O VINHO TEM DE SER DESMISTIFICADO
A diretora da Garrafeira Imperial, uma das mais reconhecidas de Lisboa, fala da necessidade de simplificar o mundo do vinho para o público e partilha a sua escolha para o tempo frio – um rosé.
É preciso ter uma base de prova, mas parece mais difícil do que é – se houver algum interesse qualquer pessoa pode perceber bastante de vinhos
ENTREVISTA MARIANA SIQUEIRA Como caracteriza a seleção de vinhos da Garrafeira Imperial?
Apesar de serem muitas referências, mais de 1.600, tentamos que seja uma seleção cuidada, que sejam vinhos de detalhe e que marquem a diferença. Cerca de 85% dos nossos vinhos são portugueses, mas queremos introduzir vinhos estrangeiros para que as pessoas descubram coisas novas e aprendam, também. Gostamos muito dessa componente didática: costumamos dizer que a loja é uma biblioteca de vinhos porque cada garrafa tem uma história lá dentro que conta algo sobre o vinho, a região, quem o fez e sobre nós mesmos.
Qual o maior obstáculo à aprendizagem do vinho?
O mundo do vinho é muito toldado pelo snobismo e pelo vocabulário difícil e não me identifico com isso. O vinho tem de ser desmistificado. De que me adianta dizer que o vinho tem notas de bergamota se a pessoa não sabe o que é? Temos de adaptar o nosso discurso para que toda a gente se sinta à vontade, porque o vinho é história e cultura, mas também é prazer. É claro que é preciso ter uma base de prova: como é que se pega num copo, porque é que o agito antes de cheirar, o que devo procurar quando cheiro e quando provo. Mas parece mais difícil do que é – se houver algum interesse qualquer pessoa pode perceber bastante de vinhos.
O que são vinhos de inverno?
Há vinhos que são mais bem apreciados quando as temperaturas estão mais baixas. Apetece-nos mais comidas de conforto, como assados e comida de tacho, e podemos procurar vinhos que harmonizam bem com essa comida. Tentamos apresentar brancos, tintos e rosés mais estruturados, com algum estágio em barrica, de forma a ganharem mais camadas e volume de boca. Vinhos brancos e rosés serão mais consumidos com mais calor, mas podem perfeitamente ser adaptados à gastronomia de inverno. Da mesma forma que há tintos mais leves que são perfeitamente passíveis de se beber em pleno verão.
Que vinho recomenda para a estação?
Quis escolher algo diferente, menos óbvio, e optei pelo Giz Vinhas Velhas (€25), um rosé da casta Baga, da Bairrada. As vinhas estão entre o sopé da serra do Bussaco e a costa, numa zona muito fresca, e dão muito poucas garrafas, mas a concentração das uvas, com notas florais e sugestão da baunilha proveniente do estágio em barrica, dá-lhe bom volume de boca e grande complexidade. Vai casar perfeitamente com pratos de marisco, cozido, massada de peixe, arroz de marisco e até alguns pratos de carnes brancas. ●