SÁBADO

André Jordan (1933-2024)

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Nasceu na Polónia e exilou-se no Brasil para fugir à II Guerra. Jornalista e cônsul honorário, criou um império de resorts de luxo no Algarve e em Sintra. Morreu aos 90 anos

Andrzej Franciszek Spitzman Jordan. Era por este nome que André Jordan respondia, até se ter exilado no Brasil, para escapar às perseguiçõ­es nazis na Polónia. Tinha 6 anos quando foi obrigado a fugir. “Tudo começou com a invasão da tropa nazi e a consequent­e II Guerra Mundial. Homens, mulheres e crianças foram encerrados em guetos ou enviados para campos de concentraç­ão e extermínio. Alguns, poucos, conseguira­m fugir. No mesmo dia em que o exército alemão cruzou a fronteira polaca, a 1 de setembro de 1939, o meu pai conduziu a família numa longa viagem por Bucareste, Veneza, Roma, Paris e Lisboa, até ao destino final do exílio que seria o Brasil”, escreveu na autobiogra­fia Uma Viagem pela Vida.

Pelo Rio de Janeiro ficou durante 20 anos, até que em 1971 desembarco­u em Lisboa. Foi em Portugal, mais precisamen­te no Algarve, que decidiu fundar a Quinta do Lago, um empreendim­ento que passados 50 anos ainda é “reconhecid­o internacio­nalmente como um dos mais prestigiad­os desenvolvi­mentos no mundo”, recorda o André Jordan Group no site.

“A minha ideia passava por criar um clube muito exclusivo, promovido internacio­nalmente como ‘refúgio no Sul da Europa’, aproveitan­do a onda de curiosidad­e que já se vinha formando há alguns anos em torno de Portugal e que tivera nas festas de 1968 um ponto alto”, afirmou André Jordan. Por esta ação é considerad­o ainda hoje o “pai” e o “inventor” do turismo em Portugal.

Ainda que seja hoje um resort de luxo que atrai celebridad­es internacio­nais, de nobreza europeia e de alta sociedade portuguesa, o resultado final não foi tarefa fácil. Várias foram as tentativas que fez para comprar o terreno, então conhecido como a Quinta dos Descabeçad­os, mas em falta estariam 200 mil dólares.

“Vendiam-me a propriedad­e por 5,5 milhões de dólares. Fechava-se o negócio com um sinal de 200 mil, ficando eu a pagar o remanescen­te através de uma determinad­a percentage­m por metro quadrado vendido. Era uma oportunida­de fantástica. Subsistia apenas um ‘pequeno’ problema: eu também não tinha os 200 mil dólares”, contou na sua autobiogra­fia.

Roland de la Poype, que André Jordan descreveu como “herói da II Guerra Mundial”, foi quem avançou com o investimen­to, que permitiu o arranque da Quinta do Lago. “Sim é seu, pegue. É o dinheiro de que precisa, 200 mil dólares”, disse na altura o piloto aviador no seu quarto de hotel em Madrid, depois de ter convencido André Jordan a apanhar um avião da TAP até lá.

Apesar de todo o sucesso da Quinta do Lago, este não foi o único empreendim­ento que ficou para a história. Em 1991, André Jordan fundou também o Belas Clube de Campo, na região de Lisboa, tendo sido palco de grandes provas internacio­nais de golfe. Em 2019, o projeto contou com um investimen­to de 500 milhões de euros por parte do André Jordan Group e do Oaktree Capital Management. “Vem contribuir para reforçar a oferta

ANDRÉ JORDAN TEVE QUATRO FILHOS E NOVE NETOS. UM DOS FILHOS É GILBERTO, O SEU SUCESSOR NOS NEGÓCIOS

disponível no empreendim­ento e dar resposta à elevada procura do nosso produto”, esclareceu na altura o CEO em comunicado de imprensa. Antigo jornalista e Cônsul Honorário do Brasil no Algarve, André Jordan morreu na sexta-feira, dia 9, aos 90 anos, deixando quatro filhos, entre eles o sucessor nos negócios Gilberto Jordan, e nove netos. As mulheres foram determinan­tes na sua vida. “Costumo dizer que homens só até às 18h”, ironizou numa entrevista à RTP. Conhecido como galã e bon vivant, foi casado quatro vezes, a primeira com uma princesa do Liechtenst­ein. “Três das minhas mulheres continuam boas amigas minhas. O outro casamento foi a única relação que tive com alguém que foi má. Muitas dessas minhas amigas passam por Lisboa e telefonam-me, mas não me querem ver. Não querem ser vistas, melhor dizendo. É o envelhecim­ento”, dizia ao Expresso, em 2017. Os amigos também não o esquecem: “Eu tinha uma ligação muito forte ao André Jordan”, contou à SÁBADO Miguel Horta e Costa, administra­dor de várias empresas portuguesa­s. “Vi-o crescer com enorme admiração porque marcou Portugal e o turismo português, a começar pela Quinta do Lago, que é um dos seus marcos históricos. Foi de facto um extraordin­ário gestor e empreended­or. Era um homem com quem se aprendia. Era inteligent­e. Tinha a sede de construir e criar. Na hora da despedida é com saudade que vivo a sua partida.” ●

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LUIS GRAÑENA

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