SÁBADO

DA ESCOLA DE SUPERPODER­ES AOS PESCADORES DE SONHOS

COM O APOIO DO PRÉMIO AGIR, DA REN, AS ASSOCIAÇÕE­S TRANSFORME­RS E APEXA LANÇARAM PROJETOS PARA COMBATER O ABANDONO ESCOLAR E PROMOVER A INTEGRAÇÃO SOCIAL DE CENTENAS DE CRIANÇAS E JOVENS EM TODO O PAÍS.

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Ahistória do Movimento Transforme­rs começa em 2010 quando João Brites, campeão nacional de natação, decidiu seguir o sonho de aprender a dançar break dance e se juntou a grupos informais de dança no seu bairro em Palmela. “Foi aí que o João percebeu o poder da dança e de outras atividades comunitári­as para promover a integração social e prevenir comportame­ntos delinquent­es”, recorda Joana Moreira, atual diretora-executiva do Movimento. Foi assim que nasceu a primeira associação do Movimento Transforme­rs e assim nasceram as “Escolas de Superpoder­es”, projeto que em 2020 ganhou o Prémio AGIR da REN. E o que é que se aprende nas Escolas de Superpoder­es? Quase sempre atividades ligadas a arte e ao desporto, mas sobretudo valores e competênci­as sociais. Joana Moreira explica: “São os jovens que escolhem aquilo que querem aprender, com outros jovens, que são voluntário­s. São atividades ligadas ao desporto e as artes como dança, patinagem, poesia, basquetebo­l, parkour, grafiti, música. Mas que têm sempre associados temas que são trabalhado­s em conjunto com a atividade, como o bullying, o racismo, a igualdade de género, e a consciênci­a ambiental.”

DE APRENDIZ A MENTOR

Ou seja, segundo Joana Moreira, “as Escolas de Superpoder­es são um programa que tem como missão aumentar o envolvimen­to dos jovens nas suas comunidade­s através daquilo que eles mais gostam de fazer”. A sua metodologi­a, “através da transmissã­o de talentos, capacita aprendizes (crianças e jovens em risco de exclusão social) para serem cidadãos mais ativos e participat­ivos, e para perceberem que, independen­temente do contexto onde crescemos, podemos todos, sem exceção, ser exemplos positivos”, explica a responsáve­l. Neste contexto, o Movimento Transforme­rs quer formar “cidadãos mais consciente­s e integrados, e que se tornem, por sua vez, mentores do movimento, transmitin­do o que aprenderam a outros jovens”, explica. No ano letivo de 2023/2024, as Escolas de Superpoder­es contam com 23% de mentores que foram aprendizes do movimento.

METODOLOGI­A REDUZ RETENÇÃO ESCOLAR

A distinção com o Prémio AGIR em 2020 foi fundamenta­l para expandir a atividade do movimento a mais cidades e a mais jovens e para validar a metodologi­a seguida. O Movimento Transforme­rs tornou-se nacional e ganhou em impacto, trabalhand­o com escolas, centros de acolhiment­o e projetos comunitári­os. Segundo a Associação, em treze anos foram envolvidos quase 5 mil aprendizes e mais de 800 mentores em 49 cidades. Um estudo de impacto social, feito pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universida­de do Porto, mostra que depois da aplicação da metodologi­a transforme­r, a retenção escolar foi reduzida em 44.3%.

COMBATE AO ABANDONO ESCOLAR

A promoção do sucesso escolar é também o grande objetivo do projeto Pescador de Sonhos, que nasceu em bairros mais problemáti­cos de Albufeira, no Algarve. Promovido pela APEXA (Associação de Apoio à Pessoa Excecional do Algarve), o projeto foi distinguid­o com o Premio AGIR em 2020. Segundo Nuno Neto, responsáve­l pelas relações externas da associação, “este concelho e a região têm ín

dices preocupant­es de criminalid­ade juvenil e de abandono escolar, o que tem muito a ver com as caracterís­ticas de alguma da indústria do turismo, que promove a informalid­ade, a precarieda­de e a sazonalida­de”.

CONDIÇÕES PARA ESTUDAR

Neste contexto, a APEXA, no âmbito do seu trabalho social normal com pessoas com deficiênci­a e em situação de vulnerabil­idade, percebeu a necessidad­e de promover o sucesso e reforçar o combate ao abandono escolar. “Foi assim que surgiu a ideia de nos candidatar­mos ao Prémio AGIR com um projeto focado no combate ao insucesso escolar, através da disponibil­ização de apoio ao estudo e de ações de sensibiliz­ação para prevenir comportame­ntos de risco, apostando na participaç­ão das famílias”, explica Nuno Neto. A eclosão da pandemia, com a suspensão das atividades presenciai­s tornou ainda mais critico o projeto, num contexto de isolamento social. “O projeto abrangeu quase 200 jovens e teve um impacto muito positivo num conjunto significat­ivo destes jovens, que não tinham, à partida, grandes perspetiva­s de terminar o secundário”.

CONTEXTO SOCIAL DIFÍCIL

O trabalho dos Pescadores de Sonhos decorre num contexto social particular­mente difícil “em bairros onde vivem muitas nacionalid­ades, pessoas recém-chegadas, e minorias étnicas, em condições sociais que dificultam o estudo e desincenti­vam o sucesso escolar“, afirma Nuno Neto. “Quando temos uma família de cinco a viver num TO onde está o espaço ou as condições para estudar e fazer os trabalhos de casa?”, pergunta o responsáve­l. Este contexto “tornou particular­mente importante a vertente de apoio social que o projeto também tem, em parceria com outras entidades, com donativos, distribuiç­ão de alimentos e roupas, etc.” Refira-se que a APEXA é uma IPSS fundada em 2003 por pais de crianças com deficiênci­a e o apoio a estas crianças continua a ser a sua atividade principal, com estruturas físicas em Albufeira, Silves e Lagoa e utentes em oito concelhos do Algarve.

MAIS VENCEDORES

Estes são dois exemplos do impacto do Prémio AGIR, criado pela REN – Redes Energética­s Nacionais – para apoiar projetos inovadores que respondam a problemas sociais em Portugal. Em dez anos, o prémio já apoiou 30 projetos em temas tão diversos como o combate à pobreza e exclusão social, a inserção laboral de pessoas com deficiênci­a, a preservaçã­o do património natural, e o combate ao abandono escolar, que impactaram mais de 20 mil pessoas. Os vencedores da edição de 2023, dedicada a projetos que visam cumprir os Objetivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l das Nações Unidas para 2030, serão conhecidos na próxima semana.

“O projeto abrangeu quase 200 jovens e teve um impacto muito positivo num conjunto significat­ivo destes jovens, que não tinham, à partida, grandes perspetiva­s de terminar o secundário.

NUNO NETO RESPONSÁVE­L DE RELAÇÕES EXTERNAS, APEXA

“As Escolas de Superpoder­es são um programa que tem como missão aumentar o envolvimen­to dos jovens nas suas comunidade­s através daquilo que eles mais gostam de fazer.

JOANA MOREIRA DIRETORA-EXECUTIVA, MOVIMENTO TRANSFORME­RS

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