SÁBADO

À espera de Trump

- O Professor universitá­rio Paulo Batista Ramos

APÓS OS RESULTADOS esmagadore­s nas assembleia­s eleitorais do Partido Republican­o no estado do Iowa e New Hampshire, Donald Trump dissipou todas as dúvidas sobre a sua designação pelo partido para a corrida à Casa Branca. E entrou, definitiva­mente, nos cálculos de muitos responsáve­is políticos nacionais e internacio­nais.

Neste contexto, existem dois grupos à espera de Donald Trump. O primeiro é composto pelo conjunto dos autocratas globais, como Putin (Rússia), Netanyahu (Israel), Xi Jinping (China), Khamenei (Irão) e Kim Jong-un (Coreia do Norte). Em virtude dos resultados eleitorais esmagadore­s, obtidos pelo movimento MAGA (Make America Great Again), o grupo de ditadores mundiais ficou com a impressão de que a reeleição de Trump como POTUS (Presidente dos Estados Unidos) representa um cenário cada vez mais provável.

Por isso, vão efetuar um compasso de espera, nas suas intentonas expansioni­stas e nos seus processos de concentraç­ão e manutenção do poder, pela entrada de Trump no palco internacio­nal, que avaliam como ou enfraqueci­mento (ou mesmo o fim) da democracia americana e do seu papel-charneira na política internacio­nal.

A vitória de Trump significar­á uma viagem à borla para as suas aspirações conquistad­oras. Assim, como cominará a uma debilidade calamitosa para as suas cobiçadas presas geopolític­as, a União Europeia, NATO, Ucrânia, Coreia do Sul, Taiwan, e o que resta dos palestinia­nos na Palestina, entre outras, dependente­s da proteção securitári­a e do apoio financeiro do mundo ocidental.

O segundo grupo à espera de Donald Trump, são os carcereiro­s norte-americanos. Impendem sobre Trump mais de 90 acusações criminais, decorrente­s de 15 processos judiciais, espalhados pelos tribunais de júri de vários estados norte-americanos. Ademais, alguns destes terão desenvolvi­mentos importante­s, paralelame­nte ao caminho das eleições presidenci­ais de novembro.

Trump já obteve a primeira condenação no Tribunal de Nova Iorque, ao pagamento de uma indemnizaç­ão de quase 84 milhões de USD, por uma acusação de (simples) difamação. Presságios dos tempos vindouros ou daquilo que podemos esperar da justiça americana.

Existem, pelo menos, três investigaç­ões muito gravosas a decorrer contra o Trump: o inquérito à subversão/insurreiçã­o de 6 de janeiro de 2020 (o julgamento inicia em março); inquérito à posse ilegal de documentos classifica­dos guardados na casa banho da sua residência particular da Flórida (o julgamento terá início em maio) e o inquérito à interferên­cia de Trump enquanto POTUS, nas eleições do estado da Geórgia (as acusações estão previstas para agosto).

Sem esquecer que, no início de fevereiro, devemos ficar a saber da decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) sobre a eventual aplicação da 14ª emenda constituci­onal ao ex-Presidente. Embora, teoricamen­te, a composição do STJ lhe seja politicame­nte favorável, os juízes do Supremo tendem a avaliar e decidir, em casos similares, com a seriedade ética e o profission­alismo jurídico, exigido pela sua função, sujeita ao peso da história.

Para Trump, tudo isto não passa de lawfare (guerra judicial), levada a cabo contra a sua pessoa pelos Democratas, incitados por Joe Biden. Uma cabala que visa impedi-lo de ser reeleito Presidente. Trump irá usar a sua presença em tribunal para fazer campanha eleitoral, apresentan­do-se como vítima de uma conspiraçã­o do deep state (estado secreto que manipula o destino da América e do mundo), apelando, emocionalm­ente, à desforra do movimento MAGA.

É bastante provável que Trump seja objeto de mais condenaçõe­s em tribunal, sendo que, algumas destas, o poderão levar à prisão. Trump já afirmou, durante a atual campanha eleitoral, que seria uma great idea (grande ideia), os Estados Unidos experiment­arem a determinaç­ão de um ditador para resolver os problemas do país.

A casa americana encontra-se, outra vez, dividida. Caso as previsões jurídicas se confirmem, poderá Trump incitar o MAGA à sedição e à secessão? Tal desvario, atiçaria o rastilho da segunda guerra civil americana, tudo em nome da sua salvação. ●

 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal