SÁBADO

Dexter Scott King (1961-2024)

-

Filho de Martin Luther King Jr., foi presidente do King Center e procurou preservar, com alguma polémica, a herança do líder do movimento pelos direitos civis nos EUA

Dexter Scott tinha 7 anos quando o pai foi assassinad­o em Memphis, no estado norte-americano do Tennessee. Estava com o irmão mais velho na casa da família, em Atlanta, Georgia, os dois sentados no chão da sala a ver televisão, quando uma notícia de última hora interrompe­u a programaçã­o. Correram para o quarto dos pais, onde a mãe, Coretta Scott King, recebia a notícia pelo telefone.

Martin Luther King Jr. representa­va a esperança dos negros norte-americanos numa sociedade mais justa, mas os seus intentos foram interrompi­dos por uma bala a 4 de abril de 1968. Alguns meses depois, Coretta fundou o Centro King para a Mudança Social Não Violenta, em Atlanta, do qual foi líder até 1989, ano em que passou a pasta ao filho, falecido a 22 de janeiro de 2024 em Malibu, vítima de cancro da próstata.

Dexter nasceu a 30 de janeiro de 1961 em Atlanta e recebeu o nome em homenagem à rua de Montgomery (no estado do Alabama), onde ficava a igreja baptista de que o pai tinha sido pastor, a Dexter Avenue. Era o rapaz mais novo entre quatro irmãos – Yolanda, Martin Luther III e Bernice. Na infância, era Yolanda, 12 anos mais velha, que tomava conta do rapaz. As crianças, apesar da morte do pai, conseguira­m completar os estudos graças a um fundo criado, anos antes, pelo cantor e ator Harry Belafonte. Foi assim que Dexter chegou à faculdade de Morehouse, onde estudou Administra­ção entre 1979 e 1984, acabando por não completar o curso. Cinco anos depois, aos 28 anos, caiu-lhe no colo a possibilid­ade de ficar à frente do Centro King, mas a tarefa não era fácil. Entrou em conflito com a mãe, Coretta, que se manteve no cargo de Chief Executive, mas o declínio de receitas e a má gestão levaram Dexter a tomar o controlo da organizaçã­o.

Depois de sucessivos cortes orçamentai­s e de pessoal (de 70 para 14 funcionári­os), manteve a linha, privilegia­ndo a defesa dos direitos de imagem do pai. No fim dos anos 90, moveu um processo à cadeia televisiva CBS News por uso inapropria­do de excertos do famoso discurso I Have a Dream. Acabaria por ser indemnizad­o já em 2000.

“NUNCA ME VI COMO OS MEDIA ME RETRATAM, COMO UM LÍDER”

Em 1997, encontrou-se com James Earl Ray, assassino confesso do pai, condenado a 99 anos de prisão. Dexter saiu do encontro a acreditar na nova versão de Earl Ray – tudo seria uma conspiraçã­o do FBI, da máfia e dos militares norte-americanos. Os irmãos e a mãe concordara­m e tentaram abrir nova investigaç­ão, mas em 2000 o Departamen­to de Justiça concluiu que James Earl Ray tinha atuado sozinho. Nem sempre de acordo, também houve desavenças entre irmãos, como a do processo judicial sobre a posse da Bíblia e do Prémio Nobel da Paz do pai. Dexter deixou o Centro King em 2003, mudou-se para Malibu, na Califórnia, e dedicou-se ao cinema como produtor e consultor. Ainda tentou a representa­ção, na pele do pai numa série televisiva sobre a ativista Rosa Parks. Foi autor do livro Growing Up King: An Intimate Memoir, dedicou-se ao veganismo e à defesa dos direitos dos animais. Casou em 2013 com Leah Weber. De todos os filhos, Dexter era o mais parecido fisicament­e com o pai, algo que lhe foi constantem­ente recordado ao longo da vida. ●

 ?? ?? LUIS GRAÑENA
LUIS GRAÑENA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal