CUIDADO COM ESTES BICHOS
Picam, causam inchaço e podem ser letais. Falamos de aranhas, cobras, insetos e até de uma caravela-portuguesa. Conheça os cinco animais mais perigosos em Portugal.
Sentiu um formigueiro na perna esquerda, que subiu ao braço e alastrou-se à perna direita. As dores intensificaram-se de tal forma que o ator Jamie Dornan (célebre pelo filme As Cinquenta Sombras de Grey e com casa no Meco) teve de ser hospitalizado. Nunca pensou que uma descontraída partida de golfe, entre amigos, regada na véspera com vinho e martinis, numas férias em Portugal em 2023, terminasse assim. Na ocasião, não foi o único a ir parar ao hospital.
O amigo jornalista Gordon Smart, que o acompanhava, teve uma reação alérgica idêntica, temeu até sofrer de ataque cardíaco, pelo aumento dos batimentos, e acordou ligado às máquinas. O episódio foi revelado a 12 de janeiro pelo próprio Gordon Smart no podcast da BBC The Good, The Bad and The Unexpected (o bom, o mau e o inesperado). Mas afinal quem foi o vilão desta história? A lagarta-do-pinheiro. Além da irritação cutânea, provoca ardor, inchaço e vermelhidão, segundo o Centro de Informação Antivenenos (CIAV).
A SÁBADO explica-lhe como agir com esta e outras espécies, as mais perigosas em território nacional, com a ajuda de três especialistas: João Correia, biólogo marinho e fundador da consultora Flying Sharks; Joana C. Prata, médica veterinária, professora e investigadora de saúde ambiental e toxicologia no Instituto Universitário de Ciências da Saúde (CESPU); e Ana Castro Neves, imunoalergologista no Hospital Lusíadas. Não ignore os sintomas intensos, advertem, e procure assistência médica.
Lagarta-do-pinheiro
▶ Atenção golfistas: afastem-se das teias em pinheiros mansos, bravos e cedros. São sinais de presença deste inseto, que faz ninhos nas copas e desce pelos troncos em procissão, de janeiro a abril. À medida que se desloca, liberta pelos urticantes (como agulhas) que quando entram em contacto com a pele podem ser nocivos, consoante o nível de exposição. Pode ainda provocar dificuldades respiratórias e anafilaxia (pior reação alérgica). Nestas circunstâncias, a imunoalergologista Ana Castro Neves recomenda: “Retirar o vestuário, tomar banho e lavar a roupa a 60ºC ou mais, de forma a destruir a proteína que causa a alergia. Remover os pelos que possam ter ficado na pele (por exemplo com um adesivo). Lavar a pele e os olhos com água corrente; tomar anti-histamínico por via oral.”
Caravela-portuguesa
▶ No verão, há alguns banhistas que se aventuram com braçadas a 50 metros da costa. Por lá, é visível a caravela-portuguesa, medusa com este nome “pela superfície cilíndrica flutuadora, semelhante à vela de uma caravela portuguesa”, explica Ana Castro Neves. Os tentáculos chegam a atingir 20 metros e têm células urticantes (minipicos), sendo a mais perigosa das medusas por passar uma toxina para a corrente sanguínea, causar cicatrizes profundas, manchas vermelhas, congestão ocular e nasal, dor torácica. No limite, pode ser letal. “É fácil de detetá-la porque tem um saco com ar. Abunda nas águas açorianas, mas tem aparecido cada vez com mais frequência na costa oeste, como Baleal e Peniche”, diz João Correia. Em caso de picada, ligue para o 112, porque “se a extensão for grande, a pessoa pode entrar em choque anafilático [a pior reação alérgica] e morre”, alerta o biólogo. A área afetada deve ser lavada com água do mar (nunca água doce) e os tentáculos removidos com pinça.
Víbora com chifres
▶ Os adeptos de trilhos arriscam-se a cruzar-se com esta cobra ou com a víbora-de-seoane – ambas consideradas as mais perigosas do País. Apesar de não serem letais, ao morderem, os seus dentes libertam ve
AFASTE-SE LENTAMENTE E NÃO ESBRACEJE SE VIR UM ENXAME DE VESPAS-ASIÁTICAS
“A PESSOA PODE ENTRAR EM CHOQUE ANAFILÁTICO E MORRE”, DIZ O BIÓLOGO JOÃO CORREIA SOBRE A CARAVELA-PORTUGUESA
neno que pode provocar choque anafilático, sobretudo em pessoas com baixo peso. Após a mordedura, sente-se dor, náusea, alteração cardíaca e tensão baixa. A veterinária Joana C. Prata aconselha a “aplicar gelo no local ou evitar a circulação sanguínea da zona com garrote, para evitar a disseminação do veneno e reduzir a inflamação local”.
Aranha viúva-negra
▶ Parece inofensiva, mas ataca com veneno quando se sente ameaçada. Encontra-se com mais frequência em zonas rurais, ao longo do País. Convém não interagir com ela, mas se for picado, não se surpreenda com os espasmos musculares, a febre e a paralisia local. A veterinária Joana C. Prata diz que o efeito desaparece ao fim de uma semana: “O tratamento faz-se com relaxantes musculares para controlarem o efeito dos espasmos.”
Vespa-asiática
▶ Predadoras de abelhas, têm vindo a afetar as explorações de apicultores no País, desde 2011. Reagem em enxame, quando o ninho é ameaçado, e além de destruírem as produções de mel, podem picar as pessoas, inoculando “uma neurotoxina que pode causar choque anafilático nas mais sensíveis”, esclarece a médica Joana C. Prata. Resta manter a calma e “afastar-se lentamente, não esbracejar pois pode provocá-las”, acrescenta.
Para tratar da picada, deve-se “remover rapidamente o ferrão da pele e lavar a área com sabão e água, aplicar gelo para reduzir o inchaço, tomar anti-histamínicos ou analgésicos orais e procurar assistência médica se houver alteração da respiração ou do batimento cardíaco”. ●