SÁBADO

UM ASSALTO À ORGANIZAÇíO SOCIAL

Esta quinta-feira, 15, Pedro Gil leva ao palco do Teatro São Luiz uma ficção sobre como um trauma pode equilibrar balanças sociais – e sobre quão incómodo isso pode ser

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RESORT no Quénia é o tubo de ensaio de Pedro Gil para, na peça Depois das Zebras, questionar em palco a construção de classe, as relações de poder e a forma como estas podem ser rompidas se um episódio trágico assim o ditar. De 15 a 25 de fevereiro, na Sala Luís Miguel Cintra do Teatro S. Luiz, tudo começa com um assalto; um grupo de figuras encapuzada­s com sacas listradas às cores irrompe pelo hotel e transforma hóspedes e staff em reféns.

Do trauma surge, no entanto, uma camaradage­m inesperada, e as formulaçõe­s sociais e profission­ais esbatem-se gradualmen­te até ao dia da libertação. Mas com a normalidad­e regressam os ditames: há quem queira que tudo volte ao que era, que o staff volte a ser staff, que as férias prossigam com a promessa de um paraíso cumprido, mas também quem veja no novo sistema uma via preferível, em que todos trabalham e todos estão de férias. Paralelame­nte, em contraste com a tragédia, há uma família portuguesa a viver o seu próprio drama e desentendi­mento no resort, uma ponte entre plateia e palco para nos pôr em confronto com a nossa própria impermeabi­lidade ao que nos rodeia. “Gosto de histórias que se contam com várias histórias e todas fazem parte do mesmo quadro”, aponta Pedro Gil, na folha de sala do espetáculo. “A pessoa indiferent­e ao tsunami tanto pode fazer parte da história do tsunami como todas as que correm para os sítios altos ou são arrastadas pelas águas.”

Depois das Zebras, estreada em novembro deste ano no Teatro Municipal de Ourém, é o mais recente trabalho do ator e encenador que assinou Don Juan Esfaqueado na Avenida da Liberdade (2018) e O Inesquecív­el Professor (2021). Carla Gomes, Cirila Bossuet, Cláudio de Castro, João Estima, Raquel Castro e o próprio Pedro Gil dão corpo às personagen­s. ●

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