À espera de Trump
APÓS OS RESULTADOS esmagadores nas assembleias eleitorais do Partido Republicano no estado do Iowa e New Hampshire, Donald Trump dissipou todas as dúvidas sobre a sua designação pelo partido para a corrida à Casa Branca. E entrou, definitivamente, nos cálculos de muitos responsáveis políticos nacionais e internacionais.
Neste contexto, existem dois grupos à espera de Donald Trump. O primeiro é composto pelo conjunto dos autocratas globais, como Putin (Rússia), Netanyahu (Israel), Xi Jinping (China), Khamenei (Irão) e Kim Jong-un (Coreia do Norte). Em virtude dos resultados eleitorais esmagadores, obtidos pelo movimento MAGA (Make America Great Again), o grupo de ditadores mundiais ficou com a impressão de que a reeleição de Trump como POTUS (Presidente dos Estados Unidos) representa um cenário cada vez mais provável.
Por isso, vão efetuar um compasso de espera, nas suas intentonas expansionistas e nos seus processos de concentração e manutenção do poder, pela entrada de Trump no palco internacional, que avaliam como ou enfraquecimento (ou mesmo o fim) da democracia americana e do seu papel-charneira na política internacional.
A vitória de Trump significará uma viagem à borla para as suas aspirações conquistadoras. Assim, como cominará a uma debilidade calamitosa para as suas cobiçadas presas geopolíticas, a União Europeia, NATO, Ucrânia, Coreia do Sul, Taiwan, e o que resta dos palestinianos na Palestina, entre outras, dependentes da proteção securitária e do apoio financeiro do mundo ocidental.
O segundo grupo à espera de Donald Trump, são os carcereiros norte-americanos. Impendem sobre Trump mais de 90 acusações criminais, decorrentes de 15 processos judiciais, espalhados pelos tribunais de júri de vários estados norte-americanos. Ademais, alguns destes terão desenvolvimentos importantes, paralelamente ao caminho das eleições presidenciais de novembro.
Trump já obteve a primeira condenação no Tribunal de Nova Iorque, ao pagamento de uma indemnização de quase 84 milhões de USD, por uma acusação de (simples) difamação. Presságios dos tempos vindouros ou daquilo que podemos esperar da justiça americana.
Existem, pelo menos, três investigações muito gravosas a decorrer contra o Trump: o inquérito à subversão/insurreição de 6 de janeiro de 2020 (o julgamento inicia em março); inquérito à posse ilegal de documentos classificados guardados na casa banho da sua residência particular da Flórida (o julgamento terá início em maio) e o inquérito à interferência de Trump enquanto POTUS, nas eleições do estado da Geórgia (as acusações estão previstas para agosto).
Sem esquecer que, no início de fevereiro, devemos ficar a saber da decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) sobre a eventual aplicação da 14ª emenda constitucional ao ex-Presidente. Embora, teoricamente, a composição do STJ lhe seja politicamente favorável, os juízes do Supremo tendem a avaliar e decidir, em casos similares, com a seriedade ética e o profissionalismo jurídico, exigido pela sua função, sujeita ao peso da história.
Para Trump, tudo isto não passa de lawfare (guerra judicial), levada a cabo contra a sua pessoa pelos Democratas, incitados por Joe Biden. Uma cabala que visa impedi-lo de ser reeleito Presidente. Trump irá usar a sua presença em tribunal para fazer campanha eleitoral, apresentando-se como vítima de uma conspiração do deep state (estado secreto que manipula o destino da América e do mundo), apelando, emocionalmente, à desforra do movimento MAGA.
É bastante provável que Trump seja objeto de mais condenações em tribunal, sendo que, algumas destas, o poderão levar à prisão. Trump já afirmou, durante a atual campanha eleitoral, que seria uma great idea (grande ideia), os Estados Unidos experimentarem a determinação de um ditador para resolver os problemas do país.
A casa americana encontra-se, outra vez, dividida. Caso as previsões jurídicas se confirmem, poderá Trump incitar o MAGA à sedição e à secessão? Tal desvario, atiçaria o rastilho da segunda guerra civil americana, tudo em nome da sua salvação. ●