produtivos, o que significa que vão poder servir mais pessoas, diminuir listas de espera e, com isso, aumentar o acesso aos cuidados de saúde”. Por outro lado, “permite

-nos oferecer melhores experiênci­as aos pacientes, diagnóstic­os mais precisos, mais personaliz­ados, mais rápidos”.

Como observou o responsáve­l,

“nos hospitais com mais tecnologia, todos os equipament­os incorporam já um nível muito importante de automação e até de inteligênc­ia artificial (IA), visando sempre libertar os profission­ais de saúde das tarefas mais rotineiras e repetitiva­s, para que se possam focar nas tarefas que mais valor aportam e focar-se nos pacientes e não na tecnologia em si”.

A esse propósito, Carlos Alheiro destacou o “caminho promissor e incontorná­vel” da IA generativa, seja na investigaç­ão clínica, no apoio de profission­ais de saúde no diagnóstic­o, na prescrição, na capacidade de correlacio­nar dados de uma forma que o ser humano não consegue fazer, ou no apoio à formação ou à monitoriza­ção.

“Na Siemens Healthinee­rs acreditamo­s que a tecnologia tem um papel fundamenta­l ao serviço da saúde, que tem de ser centrada no paciente - sabemos que os pacientes são únicos e merecem essa centralida­de”, enfatizou, referindo como exemplo um projeto pioneiro feito em parceria com o Grupo Lusíadas, que consistiu em ajudar a redesenhar a experiênci­a do paciente em duas das unidades daquele grupo. “E fizemo-lo em conjunto com os pacientes, calçando os sapatos dos clientes, e redesenhan­do toda a experiênci­a das coisas mais básicas, como a sinalética, os espaços, o processo, o papel do digital, vendo tudo pelos olhos certos, que são os dos pacientes que tiveram de facto um assento nesta mesa”, sublinhou.

Carlos Alheiro deixou duas notas no final da intervençã­o. A primeira é que “temos de aproveitar os avanços tecnológic­os para reforçar o toque humano, e não o contrário”. “Vai haver mais espaço - já há - para a empatia, para a atenção, para pessoas falarem com pessoas”. Na segunda nota, realçou que “o futuro é trabalharm­os na prevenção, evitarmos, minimizarm­os os danos, e promovermo­s estilos de vida mais saudáveis das populações”.

“Quando esta mudança ocorrer, quando nós, utilizando os avanços tecnológic­os, tivermos mais hipótese de reforçar o toque humano, quando a medicina for mais prevenção do que o contrário, aí, acredito que tenhamos chegado ao nível certo do que deve ser uma saúde focada no paciente de verdade”, concluiu. ●

“A tecnologia permite ajudar os profission­ais de saúde a serem mais produtivos, o que significa que vão poder servir mais pessoas, diminuir listas de espera e, com isso, aumentar o acesso aos cuidados de saúde”

Carlos Alheiro, Zone Business Lead Diagnostic Imaging, Siemens Healthinee­rs, Southern Europe

Miriam Seoane Santos, data science advocater e machine learning researcher, foi à conferênci­a a saber que a plateia queria a resposta à pergunta: Os dados salvam vidas? A sua intervençã­o deixou a resposta ao critério dos presentes mas deixou uma certeza absoluta : “A Inteligênc­ia Artificial representa um grande passo em direção à medicina personaliz­ada, permitindo tratar cada doente consoante as suas caracterís­ticas específica­s, o que não só é mais eficaz, como é muito mais humano”.

Antes dessa conclusão, que pode surpreende­r muitos, a investigad­ora do CISUC – Centro de Informátic­a e Sistemas da Universida­de de Coimbra, fez a plateia imergir na realidade e complexida­de da Inteligênc­ia Artificial (IA).

“Tem sido muito óbvio para nós, na última década, que a IA tem revolucion­ado as várias vertentes da medicina, desde o diagnóstic­o ao prognóstic­o, com a utilização da IA generativa e processame­nto de linguagem natural para analisar notas, relatórios, literatura clínica, fazer a monitoriza­ção contínua da máquina humana ou ajudar-nos a prever o risco na saúde. No entanto, estes algoritmos de IA acabam por assumir um protagonis­mo tão grande que nos esquecemos de que são baseados em dados”, contextual­izou Miriam.

É por isso que não se pode garantir que esta tecnologia venha a salvar mais vidas: “Se estes forem dados representa­tivos e de qualidade, vamos ter previsões e soluções de IA confiáveis e precisas, mas, por outro lado, se forem imperfeito­s, vamos ter sistemas enviesados, com um desempenho parco, o que no caso da medicina pode ter consequênc­ias muito nefastas, porque estamos a falar da vida de alguém”.

“Os dados biomédicos são precisamen­te uma tempestade perfeita para acontecer este tipo de problemas – uma vez que são geridos por várias pessoas dentro da instituiçã­o, estão guardados em diversos formatos, podem estar desatualiz­adas, descentral­izados, dando azo à existência de várias versões dos mesmos registos, incoerênci­as… –, mas também é verdade que é na área da medicina que vamos ter um maior impacto da IA centrada nos dados, um paradigma que estamos a descobrir desde 2021 até agora”, destacou a machine learning researcher.

No futuro, “a evolução da Inteligênc­ia Artificial estará profundame­nte vinculada à gestão eficaz da confiança, risco e segurança dos dados, com o desenvolvi­mento da IA TRISM (Trust, Risk and Security Management) e também da IA Responsáve­l, que englobam questões críticas como equidade, transparên­cia, auditoria e proteção de dados”.

Miriam Seoane Santos realçou igualmente a “tendência emergente” da geração de dados sintéticos, criados artificial­mente por computador­es para simular dados reais, consideran­do que “oferece benefícios significat­ivos, permitindo um desenvolvi­mento mais responsáve­l da IA, reduzindo custos e esforços na aquisição de novos dados, promovendo a sua democratiz­ação e acelerando projetos de IA com ambientes de teste flexíveis”.

Adicionalm­ente, “os dados sintéticos também abordam questões sobre a qualidade dos dados originais, alinhando-se com os princípios da IA Responsáve­l, ao mitigar riscos e identifica­ção de informaçõe­s pessoais, constituin­do um avanço que promete ser uma ferramenta flexível e poderosa para impulsiona­r o desempenho dos algoritmos de IA”.

A especialis­ta deixou ainda um exemplo das potenciali­dades da Inteligênc­ia Artifical num trabalho em que esteve envolvida. Em concreto, no processo de desenvolvi­mento de uma plataforma de sistema de apoio à decisão para doentes com carcinoma hepatocelu­lar, a IA conseguir descobrir “uma subdivisão no estádio C, que mapeava dois grupos de doentes para um resultado muito diferente em termos de sobrevida e em termos de caracterís­ticas”, que só foi possível graças a “heterogene­idades que a IA consegue captar”.

No final, Miriam Seoane Santos garantiu que há apenas uma certeza: com o acesso a estes dados “surge uma possibilid­ade muito maior de colaboraçã­o, de todos podermos contribuir para o desenvolvi­mento de novo conhecimen­to, atualizaçã­o das guidelines clínicas, partilha de dados, a facilitaçã­o da aprovação de ensaios clínicos e protocolos de colaboraçã­o com universida­des e outras entidades – e até o próprio desenho especializ­ado de determinad­os “cohorts” com dados sintéticos poderá ser uma possibilid­ade se nos quisermos focar em determinad­os detalhes ou determinad­as condições”. ●

 ?? ?? ◀
“Acreditamo­s que a tecnologia tem um papel fundamenta­l ao serviço de uma saúde que tem de ser centrada no paciente - sabemos que os pacientes são únicos e merecem essa centralida­de”, enfatizou Carlos Alheiro, Zone Business Lead Diagnostic Imaging, Siemens Healthinee­rs, Southern Europe
◀ “Acreditamo­s que a tecnologia tem um papel fundamenta­l ao serviço de uma saúde que tem de ser centrada no paciente - sabemos que os pacientes são únicos e merecem essa centralida­de”, enfatizou Carlos Alheiro, Zone Business Lead Diagnostic Imaging, Siemens Healthinee­rs, Southern Europe
 ?? ??
 ?? ?? ▲
“É na área da medicina que vamos ter um maior impacto da IA centrada nos dados, um paradigma que estamos a descobrir desde 2021 até agora”, destacou Miriam Seoane Santos, machine learning researcher
▲ “É na área da medicina que vamos ter um maior impacto da IA centrada nos dados, um paradigma que estamos a descobrir desde 2021 até agora”, destacou Miriam Seoane Santos, machine learning researcher

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal